- mell280
29/10/2024 08h31
Nunes reeleito e Boulos enfraquecido
Rodrigo Augusto Prando, professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.
O segundo turno na cidade de São Paulo seguiu a lógica do país: foi uma vitória do incumbente Ricardo Nunes (MDB), em um cenário no qual a reeleição chegou a ficar na casa dos 80% (em 2020, ano pandêmico, ficou em cerca de 60%). Guilherme Boulos (PSOL) teve, nesse segundo turno, votação muito próxima daquela de 2020, mesmo tendo recursos em maior volume e o apoio do presidente Lula (PT).
Os institutos de pesquisa foram bastante precisos nos dois turnos: no primeiro, apontavam um empate triplo entre Nunes, Boulos e Pablo Marçal (PRTB); no segundo, sempre colocaram uma boa distância entre Nunes e Boulos. A diferença entre Nunes (59,35% dos votos válidos) e Boulos (40,65%) foi dentro, por exemplo, da margem de erro do Datafolha, que apontou, na véspera, Nunes com 57% e Boulos com 43%.
Nunes – assim como os demais prefeitos reeleitos – contou com a força da máquina, com uma coligação forte, vereadores nas ruas pedindo votos e apoio firme e presente do governador Tarcísio de Freitas. O ex-presidente Jair Bolsonaro dirigiu a Nunes um apoio reticente, protocolar, fraco mesmo. Bolsonaro – derrotado por Lula e inelegível – saiu menor do que entrou nessa eleição e não apenas em São Paulo.
Se, no primeiro turno, Nunes sentiu o impacto da candidatura de Marçal e correu risco de se ver alijado da disputa final, agora, os votos de Marçal foram em massa para o prefeito reeleito, que demorou para ser conhecido pelos paulistanos e, ainda, chegou à Prefeitura com a morte de Bruno Covas, mas, como dito acima, o poder da máquina e a cidade com obras são importantes elementos de comunicação de sua candidatura.
No domingo de eleição, um fato ocorrido desabona a presença de Tarcísio nesse pleito. O governador, sem provas, asseverou que houve um “salve” do PCC (facção criminosa) pedindo votos para Boulos. Tal fato mancha a trajetória de Tarciso e terá, por certo, consequências jurídicas no âmbito eleitoral.
Boulos, por sua vez, tem sua segunda derrota (a primeira, em 2020, foi para o tucano Bruno Covas). Diz-se muito acerca da proximidade dos votos obtidos por Boulos, no segundo turno, em 2020 e em 2024, indicando um possível teto do psolista.
Marçal, no primeiro turno, atacou todos os adversários, com agressividade conjugada às fake news. Boulos tem sua imagem construída e comunicada por sua participação no movimento social de luta pela moradia e, embora afirme ter orgulho de sua trajetória, há uma percepção de que sua conduta está ligada à invasão de propriedades privadas, ainda que Boulos aduza ser um imperativo moral ajudar os mais necessitados e que promovia ocupações e não invasões de casas. Além disso, Marçal fez insinuações de que Boulos era: 1) usuário de cocaína; 2) de que havia sido preso por porte de drogas (desmentido rapidamente por tratar-se de um homônimo); e 3) apresentou um laudo falso antes do primeiro turno afirmando que Boulos havia sido internado por surto psicótico por uso de cocaína (já demostrado ser falso o documento pelas autoridades policiais).
Com tudo isso de Marçal contra Boulos, o psolista achou uma boa ideia participar de uma “entrevista” de emprego com Marçal, até porque Nunes se recusou. Politicamente, Boulos fez um movimento em busca do voto por mudança que estaria no eleitorado marçalista; biograficamente, todavia, foi uma ação de legitimar a conduta de Marçal de ataque à civilidade política e aos adversários. E, por fim, tal ação não trouxe nada de votos e, pior, Boulos ganhou apenas em três distritos eleitorais em São Paulo.
Nunes, vencedor, sai fortalecido, junto com Tarcíso e Gilberto Kassab (PSD); Boulos, derrotado e enfraquecido ao lado de Lula e do campo progressista.
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
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