14/10/2025 11h58
O futuro da avicultura será digital e o Brasil precisa estar conectado
O Brasil é o segundo maior produtor de carne de frango do mundo, com 14,8 milhões de toneladas, e o maior exportador, respondendo por mais de 30% da produção nacional. Também ocupa a quinta posição na produção de ovos, com uma média de 242 unidades por habitante. Segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), a cadeia da avicultura gera cerca de quatro milhões de empregos diretos e indiretos. Desde 2000, a produção de carne quase triplicou e as exportações mais que quadruplicaram resultado de inovação em áreas como nutrição e aprimoramento genético.
Agora, a próxima fronteira é digital. Assim como em outros setores estratégicos, a inteligência artificial já redefine a produção de proteína animal. A análise de dados permite aprimorar a nutrição, prever doenças desde os primeiros sinais, algo crítico diante dos recentes casos de gripe aviária e monitorar em tempo real variáveis como temperatura, umidade e comportamento das aves. Essa capacidade de resposta imediata mostra que só a tecnologia será capaz de conciliar três demandas simultâneas: produzir mais, reduzir custos e diminuir o impacto ambiental.
A queda no custo de sensores e sistemas de monitoramento acelerou esse movimento. A chamada internet das coisas (IoT) já não é tendência, mas realidade consolidada. A IDC estima que, até 2025, o mundo terá 30 bilhões de dispositivos conectados, contra poucos bilhões de usuários humanos. A IoT tornou-se infraestrutura essencial para a digitalização global.
Outra transformação vem do transporte. Ganha espaço a prática de processar as aves diretamente nas propriedades e transportar apenas carcaças resfriadas, reduzindo riscos sanitários, custos logísticos e melhorando a qualidade da carne. O uso de blockchain garante rastreabilidade e transparência em toda a cadeia, fortalecendo a confiança do mercado.
Mas há um obstáculo que precisa ser superado: a falta de conectividade no campo. Dados do IBGE mostram que apenas 27% das propriedades rurais contam com conexão digital de qualidade. Para muitos produtores, o custo dos equipamentos ainda é um entrave que limita a adoção das tecnologias capazes de ampliar produtividade e competitividade.
Reduzir esse déficit digital é condição para que a revolução tecnológica chegue plenamente ao agronegócio. Mais do que ampliar redes, trata-se de criar as bases para que o produtor incorpore automação, IoT e análise em tempo real às operações do dia a dia.
O futuro já começou. Se o Brasil quiser manter sua liderança global na produção de alimentos, precisa assumir também a liderança na inclusão digital do campo. O país tem as condições técnicas e de mercado para ser referência internacional, mas só conseguirá se agir rápido, com visão de longo prazo e compromisso em oferecer ao agricultor as ferramentas que sustentarão a próxima revolução agrícola.
* Ricardo Amaral é Vice-Presidente de Vendas e Marketing de Enterprise da Hughes do Brasil
![]() Ricardo Amaral, vice-presidente de Vendas e Marketing de Enterprise da Hughes do Brasil Hughes do Brasil |