De todas as quatro, a Campo Grande sul-mato-grossense é a única com status de capital e também a mais distante do litoral.

 

Fazer essa distinção não é incentivo para alguma competição entre as cidades. Melhor é servir apenas para ajudar a não confundir uma com a outra e para ninguém se perder no mapa, pois já basta a insistente confusão feita entre Campo Grande e Mato Grosso do Sul com Cuiabá, a capital de Mato Grosso.

 

Inspiração - Fundador oficial, o mineiro José Antonio Pereira misturou fé e geografia para escolher o nome do pedaço de terra localizado ao sul do então Mato Grosso. É o que explica o mestre em História e professor da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Roberto Figueiredo.

 

O primeiro nome dado foi Arraial de Santo Antônio de Campo Grande, ele começa.

 

Esmiuçando palavra por palavra, Roberto diz que o significado do substantivo "arraial" é lugarejo, enquanto "Santo Antônio" é o nome do santo a quem o fundador era devoto e homenageou construindo uma igreja, assim que chegou. Já "Campo" se refere à topografia plana característica da região e "Grande", à enorme extensão de terra.

 

 

Sem muitas subidas, a planície de Campo Grande pode ter chamado a atenção e inspirado José Antônio Pereira e o grupo que o acompanhava pela diferença das ladeiras, serras e paredões montanhosos de Minas Gerais.

 

"O que eles viram foi um campão, com uma diversidade de lagos. Com o passar do tempo, ninguém mais falava a primeira parte do nome e foi ficando só Campo Grande", continua o professor.

 

Decreto assinado em 26 de agosto de 1899 fez Campo Grande ganhar o status de município da comarca de Nioaque, de Mato Grosso. Tornou-se capital quando Mato Grosso do Sul se desmembrou e constitui um novo estado, em 1977.

 

 

Roberto afirma que nunca teve acesso a materiais históricos que indicassem que algum outro nome foi discutido para Campo Grande. Nem quando era um lugarejo, nem quando já era um município ou capital.

 

Olho d'água, Cascudo e São Bendito - A comunidade negra Tia Eva, hoje chamada de São Benedito, chegou em área próxima ao Arraial de Santo Antônio de Campo Grande naquela mesma época que José Antonio Pereira.

 

Nomes que a ex-escravizada Eva Maria de Jesus, líder da comitiva, deu primeiro à região onde chegou foram Olho d'Água e Cascudo. Depois, foi São Benedito, como conta o professor de Antropoligia da UnB (Universidade de Brasília) e pesquisador Carlos Alexandre Plínio dos Santos no artigo "Eva Maria de Jesus (tia Eva)".

 

 

Busto de Tia Eva na comunidade quilombola de Campo Grande que hoje leva seu nome (Foto: Arquivo/Fundação de Cultura)

Enquanto o primeiro se referia à presença do Córrego Segredo, o segundo falava sobre os habitantes ex-escravizados terem solas dos pés engrossadas pelo trabalho forçado. Já o último, homenageava o santo negro a quem Eva era devota e atendeu promessa relacionada à libertação do cativeiro.

 

Caso Olho d'Água tivesse sido escolhido como o nome de Campo Grande, atualmente estaria entre oito com o mesmo nome no Brasil, sendo os sete localizados na Paraíba (Olho d'Água), Manaus (Olho d'Água das Cunhãs) , Alagoas (Olho d'Água do Casado e Olho d'Água do Grande), Rio Grande do Norte (Olho d'Água do Borges), Piauí (Olho d'Água do Piuaí). Isso sem falar no plural de Olhos d'Água da cidade de Minas Gerais.

 

Se fosse São Benedito, dividiria o título com município do Ceará, o São Benedito do Rio Preto no Maranhão e o São Benedito do Sul, em Pernambuco.