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Juliano encontra máquinas fotográficas até no lixo e criou coleção de relíquias


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  • mell280

19/07/2017 06h19

Juliano encontra máquinas fotográficas até no lixo e criou coleção de relíquias

A mais antiga tem nada menos que 91 anos de história e agora está segura nas prateleiras do funcionário público

Eduardo Fregatto


 Sem nem saber, muita gente é capaz de jogar verdadeiras relíquias dentro do lixo. Por sorte, aqui em Campo Grande, o funcionário público Juliano Batista Martins, de 32 anos, vem recolhendo esses objetos históricos e está montando uma coleção de máquinas fotográficas antigas, de quando o modo de funcionamento ainda era o analógico, e não o digital.

Ele não sabe o número exato de máquinas que já tem na sua estante, especialmente montada para receber os objetos, mas chuta que devem ser mais de 55. "Eu não gosto de contar. Eu sou cristão. Tem uma passagem na Bíblia que fala, não lembro se foi com Davi, mas diz que quando ele contou seu rebanho, ele perdeu tudo", explica. Nós, do Lado B, também nem nos atrevemos a contar, para não colocar a perder todo o esforço de Juliano.

Na coleção, a máquina mais antiga data de 1926. Para um objeto que atravessou 91 anos de história, está bastante conservada. Tem um formato curioso. Pode ser fechada, como uma pequena bolsa feminina na cor marrom. Quando aberta, a lente é estendida. "Paguei R$ 50,00. Tenho um carinho muito grande por ela, daqui a 10 anos vai se tornar centenária", destaca Juliano.

Essa é a lambe-lambe, construída pelo próprio colecionador.Essa é a lambe-lambe, construída pelo próprio colecionador.

Todas as décadas, até os anos 90 - quando o analógico começou a perder força com a chegada as digitais -, estão representadas no acervo. Tem câmera subaquática, descartável, das marcas Canon, Nikon, Olympus, Kodak Instamatic, câmeras box (antigamente populares na Europa), câmeras que carregam com energia solar, entre tantos outros achados.

A maioria delas ainda funciona e de vez em quando são usadas por Juliano e sua família. A esposa, Fabiane, e o filho de 12 anos dão a maior força, inclusive, cada um tem sua câmera antiga favorita. É Juliano mesmo quem conserta as que chegam estragadas. Se for algo muito complexo, manda para o especialista. Para conservá-las, todo dia vai até o cantinho construído especialmente para a prateleira da coleção e limpa cada peça. Também passa óleo nas partes internas. "É tudo mecânico, tem mola, alavanca lá dentro. É preciso ter cuidado", ressalta.

Uma das máquinas que ele mais se orgulha de ter conseguido é uma câmera de 1949, criada pelo italiano Officine Galileo. Estava sendo vendida como item de decoração por preço irrisório. "Eu gosto muito dessa. Esse Officine era um italiano que produzia binóculos e outros itens para a guerra. Depois que a guerra acabou, ele não sabia mais o que fazer e veio a ideia de criar câmeras", explica. "Eu sei a história por trás de cada câmera que está aqui. Cada uma representa algo", define.

Além de encontrar nos lixos e sucatas, o colecionador também recebe muitas doações. "Começou a aparecer. As pessoas sabem que coleciono, e me procuram. Geralmente pago R$ 20, R$ 30, ou são doadas mesmo". Outras ele compra, seja por internet ou pessoalmente. "Tem algumas que eu vou atrás, que eu quero muito ter", diz, apontando uma Mamiya 345, de médio formato, que vale até R$ 2500,00, mas comprou por R$ 300,00.

A câmera mais antiga que Juliano conseguiu, uma Agfa de 1926.A câmera mais antiga que Juliano conseguiu, uma Agfa de 1926.

Dentro dessas câmeras, muitas vezes vem um filme usado. Ele já revelou fotos de um trio viajando pela Espanha, por exemplo. Tenta desvendar o contexto de cada fotografia e vidas que passaram pelos filmes. Postou no Facebook as imagens, atrás dos antigos donos, mas não os encontrou. "Meu sonho ainda é achar uma câmera com fotos de alguém que foi famoso ou muito importante. É muito comum isso, fotos históricas serem encontradas em filmes de câmeras antigas perdidas por aí".

Início - A paixão pela fotografia sempre existiu, desde criança, e foi despertada novamente quando Juliano comprou uma câmera há cerca de 7 anos atrás. Depois, veio aquela nostalgia de querer voltar aos tempos de revelar filme de câmera analógica. Comprou uma Yashica FX3 Super 2000, de 1986, e assim começou a coleção. "A gente começou a lembrar de como era gostoso antigamente", explica, sem esconder o fascínio pelo o que é antigo.

"Na câmera digital, numa festa, você bate até 700 fotos. Na analógica, são no máximo 36 fotos. Cada clique você tem que pensar muito, planejar direito, ver se compensa", destaca, mas sem desmerecer a era digital. Afinal, Juliano também tira fotos em festas de amigos e familiares, com sua máquina digital. Mas apenas como hobby. "Se virar profissão, acho que vai perder a graça", pontua.

Lambe-lambe - Sabe aquelas máquinas antigas, num formato de caixote, em que o fotógrafo precisava entrar debaixo de um pano preto pra bater a fotografia, que ficava pronta na hora? Eram as famosas lambe-lambe, que datam do início dos século XX e se popularizaram no Brasil anos 60 e 70. Aqui, atualmente, é uma raridade. Mas em países como Afeganistão, ainda são utilizadas.

Juliano descobriu um site com orientações para se construir uma lambe-lambe, novinha em folha. E conseguiu, depois de 1 ano de trabalho. A máquina está pronta e até funciona. Só falta, agora, conseguir o papel sensível, necessário para revelar as imagens. "Estou tentando ver se compro por eBay, no exterior", explica. "Quero ir para a Praça com ela, ver a reação das pessoas, mostrar que está funcionando, que tira fotos", planeja Juliano.

Ele tem uma conta no Instagram (@juliano144) onde, entre outras coisas, publica fotos tiradas com suas máquinas analógicas. Também iniciou um canal de youtube sobre o assunto (Mundo Analógico). E, no final, fica o apelo: se você tem uma máquina antiga que está jogada em alguma gaveta, ou pretende descartar alguma, doe para a coleção do campo-grandense! O contato dele é 9-9213-8415.






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