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20/02/2025 13h44
O futuro do dólar: Os criptoativos podem coexistir com o dólar no futuro?
Por Wesley Henrique Quinalia Francisco, assessor de investimentos na WIT Invest
- Durante sua campanha, Trump se mostrou favorável ao segmento de criptomoedas. Quais as expectativas quanto a isso?
O mercado criptográfico precificou toda a campanha de Trump. Não é à toa que, meses antes da eleição, tivemos uma forte alta no mercado cripto como um todo. A expectativa naquele momento era de que realmente houvesse maiores regulações, o que traria muito mais dinheiro institucional para o mercado – muito mais do que já existe hoje.
Assim que Trump assumiu a Casa Branca, já vimos um marco significativo. Em 23 de janeiro de 2025, ele assinou uma ordem executiva estabelecendo o "Grupo de Trabalho sobre Mercados de Ativos Digitais". Esse grupo, liderado por David Sacks, o "czar" de cripto e inteligência artificial da administração, inclui o secretário do Tesouro, o presidente da SEC e outros líderes de agências relevantes.
O objetivo é fortalecer a liderança dos EUA no setor de finanças digitais, criando uma proposta regulatória para ativos digitais, incluindo stablecoins, e avaliando a criação de uma reserva estratégica nacional de ativos digitais. O grupo tem um prazo de 180 dias para apresentar suas recomendações.
- As memecoins desenvolvidas por Trump podem prejudicar ou promover de alguma forma o mercado de criptomoedas?
Realmente, podemos ver o quão relevante e expressivo é o nome Trump no mercado e no mundo. Com a criação de sua criptomoeda, vimos ela atingir mais de 10 bilhões de dólares em valor de mercado em menos de 48 horas. Não é apenas que Trump tenha influência no mercado, mas sua presença, sem dúvida, impacta diretamente o setor. A criação dessa memecoin certamente promoveu o mercado cripto. No entanto, não sei até que ponto isso foi vantajoso para a imagem do presidente, já que poucos dias depois a moeda caiu praticamente pela metade de seu valor, gerando prejuízo para muitos investidores. Agora, muitas pessoas estão enfrentando perdas significativas, e isso pode, de alguma forma, trazer uma responsabilidade indireta para Trump. O mercado de criptomoedas é altamente especulativo e muitos buscam enriquecimento rápido. No entanto, quando perdem, sempre procuram um culpado – e há uma chance de que Trump acabe se tornando esse bode expiatório.
- Você acredita que a associação direta de Trump a uma criptomoeda pode gerar um conflito entre seus interesses pessoais e o papel regulador do governo em relação aos criptoativos?
Acredito que o fato de Trump ter criado a criptomoeda em si não geraria um conflito, pois desde o início foi deixado claro que se tratava de uma brincadeira, uma memecoin criada para comemorar sua entrada na Casa Branca. Todas as pessoas que desejaram possuir essa moeda sabiam exatamente do que se tratava.
Porém, mais uma vez, acho que faltou um pouco de responsabilidade ao considerar que muitas pessoas poderiam contrair prejuízos e acabar perdendo recursos ao entrarem em um efeito manada nessa mesma memecoin.
A questão do papel regulador, por outro lado, se torna muito importante, pois pode proteger novos investidores e os atuais da criação de outras moedas semelhantes por celebridades. No final, essas moedas não possuem nenhuma validade real, mas, por carregarem um nome forte, acabam levantando capital de forma rápida e causando prejuízos para algumas pessoas.
- Você acredita que os criptoativos podem coexistir com o dólar no futuro, ou um precisará substituir o outro em termos de protagonismo econômico?
Hoje, o mercado já é digital. Milhões de dólares são transacionados todos os dias entre os bancos para pagamentos a fornecedores, e há países onde o papel-moeda praticamente não é utilizado, sendo substituído por dólar digitalizado.
Acredito que a questão principal não seja se o sistema financeiro será totalmente digital, mas sim se, em algum momento, 100% do sistema financeiro estará em blockchain. A digitalização do dinheiro já existe.
Não acredito que um substituirá o outro, mas sim que se complementarão. Em termos de segurança, a blockchain se mostra extremamente confiável. Em velocidade e custo, também há vantagens significativas em nível de segurança. No entanto, sempre haverá pessoas com necessidade de dinheiro em espécie.
Agora, se compararmos o dólar digitalizado com outras criptomoedas, como o bitcoin, a situação muda. Nessa perspectiva, o bitcoin e outros criptoativos acabam competindo pelo seu uso, o que pode criar cenários distintos para cada tipo de ativo digital.
- O bitcoin, a criptomoeda mais famosa do mundo, superou a cotação de US$ 100 mil pela primeira vez na história, após a criação das memecoins de Trump. Qual o efeito desse marco para o mercado financeiro? Como a valorização histórica do Bitcoin impacta o mercado de criptoativos como um todo?
Quando o Bitcoin foi lançado, ele não valia nada e muitas pessoas não confiavam no criptoativo. No entanto, ano após ano, a moeda foi demonstrando um potencial cada vez maior, especialmente para aqueles que viam na descentralização uma forma de trazer mais autonomia aos detentores. Quando Trump foi eleito e lançou sua memecoin, o Bitcoin já havia ultrapassado a marca de 100.000 dólares, algo que chocou muitos céticos do mercado. Vemos hoje fundos de investimento e grandes analistas, que antes desacreditavam o Bitcoin, começando a entender que ele é, de fato, uma moeda do povo, já que não há um banco central que a controle.
Além disso, seu fornecimento é limitado a 21 milhões de unidades, ao contrário das moedas fiduciárias, que podem ser impressas a qualquer momento. Com essa escassez programada, a tendência é que o Bitcoin continue se valorizando, especialmente à medida que governos, fundos de investimento e capital institucional passam a adotá-lo como um ativo. O marco de 100.000 dólares deixa claro para todos que o Bitcoin veio para ficar.
- As recentes notícias relacionadas ao lançamento de fundos de índice (ETFs) e produtos negociados em bolsa (ETPs) relacionados a criptomoedas animaram os tokens nos últimos dias. Quais as expectativas em relação a isso?
Precisamos ter muito cuidado ao falar sobre tokens, pois dentro do mercado criptográfico existem diversas moedas que, de fato, não possuem utilidade alguma e são apenas especulativas.
Os ETFs, por outro lado, geralmente são criados com altcoins e criptomoedas já consolidadas, como Bitcoin e Ethereum. Muitas memecoins e tokens são desenvolvidos nessas redes, o que atrai grande volume de recursos. No entanto, acredito que os ETFs irão impulsionar muito mais as grandes criptomoedas do que os tokens, já que estes últimos são altamente especulativos.
- Como o lançamento da criptomoeda de Trump pode influenciar o debate sobre as regulamentações de criptomoedas nos Estados Unidos?
O lançamento da memecoin de Trump evidenciou para todo o mercado a necessidade de uma autorregulação e de uma regulamentação mais estruturada. Atualmente, a barreira de entrada para a criação de novas memecoins é praticamente inexistente, permitindo que qualquer pessoa desenvolva e lance um ativo do nada, sem qualquer controle.
Isso tem levado muitas pessoas desavisadas a investirem seus recursos em projetos sem fundamento, resultando em perdas financeiras significativas para famílias e pequenos investidores.
- Que tipo de regulamentação ou estrutura seria essencial para consolidar o mercado de criptoativos como um pilar do sistema financeiro global?
Uma regulamentação clara e equilibrada é essencial para garantir segurança e previsibilidade ao mercado. Isso inclui regras sobre a custódia de ativos, combate à lavagem de dinheiro, proteção ao investidor e diretrizes para emissão e negociação de tokens. Além disso, é importante que os reguladores incentivem a inovação, permitindo que empresas desenvolvam novos produtos financeiros baseados em blockchain sem medo de incertezas jurídicas.
- Como você avalia o potencial das criptomoedas para se tornarem uma alternativa viável para moedas fiduciárias nos próximos anos?
As stablecoins permitem a conversão de moedas fiduciárias em criptoativos, aproximando ainda mais o mercado tradicional do universo digital. Vejo a blockchain como o ambiente onde, cada vez mais, as transações acontecerão. No entanto, já possuímos versões digitais das moedas fiduciárias, que são os valores negociados eletronicamente entre bancos e instituições financeiras. Acredito que, em breve, todas as moedas fiduciárias estarão presentes tanto no sistema financeiro convencional quanto na blockchain, consolidando a integração entre os dois mundos.
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