Flávia Romanelli
PUBLICADO EM:
05/06/2025 06h34
Biocontrole cresce 29% ao ano em área nas últimas seis safras, segundo dados apresentados pela Kynetec no BioSummmit 2025

Primeiro dia do evento também debateu sustentabilidade e agricultura regenerativa
O uso de biocontrole na agricultura brasileira cresceu 29% ao ano em PAT (produto por área tratada) e 34% ano em valor em dólares nas últimas seis safras, principalmente em soja, algodão e milho segunda safra, de acordo com dados da Kynetec apresentados hoje no primeiro dia do BioSummit 2025, em Campinas. A segunda edição do evento ocorre na Expo Dom Pedro, e sua programação continua nesta quinta-feira.
Os números fazem parte do levantamento feito com 16.200 agricultores de 2264 cidades, abrangendo 29 cultivos, apresentado no painel “Os números do mercado de bioinsumos no Brasil e no mundo. Quanto vale a transição para uma agricultura mais sustentável?” pelo gerente de atendimento ao cliente da Kynetec, Cristiano Limberger. De acordo com ele, a adoção de algum tipo de biocontrole supera hoje 43% de uma área plantada de 85.054.000 de hectares, um crescimento de 2% em relação à safra 23/24. Os dois principais cultivos – soja e milho – representam 77% do uso de biocontrole. Esse mercado equivale a um valor de R$ 4,99 bilhões.
O BioSummit teve início com o painel “O Brasil pode liderar a sustentabilidade global? O que o mundo espera de nós?”, com participação do secretário-executivo do Consórcio dos Estados da Amazônia Legal, Marcello Brito; da presidente da Embrapa, Silvia Massruhá e do country manager e vice-presidente da Mosaic, Eduardo Monteiro. A moderação foi feita pelo sócio sênior e líder global da Prática de Agronegócio da McKinsey, Nelson Ferreira.
Silvia abordou os desafios que o país enfrenta para chegar à essa posição de liderança global, lembrando que nos últimos 50 anos o país se tornou uma referência em agricultura tropical no mundo, saindo de um patamar de importadores para exportadores de vários produtos. “O desafio é mostrar o quanto nossa agricultura se sustenta não só do ponto de vista econômico, mas ambiental e social. A gente tem duas, três safras na mesma área, tem integração lavoura-pecuária-floresta, produtos de base biológica, e tudo isso contribui com a sustentabilidade e a preservação dos recursos naturais”, afirmou.
Para ela, é preciso haver a inclusão socioprodutiva e digital do pequeno e médio produtor, com políticas públicas associadas que os incentivem a adotar práticas de agricultura regenerativa. “Para resumir, estamos trabalhando nos indicadores de sustentabilidade como referência à agricultura tropical, na rota de bioeconomia, produção de produtos de base biológica, bioinsumos e biofertilizantes, na descarbonização da agricultura e com as tecnologias para adaptação a mudanças climáticas”, elencou.
Brito avaliou que o Brasil precisa entender que é uma potência agroambiental, uma vez que nos últimos 50 anos realizou uma revolução agrícola. “Possuímos 500 milhões de hectares com cobertura vegetal e possuímos mais de 200 milhões em áreas privadas preservadas. O que a agropecuária preserva corresponde a uma área verde maior do que a Europa, mas continuamos discutindo o modelo agroambiental como na década de 1970, com dicotomias agroambientalistas desnecessárias. Temos a oportunidade de transformar isso agora, e acho que o mundo espera que o Brasil dê um passo na inclusão de bioinsumos e na transformação da agricultura regenerativa, para mostrar que essa potência que nos tornamos continue a ser potência também nessa nova agricultura que o mundo espera”, afirmou.
Desafios
O painel “Como escalar a agricultura regenerativa e quais são seus gargalos?” contou com a participação da pesquisadora do IPAM Amazônia e do Woodwell Climate Research Center, Ludmilla Rattis; do chefe de relações internacionais da Embrapa, Marcelo Morandi e da head of Regenerative Agriculture Susteinable Nestlé, Barbara Sollero. A moderação foi feita pela diretora-executiva da CEBDS, Alessandra Fajardo.
Morandi falou sobre os desafios que a agricultura regenerativa enfrenta hoje, como a adequação das tecnologias para cada região, com seus diferentes biomas e realidades. “Não existe uma fórmula única que atende a todos, ou seja, não há uma definição única para se construir a agricultura regenerativa. Para cada realidade, a gente vai ter práticas que são mais adequadas, que são biologicamente mais adaptadas àquele ambiente e que vão promover uma regeneração daquele ambiente”, explicou.
Sobre os gargalos, Morandi falou que eles passam desde a questão da compreensão do agricultor, do acesso dele à tecnologia e ao conhecimento de forma adequada em termos de custo acessível, da sua capacidade de implementar essa transformação e agregar valor a esse produto diferenciado que ele está produzindo. “Se o esforço do produtor em mudar toda a sua cadeia não tem agregação de valor ao seu produto, muitas vezes ele não consegue dar escala a isso, ou assume todo um custo que torna esse processo menos viável economicamente”, observou.
Sobre a questão do financiamento, Morandi destacou que é preciso que o setor financeiro esteja preparado para financiar uma transformação de um sistema de produção, saindo de indicadores tradicionais de uma cultura específica e de performance e olhando para todo um sistema de produção que é muito mais complexo e que, obviamente, abarca outros riscos, que muitas vezes ele não está preparado para assumir. “A gente tem esses gargalos para superar e para dar escala à agricultura regenerativa. Mas, o caminho está muito claro. Recentemente, a pesquisadora Mariângela Hungria recebeu o World Food Prize, que é um prêmio Nobel da agricultura, por uma solução biológica que ela vem trabalhando há 40 anos. Esse prêmio é concedido pela Fundação Norman Borlaug, que é considerado o pai da Revolução Verde, ou seja, de uma agricultura que teve uma base inicial muito forte no uso de químicos, de fertilizantes, de pesticidas e tudo mais, mas que agora premia uma solução tropical brasileira e na área de bioinsumos. Isso mostra, sem dúvida nenhuma, uma mudança do mindset global em direção à agricultura regenerativa.”
Barbara Sollero pontuou que um dos gargalos a serem superados é o financiamento dessa transição. “Como criar políticas públicas para poder trazer esses incentivos para o produtor que possam ajudá-lo nesse processo de transição, e como movimentar estruturas possíveis de financiamento de crédito que estejam adaptadas à realidade desses pequenos produtores, não somente dos grandes, que hoje são quem acessam muitas vezes os capitais a custos mais competitivos”, observou.



