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- mell280
09/11/2025 08h14
Erika Hilton defende reparação histórica e critica o avanço do fundamentalismo religioso no Festival Nosso Futuro
Bianca Rocha
Deputada foi destaque do Fórum Brasil-França: Diálogos com a África, em Salvador, e encerrou sua fala com um abraço simbólico na ex-ministra francesa Christiane Taubira
A deputada federal Erika Hilton foi um dos destaques do Fórum Brasil–França: Diálogos com a África, realizado neste sábado (8), dentro da programação do Festival Nosso Futuro, em Salvador. Em sua fala, a parlamentar abordou temas como reparação histórica, racismo estrutural, fundamentalismo religioso e os desafios de ser uma mulher trans e negra em espaços de poder.
Ao refletir sobre a herança colonial e as formas como corpos negros e LGBTQIAPN+ ainda são desumanizados, Erika afirmou que discutir dignidade e direitos humanos segue sendo um desafio num contexto em que parte da sociedade insiste em enxergar essas populações a partir de uma lógica de desumanização. “No continente africano, nós estamos falando de sociedades e populações negras e LGBTs muito machucadas, violentadas, vulnerabilizadas, transformadas em quase, quase não — com toda certeza — animalescas diante dos olhos da sociedade. E é muito difícil discutir dignidade, direitos humanos e pertencimento social quando a sociedade olha para o nosso corpo de uma maneira animalesca”, disse.
A deputada também destacou a necessidade de que países como Brasil e França reconheçam suas responsabilidades históricas. Segundo ela, é preciso admitir o quanto as duas nações ainda sustentam estruturas de opressão e desigualdade. “Quando falamos de Brasil e França, estamos falando de países que precisam fazer urgentemente uma reparação histórica. É preciso reconhecer o quanto ainda reverberam hierarquias e filosofias de opressão. Negar o nazismo na Alemanha é crime; negar o racismo no Brasil é considerado um dia normal”, pontuou.
Durante a palestra, Erika também criticou o avanço do fundamentalismo religioso e a ausência de políticas públicas voltadas à população LGBTQIAPN+. Para ela, há uma tentativa de “modernizar” antigas formas de perseguição. “Há um modelo inquisitório de perseguição à comunidade LGBT dentro da política. O Brasil não tem uma legislação de cidadania e proteção às pessoas LGBTs. O que existe hoje são interpretações do Supremo Tribunal Federal — mas também precisamos pensar em qual será o Supremo de daqui a 20 ou 30 anos”, afirmou.
O encerramento da participação de Erika Hilton foi marcado por um gesto simbólico. Após a palestra, a deputada se encontrou com Christiane Taubira, ex-ministra da Justiça da França, reconhecida por seu papel na aprovação da lei que classificou a escravidão como crime contra a humanidade e pela autoria da chamada “Lei Taubira”, que garantiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo no país.
O abraço entre as duas, sob aplausos do público, sintetizou o espírito do Fórum — um espaço de escuta, partilha e reconhecimento mútuo entre lideranças negras de diferentes territórios, conectadas pela defesa da igualdade e dos direitos humanos.
Encerrado neste sábado (8), o Festival Nosso Futuro reuniu ao longo de três dias debates, performances e atividades culturais sobre diversidade, sustentabilidade e a construção de cidades mais inclusivas. Com curadoria tripartite — brasileira, beninesa e francesa —, o evento transformou Salvador em ponto de encontro entre a América Latina, a Europa e o continente africano, reafirmando o papel da cidade como referência internacional em cultura, diálogo e resistência.



