- mell280
15/01/2025 12h26
Engajamento de jovens e mulheres é chave para desenvolver a bioeconomia
Projeto "Conexão Amazônia", realizado pelo Idesam com recursos da empresa francesa CNP Seguradora, fortalece a gestão comunitária e a comercialização de produtos da floresta. A expectativa é dobrar os negócios da empresa coletiva Inatú Amazônia em 2025
Investimentos na gestão e infraestrutura de organizações comunitárias, promovendo empreendedorismo e geração de renda, têm sido estratégicos para o fomento de uma economia sustentável na Amazônia. No desafio de valorizar a floresta em pé, o apoio técnico para extração, beneficiamento e comercialização mais justa de produtos da sociobiodiversidade contribui não só para ampliar negócios de impacto socioambiental. O modelo demonstra o potencial de atrair jovens e mulheres – ribeirinhas e indígenas – para novas alternativas econômicas e melhor qualidade de vida, com redução do êxodo para as cidades.
É o caso da iniciativa “Conexão Amazônia”, realizada pelo Idesam com R$ 2,5 milhões da seguradora francesa CNP Assurances, visando à estruturação de cadeias produtivas em cinco associações comunitárias de diferentes municípios do Amazonas. Ao promover apoio técnico e de gestão, o projeto prevê o fortalecimento social de pelo menos 500 famílias em Unidades de Conservação e Terras Indígenas. O alvo principal está no extrativismo e beneficiamento de óleos vegetais, castanhas e movelaria de pequenos objetos de madeira, além do plantio de mais de 5 mil árvores para restauração de áreas impactadas nas comunidades.
As associações parceiras integram a empresa de origem comunitária Inatú Amazônia, com o diferencial de garantir a compra antecipada da produção comunitária em melhores condições de preço, com menor dependência de intermediários, e fazer a revenda no mercado da bioeconomia. Em apenas 06 meses de operação, foram comercializadas 7,2 toneladas de produtos do extrativismo, com receita de R$ 1,66 milhão, no total de 319 famílias de produtores. Até julho de 2025, a meta é ultrapassar R$ 2 milhões de vendas.
O modelo tem permitido a presença da marca coletiva em grandes eventos nacionais, como a feira de aromaterapia Conaroma Experience, em Santa Catarina, com maior visibilidade no mercado. E novidades estão por vir, no próximo ano, a partir da extração de subprodutos de óleos nativos hoje não aproveitados.
Junto ao suporte para novos produtos, a estratégia do projeto “Conexão Amazônia” inclui o plantio de árvores em sistema agroflorestal no objetivo de recuperar áreas desmatadas para pequenos roçados nas comunidades, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (AM), conforme permitido no plano de gestão da unidade.
Em fevereiro de 2025, serão plantadas mais de 12 mil árvores, sendo 5 mil com apoio do Conexão Amazônia.
“Além das práticas sustentáveis, busca-se como diferencial o protagonismo social das comunidades”, afirma Marcus Biazatti, líder de produção sustentável do Idesam. O objetivo é fortalecer a gestão da organização comunitária como um empreendimento, com maior participação de jovens e mulheres, mantendo as características da origem florestal. “Esse engajamento tem aumentado a capilaridade das ações, principalmente com o atrativo do uso de tecnologias e aplicativos de celular nas atividades”, reforça Biazatti.
“Buscamos fortalecer a produção e a defesa do território”, ressalta Laureni Flores, presidente da Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (APADRIT), no município de Lábrea (AM). No projeto Conexão Amazônia, além de consultoria para a gestão institucional, cerca de 140 famílias receberam capacitação técnica no manejo florestal, como a extração de óleo de copaíba. Os produtores vendem o produto a cerca de R$ 60 o quilo para a marca coletiva Inatú Amazônia – o dobro do valor pago por atravessadores.
A organização social mais estruturada tem favorecido, também, o manejo do pirarucu e novos bioprodutos na Reserva Extrativista (Resex) do Rio Ituxi. Em fevereiro de 2025, será inaugurada uma movelaria comunitária, com apoio do Idesam e Fundo Vale, para o beneficiamento de objetos de madeira sustentável. “Essas novidades já estão trazendo jovens de volta para a floresta, o que é muito importante, porque – além da oportunidade de renda – a permanência deles nas comunidades é essencial à proteção contra grileiros e posseiros que causam desmatamento”, explica Flores. Além disso, é crescente a participação de mulheres nas atividades produtivas do manejo florestal.
Com a parceria do Idesam, a associação planeja realizar o levantamento de toda a produção da Resex, abrangendo também castanha, buriti e açaí, além da copaíba. “Com a organização fortalecida, queremos abrir novas frentes de comercialização”, conta Flores, otimista com a maior valorização do trabalho feminino na floresta – referência para que outras mulheres ocupem espaços de liderança.