PUBLICIDADE

Depoimento emocionado de ré encerra 1º dia de júri - Na Capital


PUBLICIDADE
  • mell280

05/12/2024 06h43

Depoimento emocionado de ré encerra 1º dia de júri - Na Capital

"Segundo dia de julgamento começará com interrogatório de padrastro, réu por matar Sophia"

Por Gustavo Bonotto, Ana Beatriz Rodrigues e Kamila Alcântara


 Teve fim, às 20h51 desta quarta-feira (4), o primeiro dia de julgamento do caso Sophia de Jesus Ocampo, menina campo-grandense morta aos 2 anos e 7 meses. Entretanto, o júri foi encerrado mais cedo devido ao cansaço apresentado pelos presentes.

 
 
A sessão terminou com o depoimento da mãe da menina, Stephanie de Jesus da Silva, 26 anos, que afirmou ao juiz Aluízio Pereira dos Santos, não ter ideia da gravidade da situação ao ouvir as qualificadoras do homicídio que é acusada junto com Christian Campoçano Leitheim, 27 anos. Segundo réu do crime, o padrastro de Sophia será ouvido às 8h desta quinta-feira (5), no Tribunal do Júri.
 
O depoimento da acusada começou às 18h09 e perdurou até o encerramento da sessão. Ao magistrado, Stephanie contou que morava há seis meses com Christian e que os dois se conheciam há apenas um ano contando com o tempo de namoro. Durante todo o julgamento, a ré esteve com um terço na mão esquerda, onde também tem uma tatuagem no punho com o nome da filha Sophia.
 
Sobre o envolvimento do casal com drogas e o uso na frente das crianças, a ré alegou ao juiz que fingia usar cocaína por medo do rapaz. “Eu fingia para ele me deixar em paz. Fazia o mesmo gesto que eles, mas não cheirava. As crianças estavam dormindo e alguém tinha que estar sã, por isso falei na outra vez que não recordava. Eu tinha medo de falar”, argumentou.
 
 
 
A acusada foi questionada ainda por seus advogados sobre não ter entregue Sophia aos cuidados do pai, homem que mantém um relacionamento afetivo homossexual. "Ela era o meu porto seguro. Me dava força para conseguir seguir em frente depois de tudo o que aconteceu comigo. Era só eu e ela".
 
 
A advogada de Stephanie passou a fazer perguntas e mostrou a ela o relatório do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado), que encontrou no aparelho celular de Christian, fotos e vídeos que mostram ele se masturbando no mesmo ambiente que as crianças. A ré chorou e repetiu que não fazia ideia deste comportamento do ex-marido. “Ele é um pedófilo, psicopata, manipulador. Um monstro. Eu não fazia ideia disso”.
 
No fim do depoimento, ao ser questionada se amava a filha, Stephanie chorou bastante “Eu não amava, eu ainda amo. Ela sempre foi tudo para mim. Ela era a minha base, minha fortaleza, meu tudo”. Presa desde a morte da filha há 678 dias, ela revelou ainda que não tem mais vontade de viver e já pensou em suicídio.
 
 
Outro destaque de hoje foi o depoimento do médico legista responsável pela necrópsia da menina Sophia. Fabrício Sampaio Morais de Paiva, da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, começou respondendo a perguntas da acusação sobre os sinais de estupro encontrados na criança.
 
 
O atestado de óbito apontou que a garotinha morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica). O laudo necroscópico  mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen (sinal de que sofreu violência sexual).
 
O médico explicou que Sophia tinha a membrana que fina que cobre parcialmente a entrada da vagina rompida, o que indica que a menina foi violentada. A ruptura, segundo o legista, era "antiga, de mais de 21 dias", mas que na ocasião do exame, a região íntima da criança estava inchada e avermelhada, com sinal de “manipulação genital recente”.
 
Ao responder a um dos integrantes da bancada da acusação sobre que tipo de ação humana poderia provocar a ruptura, o legista disse: “a própria penetração pênis-vagina e no caso de uma criança, um objeto ou a introdução de um dedo”. Mais tarde, ele reforçou que as lesões externas – inchaço e vermelhidão – indicavam manipulação da região “de no máximo 2 dias” antes do exame.
 
 
Marcas no corpo de Sophia em registros feitos pela mãe e pelo pai biológico; garotinha teve a perna quebrada com chute do padrasto, segundo a investigação. (Fotos: Reprodução processual)
Para não restar dúvida, o promotor José Arturo Iunes Bobadilla Garcia questionou o médico se o rompimento do hímen poderia ter acontecido acidentalmente, na hora do banho, por exemplo. “Muito difícil, porque para a gente visualizar o hímen a gente tem de colocar o paciente ou o cadáver numa posição ginecológica e incidir luminosidade, além de fazer uma manobra nos grandes lábios, porque é uma estrutura interna”.
 
 
Para a investigação policial e o Ministério Público, Sophia foi espancada até a morte pelo padrasto, depois de uma vida recebendo “castigos” físicos e tortura psicológica, quase sempre com o aval da mãe, quando não era ela quem cometia as agressões.
 
No banco das testemunhas - Com o encerramento da sessão, o depoimento de Christian foi remarcado. Segundo os autos processuais, o julgamento pela 2ª Vara do Tribunal do Juri tem duração de dois dias, onde 12 testemunhas arroladas por acusação e defesas devem ser ouvidos, além dos réus e a argumentação dos advogados e da promotoria.
 
Hoje, além de Stephanie, diversas testemunhas participaram da sessão. Uma delas, a mãe do padrasto. Luciana Campoçano Leitheim contou que havia se afastado do filho após uma discussão que ele teve com o pai, e que ficou sabendo das mensagens de agressão contra a enteada pelos jornais.
 
 
“Meu marido não gostou da forma como ela corrigiu a Sophia. Ela bateu porque ela não queria comer comida, depois levou ela para o quarto tentando forçar ela a dormir. Deu um tapa com a mãe aberta. Nós nos afastamos depois disso”, afirmou Luciana. Em seguida, ela foi questionada sobre a forma como Christian agia com Stephanie, se ela era constrangida por ele de alguma forma. “Nunca teve isso na relação deles”, disse. O pai do rapaz é sargento da PM (Polícia Militar) e os advogados perguntaram à Luciana se ele usava disso para defender as atitudes do filho.
Marcas no corpo de Sophia em registros feitos pela mãe e pelo pai biológico; garotinha teve a perna quebrada com chute do padrasto, segundo a investigação. (Fotos: Reprodução processual)
 
O amigo do réu, Mateus Siqueira, afirma que esteve com Christian no momento em que a morte de Sophia foi declarada. “Eu estava junto com o Christian e quando a notícia da morte chegou por mensagem. O Christian: dizia ‘a culpa foi minha, eu matei a Sofia’”, narrou.
 
Siqueira contou ainda que ele, o amigo, Stephanie e as crianças – Sophia, a irmã bebê e o filho mais velho de Christian – foram para um bar na noite anterior à morte. Beberam e jogaram sinuca até por volta de meia-noite. Depois, todos foram para a casa do casal e ele saiu com a mãe de Sophia para comprar cocaína. O trio permaneceu acordado, bebendo, usando drogas e tocando violão até amanhecer. Foi quando Siqueira deixou a residência e foi para casa.
 
O júri continua - Nesta quinta, Christian dará início aos trâmites do julgamento com o depoimento sobre o crime. Depois, haverá debate entre defesa e acusação, com réplicas e tréplicas. Já no período da tarde, acontece a votação dos requisitos de sentença. Por fim, o juiz Aluízio Pereira dos Santos fará a leitura da sentença estipulada pelo Conselho.
 
 
Christian é julgado por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel e praticado contra menor de 14 anos. Ele é acusado de espancar a enteada até a morte e também responde por estupro de vulnerável. Já Stephanie é julgada por homicídio doloso por omissão, já que não impediu o resultado trágico da violência praticada pelo companheiro contra a filha.
 




PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
  • academia374
  • Nelson Dias12
PUBLICIDADE