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O programa Pescando Resíduos, uma iniciativa da BVRio, alcança este mês um marco importante: 500 toneladas de resíduos recuperados das ilhas, margens e manguezais da Baía de Guanabara. O feito foi celebrado durante a Rio Ocean Week 2025 em um painel dedicado à adaptação, resiliência e transformação do modo de vida dos pescadores artesanais que lideram essa ação coletiva.
Os pescadores participantes foram homenageados com uma placa feita de plástico reciclado, reconhecendo-os como ‘Guardiãs e Guardiões do Oceano’.
“O lixo é o maior inimigo dos pescadores, o que mais tiramos das redes é lixo, não peixe. Nosso sonho é ver essa quantidade diminuir. Agora com o programa temos reconhecimento e remuneração para fazer isso”, disse Branca Silva, pescadora artesanal.
Desde 2020, a BVRio apoia comunidades pesqueiras da Baía de Guanabara, envolvendo pescadores artesanais na coleta de resíduos marinhos como forma de complementar a renda e fortalecer a economia local.
“O programa vai muito além do impacto ambiental. Ele fomenta o estabelecimento de um mercado de trabalho digno e com propósito, capaz de transformar vidas e fomentar toda uma cadeia de valor. O desafio de despoluir a Baía de Guanabara é enorme e exige um trabalho contínuo e coordenado. Por isso, estamos criando as bases para estabelecer toda uma cadeia produtiva voltada à recuperação de resíduos e reciclagem.” Pedro Succar, engenheiro especialista em economia circular da BVRio, e gerente do projeto.
Em 2021, o projeto original foi publicado no Circular Action Hub, plataforma global criada pela BVRio para conectar soluções de economia circular a financiadores. Essa visibilidade possibilitou o matchmaking com a empresa italiana Ogyre, cuja parceria, estabelecida em novembro de 2021, permitiu consolidar a operação do programa na Baía de Guanabara e já beneficiou mais de 100 pescadores locais e atraiu novos parceiros, como a Ocyan (2023–2024). Juliana Miranda, analista de economia circular da BVRio, trabalha diretamente com as lideranças comunitárias:
“Estar com os pescadores todas as semanas mostra o quanto o projeto transformou o dia a dia deles. Mais do que recolher resíduos, eles passaram a se ver como parte da solução.”
Desde então, a BVRio atua como articuladora e facilitadora, conectando comunidades pesqueiras a cooperativas de reciclagem, órgãos públicos e empresas privadas para fortalecer as bases sociais e econômicas necessárias para que esse trabalho se mantenha ativo e sustentável. Como resultado desse processo e com o apoio da BVRio, os pescadores se organizaram de forma autônoma criando a Cooperativa de Trabalho de Catadores de Resíduos Marinhos (COOPROMAR), a primeira do tipo no Brasil, um marco que simboliza a consolidação da liderança comunitária e o enraizamento desse trabalho nas comunidades.
Adaptação e resistência por uma economia circular e inclusiva
Mais do que uma ação ambiental, o programa Pescando Resíduos é um ato de resistência, adaptação cultural e a estruturação de um novo mercado de trabalho que estabelece as bases para uma economia circular e inclusiva na região. Em meio à poluição crescente e às pressões da urbanização sobre as zonas costeiras, os pescadores encontram no projeto uma nova forma de manter seus vínculos com o mar e assegurar um futuro sustentável para suas comunidades.
“Como líder comunitária e mulher, fico orgulhosa de ver outras mulheres se envolvendo e ocupando seu espaço nesse trabalho. Isso tem inspirado também os mais jovens, que passam a se interessar pela atividade e a valorizar o mar. Esperamos que esse movimento se fortaleça e se mantenha vivo nas próximas gerações.” Gláucia Souza, líder comunitária e coordenadora local do programa, cofundadora e presidente da COOPROMAR.
A BVRio segue fortalecendo as bases estruturantes que sustentam o programa, tanto na formação dessa nova força de trabalho local quanto na criação das condições para o desenvolvimento de um mercado circular de recuperação de resíduos, articulando parcerias multissetoriais para fortalecer e integrar todos os elos da cadeia de valor, capaz de gerar renda e impacto ambiental positivo de forma contínua.
O projeto vem experimentando novas opções e parcerias para geração de energia e reciclagem de materiais em colaboração com a UFRJ. Essas ações visam conectar o conhecimento científico ao saber tradicional das comunidades pesqueiras, com potencial de aliar esse trabalho aos esforços de recuperação e conservação dos manguezais.
“O programa promove a remoção sistemática de resíduos plásticos das águas e manguezais e tornou-se um modelo pronto para ser replicado em outras zonas costeiras e fluviais do Brasil, Moçambique e do Sul Global como um todo, onde comunidades tradicionais enfrentam desafios semelhantes com resíduos mal geridos e perda de biodiversidade”, explica Maria Accioly, especialista em economia circular da BVRio.
Todas as coletas são registradas e rastreadas pelo aplicativo KOLEKT, que monitora o processo da coleta à destinação final com fotos, GPS e dados em tempo real. O sistema garante transparência e rastreabilidade, conectando as atividades dos pescadores às cooperativas de reciclagem e aos compradores de créditos, com base no Mecanismo de Créditos Circulares (CCM), um modelo de financiamento baseado em resultados ambientais e inclusão social.
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