Ao longo dos últimos 20 anos, milhares de brasileiros descendentes de japoneses fizeram o caminho inverso dos antepassados e viajaram para o outro lado do mundo em busca de emprego e oportunidades: são os chamados dekasseguis. Hoje, em um momento diferente da economia, muitos deles querem voltar ao Brasil para investir o fruto do trabalho na terra natal.

A aventura de Sérgio Hideo Molicawa começou aos 18 anos de idade, quando ele deixou o Brasil para trabalhar no Japão. No início da década de 1990, tentar a vida no oriente era uma escolha comum para os brasileiros filhos ou netos de japoneses. “Tinha muitos amigos e parentes que estavam indo para lá. E eles me incentivavam bastante, mas eu fiquei um ano protelando isso até que chegou um tempo que eu decidi ir”, conta.

No Japão, Sérgio passou metade da vida. Trabalhando mais de 12 horas por dia, acumulou dinheiro, viajou, conheceu parte do mundo, formou família. Mas em 2009, com a crise econômica mundial, a terra do sol nascente se tornou menos atrativa. E o dekassegui decidiu lutar por um desejo antigo.

Com as economias, Sérgio montou um espaço de recreação. Ele se orgulha em dizer que montou parte da estrutura com as próprias mãos. E em dois anos de trabalho, já soma bons resultados. “Não me arrependo. A vida é correr risco, quem não corre risco não vive”, comenta.

O trabalho dos dekasseguis também ajuda a movimentar a economia no Brasil. A estimativa é de que R$ 500 milhões sejam enviados todos os anos ao país por brasileiros que trabalham no Japão. Quem decide voltar à terra natal para investir também gera emprego e renda. Só em Mato Grosso do Sul existem cerca de 250 empresas abertas com dinheiro de quem já trabalhou no arquipélago.

As tragédias recentes no Japão impulsionaram ainda mais este movimento, já que o Brasil vive um momento promissor na economia. O consultor Múcio Marinho explica que apesar de cautelosos, muitos dekasseguis devem voltar nos próximos anos trazendo dinheiro e desenvolvimento. “Quando eles começarem a identificar oportunidades de investir no setor de serviços e comércio, podem gerar mais empregos e desenvolver a economia”, diz.

O dekassegui Nicson Cesar Dantas Ribeiro percebeu há poucos meses que o Japão de onze anos atrás não é o mesmo de hoje. “A demanda era tanta que você escolhia serviço. Eles pegavam você pela sua força, não precisava falar nada porque tinha tradutores na fábrica. Hoje está bem mais seletivo, precisa saber falar, ter carteira, ter a própria casa”, relata.

O empreendedor não teve dúvida e voltou a terra natal para tentar uma vida nova. Os brinquedos da empresa de festas já foram comprados. No próximo mês, Nicson vai inaugurar o novo negócio. “Meu sucesso vai ser gerado aqui, onde eu nasci e tenho minha família. É aqui que eu quero alcançar os meus sonhos”, conta Nicson.