PUBLICIDADE
- mell280
25/06/2025 17h37
Há 45 anos, Maracaju virou manchete nacional com Loucão e Louquinho: o conto das obras que marcaram uma cidade
Hosana de Lourdes
Recebi essa preciosidade como se fosse um presente de quem guarda, com carinho e respeito, os capítulos que compõem a nossa história. Quem me enviou foi um amigo muito querido, o Arthur, que mora em Campinas (SP). Apaixonado por esportes e por revistas antigas, ele estava relendo uma de suas edições guardadas quando se deparou com uma reportagem sobre Maracaju. E, como ele mesmo disse, ao ler, não teve como não se lembrar da cidade — e, consequentemente, da amiga jornalista que tanto fala com orgulho de sua terra natal.
A edição em questão é a número 529 da revista Placar, publicada no dia 20 de junho de 1980. Guardada com cuidado por 45 anos, agora ela volta à luz e, com ela, uma história que merece ser recontada. E o jornalismo, no fundo, é isso: o conto das verdades vividas, o retrato daquilo que já foi, o elo entre passado e presente.
A matéria foi destaque nacional numa das mais tradicionais revistas esportivas do país, e o título chamava atenção: “Louco, Louquinho e Loucão – dupla loucura!”. Um título que parece exagero, mas não é. Estamos falando de um tempo em que Maracaju, com menos de 20 mil habitantes, inaugurava um estádio de futebol com capacidade para 25 mil pessoas. Uma ousadia que estampou as páginas da imprensa esportiva nacional, não apenas pelo tamanho da obra, mas pelo espírito do homem que a idealizou: o então prefeito Luís Gonzaga Prata Braga, apelidado carinhosamente (e corajosamente) de “Louco”.
“É tempo de loucura”, era o seu lema de campanha. E como toda boa loucura tem método, ele foi lá e fez: primeiro o estádio, batizado pelos moradores de Loucão. Depois, um ginásio de esportes, o Louquinho, onde o futebol de salão passou a ser jogado com paixão e arquibancadas cheias.
O texto da Placar descreve com bom humor e admiração aquele momento: uma cidade que não queria saber de futebol profissional, mas tinha um estádio de padrão nacional. E mais — o povo preferia usar o estádio para festas, bailes, jogos locais e diversão em família. Ali era espaço de encontro, de pertencimento, de celebração.
A reportagem também fala do jeito simples e determinado do prefeito Braga. Sem dinheiro, pediu cimento emprestado no bar, dirigia ele mesmo seu Dodge branco pelos bairros mais humildes e ia batendo de porta em porta, oferecendo terrenos a famílias carentes. Não era homem de escrever ordem; era homem de mandar fazer.
Hoje, o tempo passou. O ex-prefeito Prata Braga nos deixou em maio de 2021, mas as marcas de sua “loucura visionária” seguem de pé. O Loucão e o Louquinho ainda resistem ao tempo. O estádio municipal continua ativo, agora com iluminação, e já está no cronograma da prefeitura para passar por uma reforma completa. O Louquinho, por sua vez, permanece com a mesma estrutura de décadas atrás, sendo ainda palco para as práticas esportivas locais.
E Maracaju cresceu. Hoje, além dos dois históricos espaços, conta com a moderna Arena Maracaju, construída para atender a nova demanda de eventos esportivos da cidade. O local já recebe competições de alto nível, como campeonatos brasileiros de futsal, reafirmando a vocação esportiva do município.
Relembrar essa história, a partir das páginas guardadas com tanto cuidado por um amigo distante, é lembrar que o passado não é apenas memória — é fundação. E contar essa história, como faz o jornalismo verdadeiro, é dar voz ao que já foi para que nunca se perca.
Porque em Maracaju, as obras falam. E a cidade ainda escuta.
veja também
Maracaju virou manchete nacional Esportes