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Traição: a política no divã


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14/11/2025 12h59

Traição: a política no divã

Marco Espanha


Quem trabalha com política ou em áreas que apoiam sua estrutura, como a comunicação, sabe que a área é envolta pela atmosfera de desconfiança, especialmente no campo dos acordos e alianças. As costuras, armações e tramoias fazem parte do tabuleiro, assim como o abafamento dos processos que levarão à suposta “traição”, como se fosse um emaranhado de pessoas num “cabo de guerra”, em que as cordas se entrelaçariam influenciando no equilíbrio das outras. Mas o principal é que a gestão desse sistema é composta por gente ávida por poder, o que transforma o atropelo em metodologia.

Traição é o rompimento de um acordo ou compromisso estabelecido em um relacionamento, envolvendo a quebra de confiança e lealdade mútua. Nessa imensa teia de cordas tensionadas e de núcleos pensantes alinhados e dissonantes, as relações vão definindo a história da política e suas traições clássicas como a de Brutus a Júlio Cesar (44 a. C.) na história romana, cunhando a eterna frase: - Até tu, Brutus?  No Brasil, temos a clássica traição de Joaquim Silvério dos Reis contra Tiradentes (1789) e do Marechal Deodoro da Fonseca contra D. Pedro II (1889), talvez sejam as duas maiores de nossa história clássica.  Mais recentemente no século XXI, temos uma série delas, todas provocando rupturas e processos traumáticos nos governos brasileiros como investigações, prisões, impeachments e cancelamentos. E, é claro, não para por aí, enquanto existirem seres humanos, haverá traição.

Em sua obra, o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), afirma que “a consciência do sujeito é o discurso do outro”, ou seja, para ele o sujeito é constituído a partir da linguagem e das mensagens recebidas por terceiros. Portanto, o sujeito seria o resultado de uma estruturação da linguagem durante sua formação, sua vida. É como se fosse a combinação de pequenas partes desse todo – linguagem – na formação de suas emoções, expectativas e bases de relacionamento interpessoal. Assim sendo, qual a perspectiva do traidor e qual a do traído, qual a razão de cada um. Se a leitura se der dessa forma, o traído nunca verá a razão do traidor, que sempre achará uma justificativa plausível que ratifique sua traição. Talvez a formação da consciência do traidor tenha se dado justamente no contexto do: “alguém sempre me trairá” e o complemento seria: “portanto trairei primeiro”.

Particularmente penso que traidores na política e arredores, tem em sua formação de consciência a certeza de que sempre serão traídos. Independentemente de quem trairão, sejam os traídos honestos ou não, fiéis ou não, parceiros ou não, amigos ou não.

Nessa perspectiva, talvez o cenário se assemelhe mais a um poço lotado de tubarões sangrando, fica fácil imaginar as inevitáveis consequências.

*Guto Araújo é publicitário e estrategista de marketing político. Colaborou em 6 campanhas presidenciais no Brasil e América Latina e mais de trinta campanhas para governos estaduais e prefeituras. É Secretário Geral do CAMP e co-autor do livro Marketing Político no Brasil.

 



 

 

Traição: a política no divã

Quem trabalha com política ou em áreas que apoiam sua estrutura, como a comunicação, sabe que a área é envolta pela atmosfera de desconfiança, especialmente no campo dos acordos e alianças. As costuras, armações e tramoias fazem parte do tabuleiro, assim como o abafamento dos processos que levarão à suposta “traição”, como se fosse um emaranhado de pessoas num “cabo de guerra”, em que as cordas se entrelaçariam influenciando no equilíbrio das outras. Mas o principal é que a gestão desse sistema é composta por gente ávida por poder, o que transforma o atropelo em metodologia.

Traição é o rompimento de um acordo ou compromisso estabelecido em um relacionamento, envolvendo a quebra de confiança e lealdade mútua. Nessa imensa teia de cordas tensionadas e de núcleos pensantes alinhados e dissonantes, as relações vão definindo a história da política e suas traições clássicas como a de Brutus a Júlio Cesar (44 a. C.) na história romana, cunhando a eterna frase: - Até tu, Brutus?  No Brasil, temos a clássica traição de Joaquim Silvério dos Reis contra Tiradentes (1789) e do Marechal Deodoro da Fonseca contra D. Pedro II (1889), talvez sejam as duas maiores de nossa história clássica.  Mais recentemente no século XXI, temos uma série delas, todas provocando rupturas e processos traumáticos nos governos brasileiros como investigações, prisões, impeachments e cancelamentos. E, é claro, não para por aí, enquanto existirem seres humanos, haverá traição.

Em sua obra, o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), afirma que “a consciência do sujeito é o discurso do outro”, ou seja, para ele o sujeito é constituído a partir da linguagem e das mensagens recebidas por terceiros. Portanto, o sujeito seria o resultado de uma estruturação da linguagem durante sua formação, sua vida. É como se fosse a combinação de pequenas partes desse todo – linguagem – na formação de suas emoções, expectativas e bases de relacionamento interpessoal. Assim sendo, qual a perspectiva do traidor e qual a do traído, qual a razão de cada um. Se a leitura se der dessa forma, o traído nunca verá a razão do traidor, que sempre achará uma justificativa plausível que ratifique sua traição. Talvez a formação da consciência do traidor tenha se dado justamente no contexto do: “alguém sempre me trairá” e o complemento seria: “portanto trairei primeiro”.

Particularmente penso que traidores na política e arredores, tem em sua formação de consciência a certeza de que sempre serão traídos. Independentemente de quem trairão, sejam os traídos honestos ou não, fiéis ou não, parceiros ou não, amigos ou não.

Nessa perspectiva, talvez o cenário se assemelhe mais a um poço lotado de tubarões sangrando, fica fácil imaginar as inevitáveis consequências.

*Guto Araújo é publicitário e estrategista de marketing político. Colaborou em 6 campanhas presidenciais no Brasil e América Latina e mais de trinta campanhas para governos estaduais e prefeituras. É Secretário Geral do CAMP e co-autor do livro Marketing Político no Brasil.


 




 


 





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