16/12/2025 12h26
Entre convicção e polarização: Lições do caso Zezé de Camargo para o mundo corporativo
Em tempos de redes sociais, alcance instantâneo e opiniões amplificadas em segundos, o posicionamento deixou de ser apenas uma escolha pessoal e passou a ser um ato estratégico, sobretudo para quem ocupa espaços de liderança, influência ou representação institucional. Ter opinião é legítimo, necessário e saudável em qualquer democracia. O problema começa quando essa opinião é comunicada sem reflexão sobre impacto, contexto e consequência.
Não se trata de ficar em cima do muro, afinal a neutralidade absoluta, muitas vezes, é apenas uma forma elegante de omissão. Mas há uma diferença clara entre ter valores bem definidos e usar o poder de voz para alimentar a polarização. Em um Brasil já profundamente dividido, onde o debate público frequentemente se transforma em confronto, a forma como líderes, empresas e comunicadores se posicionam importa tanto quanto o conteúdo do posicionamento em si.
É preciso cautela com ideologia: marcas servem públicos plurais e, ao adotar discursos excludentes ou antagonistas, fazem escolhas estratégicas que afetam alcance, reputação e resultados. Casos recentes, como os desgastes da Disney, os boicotes à Starbucks e a repercussão do posicionamento de Zezé de Camargo, mostram que, em contextos polarizados, a forma de se posicionar pode custar mais do que a intenção. Isso não significa que empresas e líderes devam ser apáticos ou indiferentes às grandes questões sociais. Pelo contrário. Há causas que exigem posicionamento, especialmente quando envolvem direitos humanos, ética, legalidade e dignidade. O ponto central está na forma, ou seja, no “como se posiciona”. Há uma diferença substancial entre defender princípios universais e transformar discursos políticos em instrumentos de divisão. Quando o tom se sobrepõe ao propósito, a mensagem se perde e o efeito costuma ser o oposto do desejado.
No ambiente corporativo, essa atenção é ainda mais sensível. Organizações são feitas de pessoas com crenças, histórias e visões de mundo distintas. Um discurso polarizado pode gerar climas internos tóxicos, silenciar talentos, comprometer engajamento e reduzir a capacidade de colaboração. Empatia, neste contexto, deixa de ser apenas um valor moral e passa a ser uma competência estratégica. Ampliar a visão é compreender que discordar não é desumanizar. É possível sustentar opiniões firmes sem recorrer à provocação, ao deboche ou à simplificação excessiva do outro. É possível informar sem inflamar. Argumentar sem atacar. Liderar para o diálogo, e não para o conflito permanente.
O Brasil vive um momento em que o excesso de ruído compromete a escuta, e a urgência por likes muitas vezes substitui a responsabilidade pela palavra. Por isso, talvez o maior desafio contemporâneo não seja escolher um lado, mas escolher como ocupar o espaço público. Comunicação é poder e todo poder exige responsabilidade.
Ser estratégico, hoje, passa por entender que posicionamento não é vencer debates, mas construir pontes. Em um país marcado por desigualdades e tensões históricas, estimular empatia, ampliar repertórios e reduzir antagonismos pode ser mais transformador do que qualquer discurso inflamado. No fim do dia, liderar uma empresa, uma marca ou uma audiência é menos sobre convencer e mais sobre conectar. Isso, sim, é humanizar - algo que precisamos retomar e aprofundar; não é mesmo?
David Braga - CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent Executive Search, empresa de busca e seleção de executivos, presente em 30 países e 50 escritórios pela Agilium Group. É conselheiro de Administração e professor pela Fundação Dom Cabral, Presidente da ABRH-MG, VP do Conselho de RH da ACMinas e Presidente do Conselho de Administração da ONG ChildFund Brasil. Instagrams: @davidbraga | @prime.talent
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