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Área escolhida para aterro de lixo tem aquífero, córrego e gama de espécies


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  • mell280

06/12/2019 13h30

Área escolhida para aterro de lixo tem aquífero, córrego e gama de espécies

Jones Mário e Gabriel Neris


 A instalação do aterro está em fase de estudos. O Rima (Relatório de Impacto Ambiental), um dos passos para a construção, foi apresentado pela Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) em audiência pública, realizada na noite de quinta-feira (5).

De acordo com o relatório, maior parte da propriedade serve de pastagem para pecuária. Restaram, em uma ponta da fazenda, 3,4 hectares de cobertura vegetal original, correspondentes à reserva legal já existente.

No outro extremo da área passa o Pouso Triste, um dos córregos que dão origem ao Rio Anhanduizinho, afluente do Rio Anhanduí, principal curso d’água de Campo Grande.

Laudo geológico elaborado para o Rima aponta que, no local, as águas do Aquífero Bauru emergem e formam leitos fluviais.

 

Propriedade tem reserva legal de um lado e Córrego Pouso Triste do outro (Foto: Reprodução/Rima)

O estudo apresentado em audiência pública considera os impactos negativos do empreendimento na zona rural de Campo Grande. A principal preocupação é com possível contaminação do solo e da água.

Conforme laudo geológico, as características do solo na fazenda tornam “o aquífero local de alta vulnerabilidade à contaminação”.

A análise expôs ainda que 5 hectares da propriedade têm suscetibilidade alta ou muito alta aos processos erosivos, principalmente onde o lençol freático fica a até menos de dois metros de profundidade da superfície. 

Outros 31,6 hectares da fazenda foram classificados como de suscetibilidade moderada, com nível do lençol freático abaixo de quatro metros.

O laudo indica que as áreas de maior restrição são leito e margens do Pouso Triste, à oeste, e área de brejo, no centro-sul a sudoeste da propriedade.

Em profundidades menores que três metros, o estudo recomenda “medidas preservacionistas e conservativas, com a adoção de técnicas de bioengenharia”.

 

Fazenda tem regiões de brejo e pontos onde águas de aquífero emergem (Foto: Reprodução/Rima)Fazenda tem regiões de brejo e pontos onde águas de aquífero emergem (Foto: Reprodução/Rima)

O laudo também defende adoção das mesmas ações nos entornos da estrada adjacente, para frear o escoamento superficial a velocidades que não causem erosão.

O Rima é assinado pelo engenheiro sanitarista Marcos Duarte, técnico responsável pela OCA Ambiental. A empresa douradense está à frente da instalação do aterro, que promete ser o primeiro apto a receber lixo industrial na região de Campo Grande.

No documento, a OCA explica a criação de sistema de tratamento dos resíduos para disposição dos rejeitos em trincheira com sistema de drenagem, onde o chorume será captado. Depois, o efluente produzido vai para conjunto de lagoas de estabilização, ligadas em série para operar sobre fluxo contínuo. O produto será direcionado para recirculação na própria trincheira, com auxílio de moto bomba hidráulica. O mecanismo, segundo a empresa, impede a dispersão do efluente em corpos hídricos.
A princípio, a previsão é que o aterro gere 259,2 metros cúbicos de efluente por dia - dobro do volume de água represada hoje no Lago do Amor, por exemplo.

Fauna e flora - A empresa defende que o empreendimento em estudo não vai alterar a área de preservação permanente e, por isso, o impacto à flora e à fauna serão o mínimo possível.

Porém, o documento lista centena de árvores e bichos que fazem da Fazenda Colorado seu habitat. Do total, 40 espécies florestais ficam na área de pastagem.

 

Pelo menos 40 espécies de vegetação ficam na porção de pastagem (Foto: Reprodução/Rima)

Entre a vegetação local estão angicos-vermelho, araticuns, assapeixes, ararutas-do-campo, buritis, cascudinhos, abius, cássias, dedaleiros, guamirins-cascudos, guatambus-do-cerrado, lixeirinhas, paus-de-candeia, paus-angelim, paus-terra, patas-de-vaca, samambaias-anã, sucupiras e tarumaranas.

A população animal na propriedade é composta por aves, répteis, mamíferos e pequenos roedores, responsáveis pela dispersão de sementes, em especial de espécies frutíferas.

Foram identificados na fazenda asas-brancas, canários-da-terra, carcarás, coleirinhos, joãos-de-barro, jaçanãs, gaviões-carijó, rolinhas-roxas, sabiás-laranjeira, urubus-de-cabeça-preta; cutias, capivaras e preás; teiús-gigante, falsas-corais e até sucuris-verde. 

Assentados - Além da fauna e flora, a possível instalação de aterro sanitário e industrial na MS-040 refletiria no cotidiano de 92 famílias assentadas na Fazenda Caroline, vizinha à Colorado. O assentamento, subdividido nas associações Abelhinha e Bosque dos Lírios I e II, fica entre os km 31 e 32 da rodovia.

No Rima, a OCA Ambiental prevê “geração de renda e emprego para as comunidades vizinhas, contribuindo para a movimentação da economia regional”.

Durante a fase de implantação, a empresa estima dez contratações diretas. Quando em operação, o aterro pretende gerar 30 empregos.

Impacto - O decreto que cria o Silam (Sistema Municipal de Licenciamento e Controle Ambiental) enquadra o aterro em estudo como de alto potencial poluidor.

A OCA Ambiental assegura que os níveis de emissões atmosféricas previstas ao empreendimento não caracterizam risco aos trabalhadores, população e meio ambiente, uma vez que são baixas e ocorrerão em ambiente aberto e bem arejado.

A interessada na construção do aterro projeta o cercamento da área com arame farpado e plantação de cortina vegetal ao entorno da área.

Área eleita para abrigar aterro fica às margens da MS-040 (Foto: Reprodução/Rima)

A cerca, segundo a OCA, terá a função de limitar a ação de catadores, animais e outros elementos estranhos que possam prejudicar a operação do aterro.

A cortina vegetal, composta pelas árvores nativas e plantio de bambus, será feita nas áreas de pastagem no perímetro da propriedade.

Ouvido após a audiência pública de quinta-feira, Marcos Duarte disse que a OCA Ambiental quer “atender a necessidade da indústria [de Campo Grande]”.

Sobre a área de reserva legal na propriedade, Duarte ressaltou que há uma distância segura. “Não haverá desmatamento. Não é lixão”, repeliu.

O engenheiro sanitarista também disse que é muito cedo para fazer previsão para início das atividades.

A reportagem procurou o titular da Semadur, Luís Eduardo Costa, que não atendeu ou retornou as ligações até a publicação deste texto.

 




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