PUBLICIDADE

Em posts e projetos de lei: pelo que lutava Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio


PUBLICIDADE

16/03/2018 11h10

Em posts e projetos de lei: pelo que lutava Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio

O Estadão


 Morta com quatro tiros na cabeça nesta quarta-feira, a vereadora do PSOL Marielle Franco, de 38 anos, expunha nas redes sociais sua luta contra o racismo e a violência, em especial contra jovens e mulheres.

Crítica da intervenção militar no Rio de Janeiro, denunciava os abusos da polícia. Um dia antes de ser assassinada, a vereadora questionou ações da PM.

Nascida e criada na Maré, Marielle também defendia a visibilidade lésbica - tema que lhe motivou a apresentar um projeto de lei na Câmara do Rio -, o acesso à educação e à saúde de qualidade.

No Twitter, Marielle explicou porque concentrava seus ataques contra a violência policial e miliciana, mas não criticava traficantes. "Do tráfico não se cobra a lei e o respeito. Eu cobro essa postura é do Estado". E ainda insinuou, em setembro do ano passado, que havia traficantes em apartamentos de luxo em Brasília e no Leblon.

Também mostrou indignação pelo fato de um tiroteio na Zona Sul do Rio que durou três horas ter tido mais destaque na mídia que seis meses de confrontos diários entre polícia e traficantes na Rocinha. "Onde mora sua comoção?", questionou.

 

 

Do tráfico não se cobra a lei e o respeito. Eu cobro essa postura é do Estado. Cobro dos Agentes de Segurança Pública RESPEITO ÀS FAVELAS!!!

 

 

 

: Veloso (chefe da polícia civil) propõe "Lava Jato do tráfico". Pode começar a investigar pelas coberturas do Leblon, Brasília,...

 

Tragédia pessoal

A própria Marielle revelou que foi uma tragédia pessoal que a transformou em ativista social.

'Iniciei minha militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré', disse, num texto em primeira pessoa em sua página na internet.

Nascida e criada na Maré, Marielle se formou em Ciências Sociais pela PUC-Rio, onde foi bolsista, e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense. Em 2006, fez campanha para Marcelo Freixo, que disputou e ganhou uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio como representante do PSOL.

O amigo Pedro Strozenberg, que conheceu Marielle nessa campanha e depois trabalhou junto com ela no gabinete de Freixo, conta que, na Assembleia, ela cuidava da agenda de temas ligados à questões raciais, de mulher e favelas. "Ela sempre esteve envolvida e dedicada à defesa e garantia dos direitos humanos", diz.

Marcelo Freixo com Marielle Franco: Marielle foi da equipe de Marcelo Freixo antes de se lançar candidata | Foto: Facebook/Marielle Franco© BBC Marielle foi da equipe de Marcelo Freixo antes de se lançar candidata | Foto: Facebook/Marielle Franco

Atrevimento

Mas para Strozenberg, concorrer a um cargo eletivo não era um caminho necessariamente natural para Marielle, apesar de toda a militância e empenho com as causas sociais. Ele diz que uma das principais características da vereadora sempre foi o "atrevimento".

"(Ser vereadora) não era um desejo natural. Foi um ato corajoso. Um atrevimento. Ela sempre foi em busca de lugares não tradicionais", avalia o amigo.

Eleita vereadora em 2016, ela continuou defendendo os direitos das mulheres, combatendo o preconceito e a violência na Câmara do Rio. Mas também diversificou a pauta.

"Muitos se ressentiram que a Marielle mudou. Mas, para mim, ela desabrochou e passou a defender temas distintos de forma exuberante", diz o amigo, ponderando que ela nunca deixou de reafirmar que era "uma pessoa da favela, homossexual e que passou a vida rompendo barreiras invisíveis".

Um mês e meio depois de assumir o cargo de vereadora, ela comemorou o primeiro projeto de lei que apresentou na Câmara de Vereadores do Rio. A proposta prevê tratamento humanizado para as mulheres que conquistam na Justiça o direito de abortar. "Mais da metade das mulheres que tentam fazer o aborto legal não conseguem. Só UMA maternidade atende no Rio. E mts médicos se negam (sic)", escreveu.

Marielle Franco em debate na Câmara sobre Violência contra mulheres em 3 de maio de 2017: Na Câmara do Rio, continuou defendendo as mulheres, mas diversificou a pauta de atuação | Foto: Renan Olaz/CMRJ© BBC Na Câmara do Rio, continuou defendendo as mulheres, mas diversificou a pauta de atuação | Foto: Renan Olaz/CMRJ

Dos 16 projetos de lei que apresentou, oito eram individuais e a outra metade assinou com colegas da Câmara do Rio.

Um deles, que apresentou sozinha, propunha instituir o "dia da luta contra a homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia" no calendário do Rio e o "dia da visibilidade lésbica". Também propôs incluir o "dia da mulher negra".

Uma outra proposta da vereadora previa incluir cartazes em lugares visíveis nos serviços públicos de atendimento às mulheres, informando dos direitos das vítimas de violência sexual.

Junto com colegas, ampliou a área de atuação, propondo, entre outras leis, a que cria o programa de desenvolvimento da cultura do funk tradicional carioca e garante assistência técnica gratuita para projeto e construção de habitação para famílias de baixa renda.

No Twitter, ela se colocou contra o aumento do IPTU no Rio e também comemorou o dia em que a Câmara conseguiu barrar a aprovação do projeto de lei para armar a Guarda Municipal. "Bala de borracha, bombas de gás e efeito moral, armas de choque podem sim ser letais!", escreveu no Twitter

 

Mas estamos tentando evitar o pior. Estamos nos mobilizando p/ impedir uma emenda q pode permitir armas letais aos guardas no futuro.

 

CONSEGUIMOS! Barramos a emenda que poderia permitir a Guarda Municipal usar armas de fogo no Rio!

 

Dois dos projetos que assinou em conjunto com colegas de plenário foram aprovados e se tornaram lei: um sobre a regulação de mototaxis, importante meio de transporte em favelas, e outro sobre contratos da prefeitura com organizações sociais de saúde, alvos frequentes de investigações sobre corrupção.

Marielle era presidente da Comissão Permanente de Defesa da Mulher e, em fevereiro, foi escalada para representar a Câmara do Rio em Brasília, para acompanhar a Intervenção Federal na Segurança Pública no Estado fluminense.

 




PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
  • academia374
  • Nelson Dias12
PUBLICIDADE