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Abrigo para atingidos por tornado de Rio Bonito tem acompanhamento médico e psicológico


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09/11/2025 07h43

Abrigo para atingidos por tornado de Rio Bonito tem acompanhamento médico e psicológico

História de Rubens Anater


 ENVIADO ESPECIAL A RIO BONITO DO IGUAÇU - O refeitório da Casa de Líderes da Igreja Católica de Laranjeiras do Sul (PR) tinha um cheiro aconchegante de sopa de galinha na noite de sábado, 8. Mas a refeição não era para integrantes de algum retiro, como costuma acontecer no local, e sim para um grupo de mais de 30 pessoas desalojadas pelo tornado que atingiu a cidade vizinha de Rio Bonito do Iguaçu na sexta-feira, 7.

Com ventos de mais de 250 km/h, a tempestade arrasou casas, destruiu empresas e causou a morte de ao menos seis pessoas, segundo informações da Defesa Civil. A estimativa do órgão é de que quatro mil pessoas foram atingidas, direta ou indiretamente. E, dessas, muitas ficaram sem ter aonde ir.

Na própria cidade de Rio Bonito não restou nenhuma construção capaz de acolher as pessoas desalojadas. Então a solução foi apelar para Laranjeiras do Sul, e os vizinhos atenderam ao chamado.

Além da sopa, o jantar do abrigo improvisado tinha marmitas, frutas, bolos e biscoitos. Segundo a professora Claudia Battistoni, voluntária no local, além da alimentação, é oferecido atendimento psicológico e de enfermagem por técnicos da universidade Campo Real, da cidade.

Tornado devastou Rio Bonito do Iguaçu, no interior do Paraná Foto: Daniel Castellano/AFP

O trabalho permite cuidar dos abrigados que ainda têm ferimentos do momento da tempestade, como Alcides de Oliveira. Aposentado, ele mora sozinho em Rio Bonito e feriu as costas quando a tempestade derrubou sua casa. “Me levaram para o hospital, fizeram um monte de exames, e agora me cuidam aqui”, contou ele.

Na cozinha e na organização do espaço, os voluntários são da igreja e da sociedade local. “Aqui nós fazemos a comida e vemos a questão dos medicamentos que eles precisam tomar, porque muitos vieram só com a roupa do corpo”, disse Claudia. Ela mostrou também os brinquedos reservados para crianças - duas mesas de doações, para ajudar a distrair os pequenos que também perderam seus lares.

“Estamos até pensando em fazer atividades para as crianças, porque elas não vão ficar um dia só por aqui”, comentou a voluntária. “Queremos transformar esse momento para todos, até para eles esquecerem um pouco o que aconteceu.”

Mesas com brinquedos direcionados para crianças acolhidas no abrigo em Laranjeiras do Sul Foto: Rubens Anater/Estadão

Alas e quartos separados

A Casa de Líderes é um espaço amplo, com vários quartos adequados para retiros religiosos, com alas separadas para homens e mulheres, além de um espaço com quartos para quem trabalha nesses eventos da igreja.

Assim, mulheres que chegaram de Rio Bonito sozinhas ficaram alojadas na ala feminina e homens, na ala masculina. Já famílias inteiras conseguiram quartos no espaço dos organizadores. “Não quisemos separá-los nesse momento, o que eles mais querem é ficar juntos”, contou Claudia.

Entre sexta e sábado, mais de 30 pessoas passaram pelo local, mas alguns já foram acolhidos por familiares.

No entanto, Claudia reforça que ainda há muitas pessoas sem casa que continuam em Rio Bonito. Ela acredita que o abrigo vai ficar mais cheio neste domingo, 9.

‘Depois de tudo, a gente veio para cá’

O aposentado e agricultor Paulo Oidella, de 54 anos, e seu filho Adriano, de 16, estão entre os abrigados. Paulo perdeu a casa e se machucou durante a tempestade - o vento arrancou a porta da residência enquanto ele tentava segurá-la fechada, e o jogou contra um canto da sala, enquanto toda a construção desabava.

Ele estava sozinho em casa e se machucou durante os poucos segundos de vento. Mas sua primeira preocupação, assim que saiu dos escombros, foi o Mercado Econômico, a uma quadra dali, onde os filhos trabalhavam. “Eu vi que a laje de cima tinha caído e me desesperei. Saí para rua, passando postes caídos, carros tombados, tudo no chão”, contou ele.

Adriano, que é empacotador, lembra que tudo escureceu e ele tentou correr, mas o vento quase o derrubou. Ele se agarrou ao primeiro móvel que encontrou e aguentou assim o momento mais pesado da ventania.

Quando o vento arrefeceu e a chuva começou a cair com mais força, ele encontrou Marcos, seu irmão mais velho, de 19 anos. E logo o pai chegou. “Nos agasalhamos por lá mesmo. Voltei para casa para buscar mais um cobertor, mesmo molhado, que aquece um pouco, e ficamos lá.”

Os três aguardaram perto do mercado até por volta das 20h, quando os bombeiros chegaram e levaram Marcos, que estava ferido, para o hospital. Paulo e Adriano foram para o abrigo e esperam Marcos receber alta.

“Temos que esperar, nem nossos documentos nós temos. Ficaram na casa”, disse Paulo. “Mas a gente vai achar, ou senão fazemos outros. O importante é que a gente está vivo.”





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