- mell280
04/12/2024 14h23
Os impactos da dolarização no mercado financeiro global e local
Por João Gentina, especialista em investimentos no exterior da WIT Invest
João Gentina, especialista em investimentos no exterior da WIT Invest
- A dolarização é adequada para todos os perfis de investidores ou depende de objetivos e tolerância ao risco?
A dolarização não é necessariamente adequada para todos os perfis de investidores, pois depende em grande parte dos objetivos individuais e da tolerância ao risco. Embora investir na maior bolsa de valores do mundo atrelada à economia mais estável possa ser uma grande estratégia de diversificação, a decisão de alocar ativos em dólares deve considerar a capacidade e os objetivos financeiros do investidor.
Para investidores focados em títulos e que procuram exposição a mercados robustos, uma alocação em dólares faz sentido, mas a proporção alocada deve ser calibrada ao perfil de risco do investidor. Os investidores conservadores podem optar por uma exposição limitada para salvaguardar o seu capital, enquanto aqueles com maior apetite pelo risco podem alocar uma parcela maior para explorar retornos potenciais. Em suma, a dolarização é uma ferramenta poderosa, mas a sua adequação varia de acordo com o contexto e as necessidades de cada investidor.
- Quais setores da economia brasileira podem ser mais impactados por uma eventual desvalorização ou valorização do dólar?
Os sectores positivamente impactados por um dólar mais forte incluem a agricultura, a mineração, o papel e a celulosa, uma vez que essas indústrias geram receitas em dólares através das exportações. Um dólar mais forte aumenta a sua competitividade e rentabilidade no mercado internacional.
Por outro lado, setores como o automóvel, o farmacêutico, o petróleo e seus derivados e o retalho são afetados negativamente por um dólar mais forte. Isso ocorre porque muitos dos produtos vendidos localmente no Brasil estão atrelados a custos denominados em dólares, o que os torna mais caros. As empresas que dependem de matérias-primas importadas também enfrentam uma pressão financeira crescente, o que pode levar a preços mais elevados ao consumidor e a margens de lucro reduzidas.
- Quais são as melhores opções para quem deseja investir em ativos dolarizados, como ETFs, ações estrangeiras ou fundos cambiais?
A escolha depende da capacidade financeira e dos objetivos do investidor. Para quem tem patrimônio líquido acima de R$ 1 milhão, o envio de recursos para o exterior pode ser vantajoso, pois o custo da remessa é compensado pelos retornos potenciais e pelas oportunidades estratégicas disponíveis nos mercados globais.
Para aqueles com um património líquido mais baixo, as alocações locais através de ETFs são mais econômicas e práticas. ETFs como WRLD11 (diversificação global), IVVB11 (índice S&P 500), BNDX11 (renda fixa global) e USDB11 (renda fixa dos EUA) oferecem aos investidores brasileiros acesso a ativos internacionais com custos reduzidos. No entanto, os ETFs locais ainda acarretam riscos regulatórios e geográficos brasileiros, portanto a abordagem ideal depende do equilíbrio entre conveniência, custo e necessidades de diversificação.
- Investir diretamente em empresas americanas é uma boa alternativa ou há outros meios mais acessíveis para investidores brasileiros?
Investir diretamente em empresas americanas é uma excelente forma de acessar oportunidades na maior bolsa de valores do mundo, mas não é a única opção. Para os investidores brasileiros, existem formas mais acessíveis de alcançar a diversificação global, como os ETFs negociados na B3, a bolsa de valores do Brasil. Estes instrumentos permitem a exposição aos mercados globais sem a necessidade de enviar fundos para o estrangeiro, reduzindo assim as barreiras à entrada.
No entanto, investir através de ETFs locais ainda acarreta riscos geográficos brasileiros, uma vez que esses ativos estão vinculados ao ambiente econômico e regulatório local. Em última análise, a escolha entre investimentos diretos no exterior e ETFs locais depende dos objetivos do investidor, da capacidade financeira e da tolerância ao risco.
- Quais erros os investidores devem evitar ao dolarizar parte do patrimônio?
O maior erro na dolarização de ativos é não adotar uma perspectiva de longo prazo e agir movido pela emoção. Isto pode gerar arrependimento, principalmente se o investidor decidir repatriar os recursos em condições desfavoráveis, incorrendo em perdas desnecessárias.
Ao dolarizar ativos, é essencial reconhecer que estes fundos devem permanecer no estrangeiro durante anos e só serem recuperados em casos de absoluta necessidade. Os investidores devem mudar a sua mentalidade, evitando a conversão constante dos seus ativos de volta para reais, e em vez disso pensar em termos de “dois bolsos” – um em reais para necessidades locais e outro numa moeda forte como o dólar para diversificação e estabilidade. Esta abordagem estratégica garante que os benefícios da dolarização sejam concretizados sem serem prejudicados por flutuações de curto prazo ou decisões emocionais.
- Você acredita que outras moedas, como o euro ou o yuan, podem ser alternativas viáveis para diversificação cambial no portfólio?
Não, investir diretamente em empresas americanas não é a única opção, pois para obter uma boa diversificação é necessário ter acesso fácil tanto ao envio quanto à aplicação do patrimônio. A dolarização não deve ser feita apenas para manter os recursos parados, mas para permitir investimentos estratégicos que aproveitem as vantagens de uma moeda forte.
Atualmente, para brasileiros, tornou-se muito mais simples dolarizar e investir em ativos no exterior graças a plataformas como a XP Internacional, que oferecem acesso a mercados globais e uma ampla gama de produtos financeiros. Além disso, a dolarização pode trazer benefícios práticos, como a possibilidade de utilizar o dinheiro ou seus rendimentos diretamente em viagens internacionais, sem preocupações com conversões cambiais, dado que o dólar é amplamente aceito no mundo todo. Essa abordagem une diversificação, segurança e conveniência.
- Quais fatores econômicos e políticos influenciarão o movimento de dolarização em 2025?
A maior preocupação hoje é o cenário político, que está diretamente ligado aos desafios fiscais do Brasil. O país enfrenta uma situação crítica onde a maior parte dos gastos públicos são obrigatórios, impedindo cortes imediatos e exigindo processos legislativos complexos no Congresso e no Senado para eventuais ajustes. Isto sublinha a responsabilidade premente da classe política em abordar eficazmente as questões fiscais.
Apesar das medidas de arrecadação de receitas, como o restabelecimento das alíquotas do PIS e da Cofins, a nova tributação dos combustíveis, a tributação da renda estrangeira e os impostos sobre bens importados, mesmo com consecutivas arrecadações recordes de receitas, os gastos públicos continuam a superar os níveis observados mesmo durante a pandemia de COVID-19. É crucial que o governo “faça o seu trabalho de casa”, dando prioridade aos cortes nas despesas e à eficiência fiscal antes de considerar novos benefícios ou isenções. Sem fechar a “torneira da despesa”, a situação fiscal tornar-se-á insustentável, agravando ainda mais os desafios económicos do país.
- O que podemos esperar do dólar frente ao real no próximo ano, considerando os cenários globais e locais?
Na WIT, prevemos um dólar mais forte nos próximos anos, especialmente em uma administração Trump adotar políticas protecionistas, como o aumento de impostos sobre bens importados e a redução de impostos para empresas e cidadãos americanos. Isto provavelmente fortaleceria o dólar em relação a outras moedas em todo o mundo.
No entanto, o protecionismo poderá introduzir desafios para a economia dos EUA. Por exemplo, evitar importações mais baratas (por exemplo, um produto que custa 5 dólares da China) em favor de alternativas nacionais mais caras (por exemplo, 10 dólares pelo mesmo produto) poderia levar à inflação nos EUA. Além disso, este aumento de custos teria repercussões a nível mundial, uma vez que os produtos fabricados nos EUA que dependem de componentes importados (agora sujeitos a tarifas) se tornariam mais caros para exportar, amplificando a inflação nas cadeias de abastecimento globais.
- Que impactos positivos e negativos a dolarização podem ter nos portfólios dos investidores brasileiros em 2025?
O principal benefício da dolarização da riqueza é proteger o poder de compra e preservar o capital a longo prazo. Por exemplo, nos últimos 30 anos desde o Plano Real, o dólar se valorizou significativamente, passando de R$ 1,00 para cerca de R$ 6,00 (em 02/12). Isto destaca como a detenção de ativos numa moeda mais forte como o dólar pode proteger contra a desvalorização do real.
O principal risco está na volatilidade da moeda brasileira, que pode criar uma falsa percepção de perdas no curto prazo. Por exemplo, se um investidor comprar R$ 10.000 a R$ 6,00 (gastando R$ 60.000) e a taxa de câmbio depois cair para R$ 5,40, o valor em reais cairia para R$ 54.000, aparentemente uma perda de R$ 6.000 (10%). Porém, o investidor ainda detém US$ 10 mil, mantendo o valor em dólares. Em vez de se concentrar nas flutuações de curto prazo, esta situação poderia ser vista como uma oportunidade para fazer remessas adicionais a um custo mais baixo em dólares, reforçando uma estratégia de longo prazo.
- Como a evolução das novas tecnologias, como as moedas digitais de bancos centrais (CBDCs), pode influenciar a visão sobre o dólar como ativo seguro?
As Moedas Digitais do Banco Central (CBDCs) oferecem maior controle e transparência nas transações, proporcionando segurança e estabilidade ao sistema financeiro. No entanto, é crucial lembrar que estas moedas digitais permanecem ligadas às economias ou aos países que as emitem, o que significa que a sua força depende da estabilidade dessas nações. Embora as CBDC possam representar uma ameaça potencial ao domínio do dólar, a sua implementação também cria oportunidades para os Estados Unidos consolidarem a sua liderança global, dada a sua influência económica e capacidade de inovação tecnológica.
Sendo a maior economia do mundo, os Estados Unidos já lideram muitos avanços tecnológicos importantes, dando ao dólar uma vantagem competitiva mesmo num cenário de crescente adoção de CBDC. A integração destas tecnologias no sistema financeiro global irá provavelmente reforçar a posição do dólar como referência, solidificando-o ainda mais como moeda principal para transações internacionais. Assim, os CBDCs podem não só desafiar o dólar, mas também servir como uma ferramenta para expandir o seu domínio no futuro sistema financeiro digital.
- Em um cenário de maior instabilidade, a dolarização pode ser uma estratégia defensiva ou ofensiva para os investidores em 2025?
A instabilidade nos mercados financeiros aumenta significativamente a volatilidade, tornando mais difícil avaliar os ativos e planear economicamente. Sem clareza quanto às perspectivas, as decisões empresariais e de investimento tornam-se mais arriscadas, exacerbando a incerteza. Neste contexto, o dólar destaca-se como uma ferramenta de proteção, impulsionada pela estabilidade política e econômica dos Estados Unidos. Enquanto países como o Brasil enfrentam mudanças abruptas e incertezas que afetam as suas moedas, os EUA proporcionam maior previsibilidade e confiança, reforçando o papel global do dólar.
Com isso, o dólar é amplamente utilizado como porto seguro durante crises, tanto por investidores quanto por empresas que buscam salvaguardar seus ativos contra a desvalorização do real. O dólar mitiga os efeitos da volatilidade local, oferecendo maior segurança nos contratos internacionais e nas reservas financeiras. A solidez institucional e econômica dos EUA sustenta diretamente a confiança global no dólar, solidificando o seu papel como âncora em meio à incerteza, enquanto o Brasil permanece mais vulnerável a flutuações e desafios internos.
Sobre a WIT - Wealth, Investments & Trust
A WIT - Wealth, Investments & Trust - é assessoria, planejamento e execução para cuidar do patrimônio de pessoas, grupos familiares e empresas, de forma integral e sincronizada, apoiada por uma sofisticada estrutura de especialistas e de empresas que atuam de forma independente, porém complementar.
O multi family office atua nas áreas de assessoria de investimentos; fundos exclusivos; câmbio e remessas internacionais; serviços financeiros (principais linhas de crédito) e emissão de dívidas em mercado de capitais; seguros e benefícios; ativos imobiliários e consultoria patrimonial. Atualmente, a empresa está presente em nas capitais de São Paulo e Paraná, em Curitiba, e em cidades do interior paulista: Campinas, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, São João da Boa Vista, Araçatuba, Votuporanga, Jundiaí e Itu.
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