É um mistério que intriga-nos desde tempos imemoriais. De José da Bíblia a Shakespeare, o sonho ocupa lugar de destaque na nossa imaginação e curiosidade. Estranho, premonitório, portador de significados mais ou menos ocultos, outro lado da nossa experiência acordada, afinal, como entendê-lo? O que ele quer trazer? Informar? Lembrar? Indicar? Prevenir?

Compreender os sonhos sempre moveu paixões. A questão que poderíamos colocar é a seguinte: é possível compreendê-lo? Digo, compreendê-lo empregando as ferramentas da razão? Como janela aberta para as realidades espirituais - transcendentes em relação à compreensão humana das coisas -, ele se mostra refratário ao olhar explicativo. Impossível, então, investigá-lo? Não. Basta desenvolver uma abordagem perspicaz que, sem buscar a lógica dentro da falta de lógica, assuma a linguagem apresentada como outra, diferente das usualmente empregadas. Uma linguagem que carrega a marca das coisas espirituais.

Minha intuição indica que não é preciso interpretar os sonhos, encontrar distorções elaboradas pelos processos do nosso aparelho psíquico. O sonho, livre de qualquer dinâmica profunda das emoções do sonhador, está apresentando dramas da vida espiritual. Entendo que ele, com sua incoerência - para nós nessa dimensão de compreensão à qual estamos presos -, serve como preparação para as aventuras que nos aguardam na transcendência.

Essa possibilidade engrandece e valoriza sua força. Exige que nossa atenção se espalhe com cuidado e dedicação, que nosso esforço se redobre para que possamos vislumbrar os sinais (infelizmente embaçados e fracos) daquilo que nos espera. Como o ensino básico prenuncia as possibilidades que só poderiam ser expressas na Universidade, o sonho apresenta em escala reduzida, simplificada pedagogicamente, a cartilha das situações e imagens que nos aguardam ali do outro lado do círculo de reorganização espiritual por qual passaremos.