- mell280
24/06/2025 08h15
Castanha de caju é usada em inovação sustentável
A castanha de caju pode ser a chave para tornar a siderurgia mais sustentável. Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveram uma tecnologia inovadora que utiliza o líquido da castanha como substituto aos derivados do petróleo para formação de aglomerantes.
O setor siderúrgico é um dos maiores responsáveis por emissões poluentes e consumo intensivo de recursos naturais. A nova técnica promete reduzir significativamente esse impacto ambiental e já tem despertado o interesse de empresas brasileiras e internacionais.
A solução sustentável apresenta pegada de carbono zero e elimina a necessidade do uso de carvão mineral ou vegetal. Segundo o engenheiro metalúrgico Leandro Miranda, sob orientação do professor Diego Lomonaco, que estuda o tema há quase 20 anos, o líquido da castanha de caju (LCC) é capaz de promover a briquetagem — processo de aglomeração de partículas finas.
Tradicionalmente, a siderurgia utiliza sínter e pelotas – material que exige alta temperatura e deriva de processos que emite grandes volumes de dióxido de carbono. A proposta da UFC é empregar o LCC como base para a produção de briquetes, aglomerados sólidos formados por partículas finas de minério.
Os briquetes são uma forma de compactar partículas finas e por reduzirem as emissões de carbono, têm o potencial de substituir o sínter e a pelota, que são produtos comumente usados na siderurgia, mas de elevado impacto ambiental.
O diferencial do LCC está em operar a baixas temperaturas e ser 100% biodegradável. “Esse aglomerante consegue fazer essa cola de forma limpa, sem introduzir impurezas como potássio, sódio ou silício”, explica Miranda.
Extração do líquido da castanha
No Brasil, ao contrário de outros países, a extração da amêndoa da castanha é feita por cozimento, gerando um óleo escuro e viscoso que representa cerca de 25% do peso da casca. O líquido da castanha do caju é difícil de descartar devido à sua lenta biodegradabilidade, sendo geralmente armazenado por empresas e utilizado como combustível em caldeiras, devido ao seu elevado poder calorífico.
Na siderurgia, um dos principais processos é a aglomeração de finos de minério, transformando pequenas partículas em corpos maiores usados na produção de aço. Com o LCC derivado da castanha, esse processo torna-se mais limpo e menos dependente de combustíveis fósseis, o que representa um grande avanço para a indústria.
Impactos na economia
A adoção do LCC oferece ganhos econômicos relevantes para a indústria siderúrgica. Por não gerar cinzas durante o processo, o líquido da castanha de caju simplifica o pós-processamento, reduzindo a formação de escória, minimizando resíduos e aumentando a eficiência na recuperação metálica.
Outro ponto importante é que a formulação à base de castanha é compatível com os sistemas industriais já existentes, podendo ser integrada sem necessidade de adaptações nas plantas. Essa flexibilidade, conhecida como “plug and play”, facilita a implementação da tecnologia.
Além disso, o LCC apresenta um custo significativamente mais baixo em comparação aos aglomerantes tradicionais usados na siderurgia. A economia direta se soma a benefícios indiretos, como a diminuição de gastos com o tratamento de resíduos e emissões, e a possibilidade de obtenção de créditos de carbono — o que reforça seu potencial financeiro e ambiental.
Entrada no mercado
A patente da tecnologia é compartilhada entre a Universidade Federal do Ceará (UFC) — responsável pela condução da pesquisa científica e dos testes em laboratório — e as empresas Regenera Bioenergia Indústria e Comércio Ltda. e Prorad Projetos de Engenharias, Análises Mercadológicas e Internacionais Ltda.
A colaboração com as duas empresas foi essencial para viabilizar o desenvolvimento tecnológico, o escalonamento da produção e a definição das estratégias de aplicação industrial. Pela parceria firmada, a UFC terá direito a uma participação nos lucros gerados por meio do licenciamento e da comercialização da tecnologia.
“Chegamos a ter uma conversa sobre a aquisição da propriedade intelectual, mas não chegamos a um acordo.”, relata Leandro Miranda. “Outras empresas têm procurado a gente para aplicar o produto, então estamos procurando parceiros para testar e mostrar que o nosso produto tem um bom desempenho”, pontua.