- mell280
26/08/2011 17h00
Em 2009, ano de crise, receita do setor de serviços avança 10,9%
Economia brasileira é ainda mais pujante no setor de serviços (Mario Rodrigues) Setor emprega quatro vezes mais que a indústria e responde por mais da metade do PIB Pesquisa do CNI aponta que 69% das empresas enfrentam dificuldades com a falta de trabalhadores qualificados Em 2009, ano marcado pela crise financeira mundial que começara no ano anterior, o setor de serviços no país, excluído o ramo financeiro, gerou receita operacional líquida – diferença entre a receita bruta e o pagamento de impostos, abatimentos, descontos e vendas canceladas – de 745,4 bilhões de reais. Dada sua relativa independência do mercado externo, o faturamento do segmento registrou crescimento de 10,9%. A expansão no ano anterior havia sido de 18%, mas ainda assim a performance não foi nada desprezível – ainda mais quando se considera que o PIB da economia brasileira em 2009 fechou com retração de 0,6%. As informações são da Pesquisa Anual de Serviços 2009 (PAS), divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento contabilizou 918,2 mil empresas de serviços não financeiros, que ocuparam 9,7 milhões de pessoas e pagaram 143,5 bilhões de reais em salários e remunerações. “O setor de serviços é tão importante no Brasil porque emprega aproximadamente quatro vezes mais que a indústria e tem um peso enorme na configuração do PIB”, aponta o economista Raul Velloso. Por este motivo, o setor é considerado estratégico para o bom andamento da economia brasileira e foi um dos fatores que fizeram com que o Brasil não fosse tão afetado pela crise financeira em 2008. Segundo a pesquisa, o Produto Interno Bruto de 2009 foi de 3,1 trilhões de reais, sendo que apenas o PIB de serviços – somados todos os seus segmentos, incluindo o financeiro – foi de 1,8 trilhão de reais. Para se ter ideia de sua importância, o PIB da indústira totalizou 686 bilhões de reais. Ainda de acordo com a PAS 2009, as empresas do setor de serviço com 20 ou mais pessoas ocupadas somaram 50,6 mil, 5,5% do total, mas representaram 78,7% da receita operacional líquida (586,3 bilhões de reais) e 65,8% do pessoal ocupado. Entre as regiões brasileiras, as empresas de serviços do Sudeste destacaram-se em todos os quesitos da PAS. Elas foram responsáveis por 66,4% da receita bruta de prestação de serviços, 60,7% do total de pessoal ocupado, 67,2% da massa de salários e outras remunerações pagas e por 60,2% do número de empresas. Serviços e a crise – Em uma eventual nova crise, desencadeada pelas dívidas soberanas nos Estados Unidos e na zona do euro, o país pode não ter a mesma sorte. A diferença é que, em 2008, as nações emergentes, como Brasil e China, estavam em franca expansão. A situação de agora é um pouco mais sóbria. Ante os alertas de superaquecimento e inflação em seus mercados internos, os governos destes países vêm tomando medidas para desacelerar a atividade econômica. A presidente Dilma Rousseff, apesar de não fazer uso de declarações carnavalescas, como era do gosto de Lula, alterna-se entre o otimismo, dizendo que o Brasil está preparado, e declarações enigmáticas, tais como “a crise vai ser isso que estamos vendo: um dia está pior, outro dia está melhor”, como afirmou nesta semana. O crescimento do ramo de serviços no país seria certamente mais garantido se este não sofresse tanto com o problema de falta de mão de obra qualificada. Uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que consultou 1,6 mil empresas, divulgada em abril deste ano, mostra que 69% das 1.616 companhias consultadas enfrentam dificuldades com a falta de trabalhadores qualificados. Ainda que a pesquisa abranja o univeso da indústria, analistas ouvidos pelo site de VEJA dizem que o problema é igualmente grave na área de serviços, que emprega desde atendentes de lojas quanto consultores altamente qualificados. “O Brasil tem boas perspectivas de crescimento, que devem ser puxadas com eventos como a Copa e as Olímpiadas. Mas as empresas sofrem muito com a baixa qualificação da mão de obra, e tem de gastar com treinamento de pessoal”, disse Paulo Lofreta, presidente da Central Brasileira do Setor de Serviços (Cebrasse). "Muitas vezes, tão logo o profissional encerra o treinamento, já recebe uma oferta mais atraente de salário da concorrência e muda de emprego, tão acirrada é a competição por pessoal qualificado", acrescentou. Terceirização – Por conta da competição com as indústrias asiáticas, sobretudo as chinesas, muitos países apostam no setor de serviços para alavancar a economia, pois reconhecem a imensa dificuldade de competir com os produtos oriundos destes mercados. Os Estados Unidos são pioneiros na terceirização e transferência de produção para locais onde os custo produtivos e com mão de obra são menores. Assim, a americana Apple, a empresa mais valiosa do mundo, concentra-se no conceito e no design 'matadores' de seus produtos, deixando o trabalho de fabricar os aparelhos para empresas como a taiwanesa Foxconn, que abrirá uma fábrica no Brasil. Esta opção possui toda a racionalidade econômica. Por outro lado, analistas afirmam que, justamente por conta do problema da falta de qualificação, a economia brasileira não pode se dar ao luxo de abrir mão dos empregos nos ramos industrial e agrícola. “O Brasil não está pronto para depender unicamente de serviços, e deixar de lado a indústria, pois seríamos caracterizados como um país de mão de obra não-qualificada”, explicou Flávio Castelo Branco, gerente de política econômica da CNI. Em resumo, os números do setor de serviços no país são impressionantes, mas poderiam ser ainda maiores se houvesse maior investimento em qualificação. Não tem segredo, é preciso investir em educação e formação para garantir o futuro dos serviços e da empregabilidade. E isto não acontece do dia para a noite. Um dos indicadores observados por investidores internacionais antes de colocarem seu dinheiro em determinado local são os níveis de educação. No Brasil, a nota para este aspecto ainda está no vermelho.