PUBLICADO EM:
29/09/2017 10h08
Família Jafet comemora 130 anos de imigração no Brasil
Em tempos em que se discutem valores familiares e o acolhimento de imigrantes em várias nações, a Família Jafet, tão conhecida dos paulistanos, dá um exemplo de união que atravessa gerações, e do quanto povos provenientes de outros países podem contribuir com a terra que os acolhe.
Neste ano, os Jafet comemoram 130 anos no Brasil, mostrando que as sementes plantadas pelos primeiros patriarcas que aqui chegaram não só renderam bons frutos como deixaram um belo legado para as gerações seguintes.
No dia 7 de outubro de 2017, em uma festa restrita à família, cerca de 600 descendentes estarão reunidos no Clube Atlético Monte Líbano, em São Paulo (SP), para celebrar os 130 anos da família no Brasil, que já está em sua sexta geração.
Um pouco da história da família Jafet
A vinda dos Jafet, da aldeia de Choueir, no Líbano, para o Brasil, nasceu a partir de uma visita do Imperador D. Pedro II ao Líbano, em 1876, que fez despertar o interesse de um grupo de libaneses a emigrar para o Brasil. Apesar de o encontro do imperador brasileiro ter sido com o mais velho dos Jafet, Nami, somente onze anos depois, em 1887, é que chegou a terras brasileiras o primeiro Jafet. Era Benjamim que, motivado a conquistar o Novo Mundo, chegava para trabalhar como mascate pelo interior do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, e escolheu São Paulo para abrigar sua família e solidificar seus negócios.
Benjamin logo recebeu a companhia de seu irmão Basilio, com o qual expandiu suas atividades comerciais e aumentou o capital da família. A loja de Benjamin Jafet é a primeira que se tem notícia de ter sido instalada na Rua 25 de Março, na então provinciana São Paulo. Com um bom capital nas mãos, os dois chamaram Nami, o mais velho dos seis irmãos. Abriram, então, uma loja maior na mesma rua e, sob o comando de Nami, fundaram a Nami Jafet & Irmãos, que envolveu na sociedade mais um irmão, João, também imigrante.
Miguel, outro irmão dos Jafet, chegou a vir para o Brasil. Porém, não se adaptou ao clima tropical e retornou à pátria natal, onde foi secretário do Consulado da Rússia em Beirute. Seus descendentes, no entanto, mais tarde vieram para o Brasil e abriram negócios no interior de São Paulo.
Alguns estudiosos atribuem a rápida ascensão da família nos negócios às inovações que trouxe para o comércio de São Paulo, como, por exemplo, a adoção de vendas a crédito, a alta rotatividade no estoque, promoção de liquidações, reinvestimento dos lucros nos próprios negócios, entre outras ideias e iniciativas.
Os Jafet têm importância histórica para a cidade de São Paulo
Sobretudo o domínio da língua e da cultura árabe contribuiu para que os Jafet alicerçassem seus negócios, destacando-se o fato de que sustentaram, financeiramente, por meio de uma grande rede de negócios, a distribuição de tecidos na região da Rua 25 de Março, além de terem fundado a fábrica de tecidos Fiação, Tecelagem e Estamparia Ypiranga Jafet, em 1907, uma das precursoras da indústria têxtil nacional.
A fábrica foi, sem dúvida, a responsável pela pujança e o desenvolvimento do bairro do Ipiranga e de seu entorno. Foi nesse bairro que construíram 320 residências para as famílias dos operários, além de mais de 22 casarões e palacetes que abrigaram a família e seus descendentes, destacando-se os de Basílio Jafet, ainda hoje inseridos na paisagem da Rua Bom Pastor.
Os palacetes remanescentes - no total, seis - tombados pelo Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo, traduzem parte da história do progresso da cidade, muito mais que somente comprovar o sucesso comercial e industrial dos Jafet. No início do século XX, ao contrário de outros bem-sucedidos imigrantes árabes e italianos que fincaram suas mansões na Avenida Paulista, escolheram residir próximo de suas propriedades industriais, no bairro do Ipiranga.
Com o passar do tempo, os Jafet continuaram a contribuir para a urbanização desse importante e tradicional bairro paulistano, além de terem participado na construção de quatro pavilhões do antigo Hospital Leão XIII, atualmente Hospital São Camilo, e terem contribuído na construção do antigo Colégio Cardeal Motta, atual Colégio São Camilo Cardeal Motta.
A Família Jafet tornou-se um grupo empresarial dos mais importantes de São Paulo. Além de empreendimentos em comércio, indústria, setor financeiro e saúde, houve uma multiplicidade de doações públicas, ainda pouco conhecidas, entre elas o Pavilhão de Física Experimental da Universidade de São Paulo, em memória de Basílio Jafet.
O incentivo ao esporte também é um dos legados que a Família Jafet deixa para seus descendentes. A família foi fundamental na constituição de três tradicionais clubes da capital paulista: o Esporte Clube Sírio, o Clube Atlético Monte Líbano e o Clube Atlético Ypiranga.
A família também contribuiu sobremaneira na fundação da Liga das Senhoras Ortodoxas, da Igreja Ortodoxa Antioquina do Brasil, da Catedral Metropolitana Ortodoxa, da Câmara de Comércio Sírio-Libanesa, hoje Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, e da Associação Cedro do Líbano de Proteção à Infância.
Destaque também para Wadiha Jafet Assad, que presidiu a Associação Maternidade de São Paulo, criada como instituição privada e filantrópica e a primeira maternidade do Estado, que funcionou num prédio de dez andares na Rua Frei Caneca, próximo à Avenida Paulista, e que atendia gratuitamente mulheres carentes que não tinham onde dar à luz, sendo que que a receita dos partos de mulheres de famílias ricas financiava o das gestantes carentes.
Não podemos esquecer o Monumento Amizade Sírio-Libanesa, obra do escultor Ettore Ximenez, o mesmo autor do Monumento à Independência, no Ipiranga. Inaugurado em 1922 e ofertado ao Brasil por ocasião das celebrações do primeiro Centenário da Independência do Brasil, o Monumento Amizade Sírio-Libanesa é uma escultura belíssima, rica em detalhes, que apresenta, em sua parte inferior, um barco fenício representando o comércio, além de personagens que representam as Ilhas Canárias, o ensino do alfabeto e a entrada dos árabes no Brasil. A obra foi idealizada e realizada em parte graças às doações feitas pelos irmãos Jafet, que encabeçaram, à época, a comunidade árabe, especialmente de sírios e libaneses radicados no país. O monumento hoje está localizado na Praça Ragueb Chohfi, bem no começo da Rua 25 de Março, mas, inicialmente, ficava diante do Palácio das Indústrias, na mesma região central de São Paulo.
Apreciadora das artes, a Família Jafet foi proprietária de grandes obras que foram doadas a museus da cidade. Nos anos 1950, em uma reunião na residência de Gladston Jafet, um dos filhos de Nami Jafet, Assis Chateaubriand e membros da família acordaram a doação de algumas obras que hoje fazem parte do acervo permanente do então incipiente MASP - Museu de Artes de São Paulo.
Transformando outras regiões
A família Jafet também transformou outras cidades e regiões, dando importante contribuição para muitas outras construções e obras sociais da colônia libanesa por todo o Brasil. A Mineração Geral do Brasil, por exemplo, transformou o município de Mogi das Cruzes, situado na região leste da Grande São Paulo, no Alto Tietê. Na década de 1940, a cidade recebeu essa grande e importante siderúrgica, fruto de um arrojado projeto da família Jafet. A indústria marcou a fase moderna de progresso e desenvolvimento da cidade, com influências nos campos social, cultural, econômico e político. A construção de casas destinadas aos funcionários, ao lado da Mineração Geral do Brasil, acabou dando origem a um dos bairros da cidade. Inicialmente chamada de Vila Jafet, depois de bairro da Mineração, e posteriormente chamada de Vila Industrial, suas casas mantinham o mesmo padrão, tendo suas fachadas e arquiteturas iguais, que ainda podem ser percebidas nos dias atuais.
Voluntariado e filantropia, marcas da família Jafet
Não se pode falar em voluntariado em São Paulo, sem falar da família Jafet. Adma, esposa de Basilio Jafet, também empreendedora e visionária, fundou, em 1921, com outras senhoras da comunidade árabe, a Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-Libanês, que deu origem e até hoje é a mantenedora do Hospital Sírio-Libanês, um dos mais conceituados da América Latina, e cujos princípios ainda determinam sua razão de ser, na medida em que desenvolve ações integradas de assistência social, de saúde, de ensino e de pesquisa.
Adma não conseguiu ver a instituição pronta. Violeta, sua filha, e que até o fim do ano passado foi a grande matriarca da família (faleceu em dezembro de 2016, aos 108 anos), herdou o legado de sua mãe e foi presidente da Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio-Libanês durante 50 anos, desde a inauguração do hospital, em 1961.
Em 2012, por ocasião das comemorações de 125 anos da chegada da família ao Brasil, quando indagada por uma repórter sobre o quanto os Jafet tinham sido importantes para São Paulo, Dona Violeta não pestanejou e respondeu: “São Paulo é que foi importante para os Jafet, pois nos recebeu e aqui no Brasil nossa família se fez e cresceu”. E é esse mesmo sentimento de gratidão que toda a família tem e passa às novas gerações, sem esquecer de reverenciar os antepassados pioneiros que aqui chegaram e foram acolhidos, no século XIX.
Da Assessoria de Imprensa - 130 anos da Família Jafet no Brasil

