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Ator coleciona reclamações de amor após 4 meses ouvindo histórias na rua


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13/08/2019 09h27

Ator coleciona reclamações de amor após 4 meses ouvindo histórias na rua

Desempregado, ele decidiu criar uma peça com histórias de pessoas anônimas que passam diariamente pelas ruas de Campo Grande.

Thailla Torres


 Aos 20 anos, desempregado, Febraro de Oliveira percorre as ruas de Campo Grande cantando uma canção de Heitor Villa-Lobos, chamada Melodia Sentimental, até encontrar um banco para posicionar o seu cavalete com o aviso: “Reclama o teu amor aqui”. Sentando ele fica durante quatro horas, ouve histórias e o reclamar de quem passa.

O projeto iniciou há quatro meses e virou dramaturgia nas mãos do jovem ator. “Eu tinha apenas um cofrinho e precisava entrar em cena. Agoniado com muita coisa acontecendo com o mundo dormi e acordei no outro dia decidido a escrever uma peça”, lembra, Febraro.

As palavras pareciam solitárias no papel, por isso, o ator decidiu abriu mão de contemplar apenas o ‘eu’ e ir às ruas para falar do ‘outro’ e de ‘nós’. “Peguei o único dinheiro que tinha no meu cofre e fui comprar um cavalete. Cheguei na Praça Ary Coelho e entrei em desespero, porque achei que não iria ninguém”.

No primeiro instante, as pessoas olham desconfiadas. Febraro não se importa. Sentado ele fica sem chamar ninguém, às vezes, aproveita o tempo livre para ler um livro e escutar uma música. Na primeira meia hora, ninguém aparece. Depois, chove histórias.

“Depois de um tempo é uma pessoa atrás da outra. Já no primeiro dia, haviam quatro pessoas conversando e eu nem precisava abrir a boca, já que elas estavam dialogando entre si. Eu também não estou ali para dar conselhos, mas para ouvir as histórias que só existem quando são contadas ou lembradas”.

Febraro ouviu e dançou com pessoas na rua durante performances. .

Algumas histórias são inevitavelmente marcantes. Como a de Gabrielly, uma prostituta que narra os sonhos em uma fala potente.

“Eu... eu queria ser bailarina, sabe? Eu acho isso me dá vontade de chorar. Porque... eu já tô velha, né? Os... os meus braços não são, não são, de... de bailarina, os pés também, meu pé... ele, ele é duro, cortado, é feio. Eu... eu acho que... eu... isso pode me fazer chorar, menino. Eu queria dançar mais um pouco. Ter chance de dançar. Tem uma música que eu adoro. Eu ouvi ela algumas vezes, é... eu não... eu não vou me lembrar, é... “sabe... será que ela... é moça... será que é...” é algo assim, eu acho que é algo assim... é uma música bonita. Eu tenho medo, às vezes, sabe? De sonhar, sabe? Sonhar... é difícil. Difícil”.

 




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