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Depois de dois anos em casas condenadas, moradores se recusam a abandoná-las


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25/04/2018 07h36

Depois de dois anos em casas condenadas, moradores se recusam a abandoná-las

Por LUANA RODRIGUES


 “Quando nós mudamos, tivemos que ficar em barracos. Era uma lama só, perdemos muita coisa. Depois construíram a casa, mas estava crua. Não tinha piso, as telhas estavam soltas, não tinha tomada, não tinha nada”. 

 
O cenário que lembra a música “A Casa”, de Vinicius de Moraes, é contado por Ligia Vitório, 25 anos, ex-moradora da Cidade de Deus, e foi enfrentado por 42 famílias em 2016, quando elas foram removidas da favela e alojadas pela prefeitura no bairro Vespasiano Martins.  
 
Na época, como não havia condições de viver nos imóveis ‘erguidos’ pela Morhar Organização Social, a maioria dos moradores investiu em reformas. Não bastasse o desperdício de dinheiro público, já que a ONG recebeu R$ 2,7 milhões dos R$ 3,6 milhões previstos para construir 326 casas em quatro bairros (Vespasiano, Canguru, Pedro Teruel e Bom Retiro), teve morador que gastou mais de R$ 12 mil para recuperar a moradia. 
 
Mais dinheiro jogado fora, já que agora a própria prefeitura disse que vai demolir as casas, condenadas porque o terreno do local é úmido e aflorante. 
 
“Foram mais de R$ 12 mil. Meu marido contratou um pedreiro e começamos a reformar. Ele também colocava a mão na massa. Aumentamos a sala e a cozinha, e ainda construímos um quarto, tudo pra dar conforto para nossos filhos. Depois que nós gastamos tudo isso eles querem derrubar? nós não vamos sair.
 
Eu não vou para um apartamento com três crianças. Entendo o risco, mas acho que aqui é muito melhor para eles ”, diz Ligia, que vive em uma das casas com o marido e três filhos pequenos.
 
A mesma situação é enfrentada por Stefany Nascimento, de 26 anos. Segundo ela, a casa onde vive coma  família foi totalmente reformada pelo sogro e hoje já não apresenta problemas. “Quando nós chegamos aqui foi muito sofrido, ficamos embaixo de lona. Eu não vou voltar para aquela situação. Se for para ir para um lugar melhor, eu aceito. Mas para aquela situação eu não volto”, diz.
 
CONDENADAS
 
Conforme mostrou o Correio do Estado no último dia 20, laudo técnico apontou que o lençol freático do terreno onde as casas foram construídas é aflorante, o que coloca em risco a vida das pessoas. 
 
Uma solução seria rebaixamento da área, o que dispensaria muito mais recursos do que remover as famílias para outro lugar, segundo a Agência Municipal de Habitação (Emha). Sendo assim, as famílias serão removidas, no entanto, data e o local para onde serão levadas ainda não estão definidos. 
 
A área para a construção das casas que agora serão destruídas foi destinada pela prefeitura, cuja gestão da época é investigada pelo Ministério Público Estadual por improbidade administrativa. Os imóveis foram construídos pela Morhar, que recebeu R$ 2,7 milhões pela obra.
 
 
“Se a obra for comprovadamente paga e não executada, deverão sim, responder a processo administrativo e após isso, poderá acarretar em ação judicial”, informou a Emha, que também tem investigado a situação por meio de uma medida alternativa chamada ‘tomada de contas especial’.
 
A organização é investigada pelo MPE, pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e Ministério Público Federal (MPF).
 
 
 




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