- mell280
13/09/2024 04h18
Nesta quinta-feira (12), missão de Direitos Humanos visita território Avá-Guarani ameaçado por fazendeiros e jagunços no oeste do Paraná
- Delegação reúne entidades indigenistas e de direitos humanos, movimentos sociais, autoridades e personalidades públicas
- Objetivo da missão é prestar solidariedade aos Guarani, ouvir as comunidades e articular apoio às demandas e direitos humanos destes povos, que vêm sofrendo com a escalada de episódios de violência nos últimos dois meses
Quinta-feira, 12 de setembro de 2024 – A missão de direitos humanos organizada pelo Coletivo de Solidariedade e Compromisso com os Povos Guarani visitou, nesta quinta-feira (12/09), três retomadas no território Avá-Guarani delimitado pela Terra Indígena Guasu Guavirá: as tekoha Arakoe, Araguaju e Yhovy, nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, oeste do Paraná. Amanhã (13/09) a delegação também está programada para visitar a Terra Indígena Panambi de Lagoa Rica, em Douradina (MS).
Participam do coletivo a Comissão de Direitos Humanos D. Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns, o Conselho Indigenista o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), Aty Guasu (a Grande Assembleia Guarani e Kaiowá), Campanha Contra a Violência no Campo, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Rede de Apoio e Incentivo Socioambiental (Rais), grupos locais de apoio aos povos Avá-Guarani e Guarani e Kaiowá e pastorais sociais. Autoridades públicas participam da missão, com representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Ministério dos Direitos Humanos (MDH), entre outros organismos de governo, caso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e Defensoria Pública da União (DPU).
Na visita à Terra Indígena Guasu Guavirá, integrantes da missão escutaram as comunidades Avá-Guarani e documentaram as demandas. Na tekoha Yhovy, em Guaíra (PR), a cacica Paulina Avá-Guarani relatou que a causa de seu povo é invalidada por autoridades locais, que os acusam de serem paraguaios se passando por indígenas para obter benefícios governamentais. “Enquanto isso, a verdade é que, em Guaíra e Terra Roxa, nenhum prefeito nunca nos considerou como parte da sociedade. Então, para conseguir acesso a qualquer direito, como atendimento à saúde e matrículas nas escolas, sempre precisamos recorrer ao Ministério Público Federal”, afirma.
A cacica conta que, no dia 10 de janeiro deste ano, o povo Avá-Guarani sofreu uma emboscada que atingiu seu líder espiritual e feriu mais três pessoas na frente de um altar sagrado. “Naquele momento, pude sentir e perceber que nós não temos mais segurança nenhuma nem em frente ao nosso altar nem dentro da casa de reza”, diz. “O que nós estamos fazendo hoje é usar nosso próprio corpo de escudo para defender o nosso território ancestral, porque aqui existem histórias, aqui tem corpos enterrados, e essa terra é manchada pelo sangue Guarani. Nós pertencemos a esse território tanto quanto esse território pertence a nós”, explica.
A fumaça proveniente dos incêndios florestais deteriora ainda mais o ar e a paisagem de uma terra castigada pelos monocultivos. Mesmo diante de tais adversidades, somadas à violência de fazendeiros e jagunços, os Avá-Guarani manifestaram mais uma vez a decisão de permanecer nas áreas retomadas.
A Terra Indígena Guasu Guavirá está em processo de demarcação. A reivindicação dos cerca de cinco mil Avá-Guarani que lutam pelo território é de 24 mil hectares divididos em três áreas descontínuas, em ilhas.
Com o objetivo de pressionar a demarcação e fugir do confinamento em pequenas áreas, os Avá-Guarani retomaram ao menos sete pequenos espaços. Nesses locais ocorrem os episódios de violência vistos nos últimos dois meses.