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08/09/2021 12h29
Yeltsin volta para casa com 2 ouros e um lema: "Não desistam de seus sonhos"
Fundista, além de lugar mais alto do pódio, quebrou recorde mundial dos 1.500 metros classe T11
Por Nyelder Rodrigues e Cristiano Arruda
A mãe afaga o filho com a mão no peito dele e as duas medalhas ali ostentadas são meros detalhes diante do orgulho que ela faz questão de deixar evidente. Detalhe que não pode deixar de ser notado na chegada de Yeltsin Jacques, na noite de ontem (7), em Campo Grande e que acaba se repetindo nesta quarta-feira (8).
Fundista campeão paralímpico em Tóquio nos 1.500 e 5.000 metros da classe T11, voltada para atletas com cegueira total, Yeltsin é saudado como merece em seu retorno para casa. Além de duas medalhas de ouro no peito, ele traz do Japão um lema na cabeça, que faz questão de reproduzir aqui.
"Não desistam de seus sonhos. Tenham foco e acreditem no objetivo de vocês que só assim podem chegar lá e conquistar o que querem", frisa o principal atleta sul-mato-grossense da atualidade, prestes a subir no caminhão do Corpo de Bombeiros para nova carreata pela cidade - a primeira aconteceu na madrugada de ontem mesmo.
Na edição deste ano dos Jogos Paralímpicos, o Brasil conquistou 22 medalhas de ouro, quatro delas de sul-mato-grossenses. No salto em distância, Silvânia Costa, de Três Lagoas, foi a dona de uma delas. Na canoagem, o itaquiraiense Fernando Rufino foi responsável por outro ouro, com Yeltsin fechando o quadro com duas douradas.
"É excepcional chegar e sentir todo esse apoio da população. Estou bastante feliz por ter conquistado essa vitória e com a sensação de dever cumprido. Quero incentivar outras pessoas a não desistir de sonhos, como eu sempre tive, e investir no esporte. Isso que quero deixar para as próximas gerações", frisa o paratleta.
Com medalhas no peito, Yeltsin mostra com orgulho detalhes de sua conquista, que é um verdadeiro símbolo esportivo de MS. (Foto: Marcos Maluf)
Durante a preparação, Yeltsin ressalta que focou bastante em corrigir problemas para melhorar a performance. "Devo muito disso a minha família e amigos, e a minha esposa, que são meus olhos. Foi por causa dela que consegui chegar onde cheguei".
Com 29 anos e 5% da visão, Yeltsin convive com a cegueira em progressão desde bebê, tanto que em 2016, competiu em outra categoria, para atletas com deficiência visual parcial. Além disso, uma caxumba na véspera da competição o atrapalhou.
Para Tóquio 2020, o que poderia ter jogado tudo por ladeira abaixo foi a falta de um atleta-guia para acompanhá-lo. Por sorte, um amigo paraguaio veio do país vizinho para os treinos com ele em Campo Grande até que fossem disponibilizado dois guias brasileiros permanentes para acompanhá-lo - hoje, ambos medalhistas.
"É uma emoção muito grande tudo isso. São duas medalhas de ouro paralímpicas que mostram o empenho, esforço e determinação do Yeltsin. Muitos não acreditavam no potencial dele, mas ele provou para todos, mesmo não precisando provar nada a ninguém", destaca a esposa do fundista, Janaina Ianca.
Yeltsin ao lado da esposa Janaina e das medalhas conquistadas em Tóquio. (Foto: Marcos Maluf)
Já o pai de Yeltsin, José Roberto Jacques, relembra de toda a luta do filho para conseguir conquistar uma medalha paralímpica, e quando finalmente conseguiu, trouxe duas de uma só vez. "É resultado de muito esforço. Muito feliz pelo resultado do meu filho. Feliz pela vitória e por ele poder voltar para cada".
Roberto e Mari Donato são amigos do fundista desde a infância e viram a evolução dele no atletismo de perto. "Hoje, ele é o maior orgulho do Estado. Ele até se sentiu abalado em alguns momentos de sua trajetória, mas nunca desistiu", frisam.
Não faltam elogios para Yeltsin também de seu irmão - são três - e de sua madrasta. Luis Felipe, que tem 23 anos, e Patrícia Neves Jacques, de 49, destacam que a conquista dele é a realização de um sonho.
"Sempre foi um menino muito dedicado à corrida, e sempre contou com o apoio da família. No começo houve um receio, mas a cegueira nunca foi empecilho. Ele voltar com essas duas medalhas de ouro do Japão é uma vitória imensurável. A corrida é uma paixão que começou com 10 anos e nunca mais parou", contam.
Carreata realizada no Centro de Campo Grande com Yeltsin para comemorar sua volta para casa. (Foto: Marcos Maluf)
A primeira medalha de ouro de Yeltsin veio nos 5.000 metros, prova que ele concluiu em 15min13s62. O título veio justo no dia do aniversário de Campo Grande, 26 de agosto, fato este muito celebrado na cidade.
Já a segunda medalha de ouro veio dias depois com recorde mundial. Jacques terminou a prova com o tempo de 3min57s60 e conquistou a 100º medalha de ouro brasileira nas Paralimpíadas, cravando seu nome na história.
Recepção - A recepção a Yeltsin começou ainda ontem (7), com sua chegada no aeroporto de Campo Grande. A banda do Corpo de Bombeiros foi até ao local para participar do evento, que contou com a presença de amigos e familiares. Dali, eles partiram para uma carreata até o Parque dos Poderes.
Poucas horas depois, às 9h, foi iniciada nova carreata em carro aberto dos Bombeiros para homenagear o fundista e festejar as medalhas conquistadas por ele. O percurso começou na Avenida Ernesto Geisel, em frente ao Horto Florestal, seguindo pela Rua 26 de Agosto, continuando pela travessa José Bacha.
Depois, o desfile público foi para as ruas 7 de Setembro, 14 de Julho, Cândido Mariano e 13 de Maio, até chegar à Avenida Afonso Pena. Lá, Yeltsin vai parar na sede da prefeitura e se encontrar com o prefeito Marquinhos Trad (PSD).
Posteriormente, ele segue o trajeto na Afonso Pena rumo ao Parque dos Poderes, onde vai se encontrar às 11h, com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), conforme divulgado na tarde de terça-feira, pela Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer), uma das organizadores da carreata e dos encontros.
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