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Em hospital, bebê só tem alta de UTI depois que tirar foto com enfermeiras


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08/12/2019 08h02

Em hospital, bebê só tem alta de UTI depois que tirar foto com enfermeiras

Paula Maciulevicius Brasil


 Quando a incubadora vira bercinho, o relógio parece andar um minuto e voltar três. Na UTI neonatal, o sofrimento das mães só é amenizado por elas: as enfermeiras que se revezam nos cuidados com os nenéns. Entre os altos e baixos de ter um filho internado sob cuidados de uma unidade intensiva, elas são a calmaria. Quem transforma os apitos e alarmes do maquinário da unidade em poesia. Do hospital El Kadri, em Campo Grande, ninguém sai de alta da UTI sem antes tirar uma foto com a turma.

A despedida mais alegre que existe é quando um bebê tem alta. O tchau acaba em fotografia e a relação entre equipe e família continua portas afora. De Rondônia, o sotaque da técnica de Enfermagem, Carla Viana, é todo acolhedor. Ela é a que mais aparece nas fotos com os bebês. "É bom dar tchau, mas ao mesmo tempo é ruim. Você vê a alegria dos pais indo levar o bebê para casa, onde já montaram toda a estrutura para recepcionar aquela criança, mas é ruim porque você acaba se apegando tanto com o bebê quanto com os pais", conta Carla, de 37 anos. 

São 10 leitos e cada técnica fica pelo menos uma semana com um bebê. "É o tempo suficiente para conhecer, se apegar. Eles são muito frágeis, muito inocentes, então você se apega a eles e aos pais, que chegam aqui completamente fragilizados", descreve.

A maternidade fica no 4º andar do hospital, a UTI no 2º. Quem sai do elevador, vira à direita e já encontra um sofá que fica ocupado por pais de bebês internados quando alguma das crianças está passando por procedimento e todo mundo precisa sair. Fora isso, o acesso é liberado 24h.


"A gente se comove muito, é empatia que fala, não é? Então assim, a gente procura dar o melhor conforto para a mãe essas horas. Porque os bebês são muito instáveis, eles tem um quadro de piora do dia para a noite", relata Carla.

As fotos só não são tiradas se tiver alguma intercorrência na unidade ou admissão de um novo pacientizinho. "Mas é bem raro, a gente tira foto mesmo, comemora e vibra bastante. As mães acabam voltando para trazer os bebês pra gente ver e ficamos muito felizes com isso. Não tem preço quando eles voltam", diz a técnica.

Pelo WhatsApp, a equipe e a família continuam a troca de fotos e notícias e nas redes sociais, Carla acompanha o crescimento dos bebês e também dos irmãozinhos. "Toda criança que passa por aqui amrca uma história e essa amizade permanece", acrescenta. Uma delas é Malu, Maria Luíza, a primeira bebê a inaugurar a UTI. "Aprendi tudo o que eu podia aprender com ela. Foi a primeira bebê que entrou quando abriu a neo aqui e quando ela foi embora eu quase desidratei de tanto chorar. Os pais são muito queridos", recorda.

Foi Malu e todos os outros bebês que vieram em seguida que fizeram Carla reafirmar a certeza que carrega desde criança. "Eu sempre me identifiquei com a área da saúde, mas a neo foi um presente de Deus, porque eu trabalhei em todas as áreas que você imaginar, aqui foi onde aprendi tudo e não quero mais sair", resume Carla.

A unidade conta com cinco técnicas de enfermagem, uma para cada dois bebês, mais a enfermeira e médica de plantão, um total de sete pessoas. Entre elas a enfermeira Ana Carolina Donatti, de 28 anos. "Só quem convive com a neo sente isso. A gente fica muito feliz de ver uma mãe levando um filho para casa, porque muitas vezes ela acha que isso nunca ia acontecer", fala.


O período de internação depende muito do caso de cada criança, mas tem mães que já passaram mais de três meses entrando pela porta da UTI para ver o bebê ali todos os dias. "Eu me sinto parte da família, por isso é triste a partida, mas é sinal que a criança está crescendo e depois eles pegam nosso contato e ficam mandando foto, isso é muito gostoso", reforça.

De praxe, quem ficou à frente dos cuidados com o bebê acompanha pais e paciente até o carro ou o quarto, mas faz o caminho com o coração apertado, como quem se despede de um filho. "Para mim, eles são filhos. O pessoal me pergunta: 'você tem filhos?' E eu falo, 10. É um momento muito esperado pela gente que trabalha ali com eles e é uma recordação para ser guardada para eternidade". 

 




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