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Jornalista de MS traduz em livro a personalidade de 'Santa Dulce dos Pobres'


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17/09/2019 08h25 - Atualizado em 17/09/2019 09h30

Jornalista de MS traduz em livro a personalidade de 'Santa Dulce dos Pobres'

Formado pela UFMS, Graciliano Rocha já fez parte da equipe do Campo Grande News e lança obra nesta noite, em SP

Marta Ferreira


 No dia 22 de maio de 2011, o jornalista Graciliano Rocha teve um daqueles insights que fazem a gente se dedicar a um projeto, uma ideia. Cobria, para a Folha de S.Paulo, a missa de beatificação de Irmã Dulce, em Salvador, na Bahia. Na terra de todos os santos, viu 70 mil pessoas celebrarem a beatificação de quem já era, para o povo, santificada.

Fascinado pelo personagem, popular entre gente pobre e também entre poderosos e abastados, decidiu pesquisar a vida de Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, nome de batismo da freira, e mostrar como ela se transformou em ”Santa Dulce dos Pobres", como está prestes a ser canonizada, em outubro deste ano. Mais de três mil dias depois, ou oito anos, está nas livrarias desde agosto e vai ser lançado nesta noite, em São Paulo, “Irmã Dulce, a Santa dos Pobres”, pela editora Planeta.

E por quê interessa a um jornal de Mato Grosso do Sul, focado em notícia regional, falar dessa obra? Porque Graciliano, 42 anos, embora seja paulista e já tenha trabalhado no Rio Grande do Sul, na Bahia, em São Paulo, no México e na França, se identifica como “jornalista de MS”. Ele se formou na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e, por mais de uma temporada, fez parte da equipe do Campo Grande News. Hoje editor de notícias no Buzzfeed, em São Paulo, ao falar de sua trajetória, sempre cita os tempos de faculdade e de trabalho em Ponta Porã e Dourados, além de Campo Grande.

“Eu devo muito na minha carreira ao tempo que trabalhei na imprensa regional de MS”, diz. “A universidade e o convívio foram muito importantes”, resume, depois de citar profissionais surgidos por aqui, tidos como referência, entre eles Rubens Valente, ganhador do prêmio Esso e autor de dois livros, “Operação Banqueiro” e os “Fuzis e as Flechas”.

Ainda sem planos de lançamento do livro em terras sul-mato-grossenses, Graciliano afirma que seria muito bom mostrar o resultado ao Estado onde surgiu para o jornalismo.

 
Livro já está disponível desde agosto nas livrarias. (Foto: Divulgação)Livro já está disponível desde agosto nas livrarias. (Foto: Divulgação)

Coincidência ou “mão de Dulce” – Este texto está indo ao ar quando o livro “Irmã Dulce, a Santa dos Pobres” já recebeu críticas bem fundamentadas, e positivas, de veículos como o Estado de S. Paulo e a revista Veja, na qual a biografia foi classificada como a mais completa já realizada sobre  a religiosa, falecida em 1992. O autor conta ter dado o livro como encerrado em abril deste ano. “Em maio, o papa anunciou a canonização”, cita.

O jornalista coloca na conta da coincidência o timing perfeito para colocar o livro nas ruas. “Mas tem gente que conversa comigo e acredita que tem a “mão” dela”, revela. 

Em torno de cem pessoas foram entrevistadas para traçar o perfil de Irmã Dulce. Há nomes como do ex-presidente da República José Sarney, um dos últimos a falar, só neste ano, e que tinha a religiosa em alta conta. Escritor brasileiro mais conhecido fora do País, Paulo Coelho também deu seu testemunho, sobre como um bilhete de Irmã Dulce, em tempos de desespero, garantiu a viagem para o Rio de Janeiro.

Personagem complexa - Conversar com Graciliano Rocha sobre a obra é perceber o esforço de ir além da religião e mostrar outros aspectos da mulher de origem na classe média que destinou a vida a cuidar de quem precisava. O personagem traduzido em palavras é forte e empreendedor, em contraste ao aspecto frágil. “Cabe frisar: antes da Constituição de 1988, quando o SUS foi criado, só recebia atendimento público quem tinha carteira assinada”, lembra o jornalista, para dar a dimensão da importância do atendimento médico oferecido pela instituição mantida pela freira.

Documentos foram pesquisados no Brasil, nos Estados Unidos e também na Itália. Espécie de banco de dados foi criada para organizar tanta informação.

Entre pesquisa documental e entrevistas, há episódios curiosos. Lá por 2012, o jornalista queria localizar alguém para contar sobre abaixo-assinado feito por mulheres baianas contra a prisão, durante a ditatura, do médico Gerson Mascarenhas, que dividia a atuação no consultório de ginecologia e obstetrícia com o trabalho voluntário no hospital de Irmã Dulce. 

Com as listas de papel em desuso, foi folheando uma delas que apareceu o telefone de Maria Angélica Bahia Koellreutter, pianista de origem alemã e uma das pacientes do Doutor Gerson. “Quando liguei, ela atendeu e me forneceu informações sobre o médico”, detalha.

Quando se fala na religiosa, é rotineiro aparecer a comparação com Madre Teresa de Calcutá, albanesa naturalizada indiana conhecida mundialmente pelo trabalho com os pobres. Embora o livro não se aprofunde no tema, por não ser o objeto da pesquisa, o jornalista dedica espaço para relatar suas impressões.

Para ele, as duas, além de serem da mesma geração (Madre Teresa nasceu em 1910 e Irmã Dulce em 1914), tinham no apoio aos miseráveis a sua causa na vida. Mas a prática de ambas, aponta, tinha mais diferenças do que semelhanças. Um exemplo? “Irmã Dulce tinha mais respeito pelo diagnóstico médico”, define.

“O livro é, na verdade, sobre uma mulher de fora de série, uma pessoa fora de série”. Essa é, por fim, a frase usada por Graciliano Rocha para descrever o resultado alcançado oito anos depois daquela missa em Salvador. 

A canonização de "Santa Dulce dos Pobres" está marcada para o dia 13 de outubro deste ano. E a partir do ano que vem, 13 de agosto será o dia dela. 

 
Irmã Dulce, nascida em 1914, morreu em 1992, na Bahia. (Foto: Arquivo/Senado)




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