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05/01/2021 18h13
Ao longo dos anos, temperaturas podem subir 5°C em MS e ainda mais no Pantanal
Projeções indicam elevação entre 5°C e 6°C dentro de 80 anos, causando impacto direto na fauna, na flora e nos habitantes
Por Lucia Morel
Mato Grosso do Sul e o Pantanal devem sofrer com aumento gradual da temperatura média dentro de 80 anos, o que vai, principalmente no bioma, descaracterizá-lo. Projeções indicam elevação entre 5°C e 7°C até 2100, causando impacto direto na fauna, na flora e nos habitantes.
Dados de estudos da revista científica Nature Climate Change e do artigo “Climate Change Scenarios in the Pantanal” mostram que a realidade poderá ser transformada diante das mudanças climáticas e das emissões de gases-estufa.
Na atual maior planície alagada do mundo, o regime de águas que a caracteriza pode simplesmente deixar de existir, com redução das chuvas e impactos mais significativos no inverno. Pela projeção, lá, o aumento na temperatura média anual até o final deste século deverá ser de 6°C.
Um dos responsáveis pelo artigo relacionado ao bioma, o hidrologista e meteorologista José Antônio Marengo Orsini, do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), afirma que isso significa temperaturas acima dos 50ºC nos dias mais quentes.
“Se atualmente, nos dias mais quentes do verão, a temperatura no Pantanal passa fácil dos 40°C, estamos falando em temperaturas máximas em torno ou superiores aos 50°C. É temperatura de deserto. A maioria das plantas suporta pontualmente um calorão desses. Pontualmente”, analisa.
Conforme as projeções, até 2040, as temperaturas médias devem subir de 2°C a 3°C. Em 2070, o aumento poderá entre 4°C e 5°C, atingindo em 2100 uma temperatura média 6 °C mais elevada do que a atual.
Embora haja muita incerteza com relação às projeções pluviométricas, os modelos sugerem que, durante o inverno no hemisfério Sul, o Pantanal poderá experimentar uma redução na quantidade de chuva de 30% a 40%. “Um aumento da temperatura média de 5°C a 6°C implicaria em deficiência hídrica, o que afetaria a biodiversidade e a população”, observa Marengo.
A união de altas temperaturas e poucas chuvas vão desfazer o regime atual de águas do bioma, que entre novembro e março de cada ano – período de chuvas – inundam até 70% da planície.
É justamente nesse tempo que se formam os banhados, os lagos rasos e quando os pântanos incham. Tudo isso faz com que, nas áreas mais elevadas, surjam ilhas de vegetação, um refúgio para os animais.
Assim, grandes áreas permanecem inundadas de quatro a oito meses no ano, com uma cobertura de água que varia de uns poucos centímetros até 2 metros. Isso já foi diferente em 2019 e em 2020, quando com mais espaços secos e sem água, vegetação foi combustível para queimadas históricas na região.
Em média, por ano, caem de 1.000 a 1.250 milímetros de chuva no bioma e a temperatura média anual é 24°C, com máximas que atingem até 41°C, em alguns momentos do ano.
Em 2020, já com regime de chuvas alterado, queimadas destruíram 40% do Pantanal. (Foto: Fernado Tortato)
Vale ressaltar que o Pantanal é uma região semiárida e não fosse o enorme fluxo anual de água para a região, o bioma seria tão seco quanto a Caatinga nordestina. Isso não ocorre porque o Pantanal é um grande reservatório que armazena as águas que escoam dos planaltos circundantes.
Marengo enfatiza que há incertezas com relação como as mudanças climáticas podem afetar o regime pluviométrico, mas destaca que assim como as temperaturas globais estão aumentando, o mesmo acontecerá no Pantanal.
Localizado no centro da América do Sul, portanto longe da influência marítima que poderia ajudar a amenizar o clima, o aumento das temperaturas no Pantanal tende a ser mais dramático. “O dia mais quente do ano pode vir a ser até 10 °C mais quente do que hoje”, diz o especialista.
As informações são da Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A pesquisa completa pode ser acessada aqui.
Mato Grosso do Sul – Na área urbana de MS, pesquisas identificam potencial aumento de até 5°C nas temperaturas médias do Estado até 2100. O levantamento é da equipe liderada pelo pesquisador chinês Lei Zhao, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (EUA).
O estudo divulgado na revista Nature Climate Change indica essa alteração de temperatura na bacia do Mediterrâneo (parte da Europa), no interior norte-americano e, no Brasil, em regiões do Centro-Oeste e da Amazônia.
Segundo reportagem da Folha de São Paulo, a equipe analisou dados iniciando em 2006 e prossegue até 2100, fazendo projeções sobre diferentes épocas do ano e sobre a temperatura média, a máxima durante o dia e a máxima durante a noite.
Tanto no período noturno quanto no diurno, a situação prevista será particularmente tórrida na América do Norte, em boa parte da Europa, no Oriente Médio, na Ásia Central e no noroeste da China.
Já o interior da América do Sul, que inclui Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia, o risco é de temperaturas mais elevadas à noite.
As estimativas variam de acordo com diferentes cenários possíveis de emissões de gases-estufa (que retêm o calor perto da superfície da Terra) e mesmo que haja redução dessas emissões, a média do aquecimento urbano será equivalente a 1,9°C no fim do século 21; sem cortes de gases-estufa, a média do aumento de temperatura será de 4,4°C.
“A situação projetada para o Centro-Oeste e a Amazônia sem dúvida é preocupante. Ela provavelmente está ligada não apenas ao aumento da temperatura global como também ao efeito da continentalidade”, afirma o climatologista Alexandre Araújo Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará, referindo-se ao fato de que, por conta da distância em relação ao oceano, áreas do interior dos continentes tendem a apresentar climas mais extremos.
O estudo completo pode ser conferido aqui.
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