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Pesquisa detalha 6 meses de Trump II em meio a tensões com Brasil


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  • mell280

12/08/2025 17h26

Pesquisa detalha 6 meses de Trump II em meio a tensões com Brasil

Soraya Aggege


Estudo do Observatório de Sexualidade e Política (SPW) revela retrocessos na garantia de direitos humanos e mostra como igualdade de gênero tem sido alvo prioritário da gestão norte-americana; documento funciona como "hub" para pesquisadores, acessível em plataforma trilíngue

Em meio à crescente tensão com o Brasil, com ameaças de interferência econômica e política por parte da administração norte-americana, estudo inédito do Observatório de Sexualidade e Política (SPW) oferece um panorama detalhado das ações e políticas de Donald Trump nos seus seis primeiros meses, em especial na área de direitos humanos. O relatório descreve a gestão Trump II como um método de governança que gera um "estado de excitação política permanente", cuja prioridade na política externa é "bater antes para negociar depois".

O documento aponta para um "traço comum robusto" com o Brasil de 2019, no início da gestão sob Jair Bolsonaro: "o caos como método de governar", que, no caso de Trump, se traduz na estratégia de “choque e horror” ou “inundação da zona” (flood the zone). O estudo revela diversos retrocessos, sobretudo em iniciativas que abordam identidade e igualdade de gênero, aborto e imigração, assim como políticas que tratam em geral de diversidade, equidade e inclusão. Uma ampla bibliografia analítica online é disponibilizada ao longo do documento, que funciona como uma espécie de hub para pesquisadores na nova plataforma da organização.

No cenário de efervescência política nos Estados Unidos, a divulgação do relatório ganha relevância adicional para o Brasil. Recentemente, a administração Trump tem sido vocal em suas tentativas de interferir na política e economia brasileiras, com ameaças de altas taxações que poderiam impactar setores estratégicos do país. Paralelamente, observa-se uma pressão política direta em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente sob julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

O relatório contextualiza o ambiente de intervenções externas e a busca por reconfigurar a ordem internacional que marca o segundo governo Trump, além de revelar as profundas mudanças internas e o retrocesso na proteção social e garantia de direitos humanos básicos. 

O estudo descreve, por exemplo, que apenas entre janeiro e fevereiro, Trump emitiu sete ordens executivas de caráter transfóbico, como a decretação da “verdade biológica do sexo” na política estatal americana e o veto à participação de mulheres trans nos esportes femininos. Nessa mesma linha, as embaixadas passaram a exigir a explicitação do sexo de nascimento na solicitação de vistos para os EUA, o que levou à negativa de autorização para viagens oficiais das deputadas brasileiras Érika Hilton e Duda Salabert.

“Nessa cena multifacetada e conturbada, gênero e raça não são temas laterais ou questões da pauta moral, como se costuma repetir à exaustão no Brasil”, explica a coordenadora do Observatório, Sônia Corrêa. “As políticas antigênero e racistas ocupam um lugar central na estratégia ‘flood the zone’ trumpista, inclusive porque uma aversão visceral às lutas sociais organizadas em torno dessas dimensões da vida social desde sempre animou a reorganização da ultradireita”,  completa.

Segundo a pesquisadora, as diversas ordens executivas emitidas desde janeiro em repúdio aos direitos das pessoas transgênero têm sido justificadas em nome dos direitos das mulheres e se somam às ofensivas antiaborto. Análises publicadas nos EUA já mostraram como essas ordens não são apenas instrumentos de ataque aos grupos vulneráveis ou combustível de pânico moral.

“Elas compõem o arsenal mais amplo de demolição do ‘estado administrativo’, porque um estado de bem-estar social não pode regular, assegurar proteção social ou garantir direitos se não puder ajustar seus parâmetros de classificações de indivíduos e grupos a novas demandas sociais e políticas”, afirma Sônia, citando o cientista político Paisley Currah, professor do Brooklyn College.

A edição “O retorno de Trump: 180 dias de destruição, sadismo e desordem mundial” traz um amplo balanço do cenário sombrio de ataques aos direitos humanos, mas também revela algumas das principais vozes e focos de resistência nos EUA em diversos segmentos da sociedade, no judiciário, na mídia, nos meios acadêmico e artístico.

Acesse o relatório completo em português aqui: O retorno de Trump: 180 dias de destruição, sadismo e desordem mundial - Sxpolitics [PTBR]

 

Sobre o Observatório de Sexualidade e Política (SPW, na sigla em inglês)
É um programa transnacional abrigado no Brasil pela Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA). Lançado em 2002 como International Working Group on Sexuality and Social Policy (IWGSSP), em 2006 seu nome mudou para Sexuality Policy Watch e, desde sua criação, o SPW tem colaborado extensivamente com pesquisadore(a)s e ativistas de vários países, como fonte confiável de informações sobre polícia e sexualidade.

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Veja aqui alguns destaques do relatório:

  • Política Migratória Agressiva: Houve a intensificação de ações contra migrantes e deportações massivas, com militarização da repressão e aumento significativo do orçamento do Immigration and Customs Enforcement (ICE).
  • Reconfiguração Global: A administração Trump demonstrou desprezo pelo multilateralismo ao se retirar de acordos e organismos internacionais (como a Organização Mundial da Saúde e o Acordo de Paris), e adotou intervenções externas, incluindo o bombardeio de instalações nucleares no Irã.
  • Desmantelamento Governamental: Foi criado um Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) para reestruturar ou fechar dezenas de instituições estatais, como a USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).
  • Cortes sociais e Militarização: O novo orçamento reduziu drasticamente o financiamento para saúde e proteção social, enquanto ampliou investimentos na indústria de armamentos.
  • "Estado de Exceção" e Restrição de Direitos: Observa-se o estabelecimento de um regime de excepcionalidade com envio de militares para reprimir protestos, restrições de entrada no país e pressões sobre universidades sob acusações de "wokismo".
  • Ofensiva Antigênero: Ordens executivas buscam estabelecer a "verdade biológica do sexo" na política estatal, proibindo a "doutrinação ideológica" e limitando direitos de pessoas trans, além de revogar normas que garantiam o procedimento de aborto em emergências médicas.
  • Pró-Natalismo: Há um apoio crescente a políticas que incentivam o aumento da natalidade, com a facilitação do acesso à fertilização in vitro e a promoção do casamento e de ampliação da prole.
  • Reorganização da Ultraconservadorismo: O retorno de Trump é visto como o ápice de um processo de reorganização da ultradireita, que se iniciou na década de 1970. Projetos como o "Projeto 2025", da Heritage Foundation, que detalham planos estratégicos que estão sendo implementados. Há também um crescente transnacionalismo nas conexões da ultradireita, com a multiplicação de fóruns políticos e intercâmbios com a América Latina e Europa.
  • Resistências: Apesar dessas ações, o relatório também aponta para o surgimento de diversas frentes de resistência, incluindo ações do Judiciário em instâncias inferiores, mobilizações da sociedade civil e governos estaduais, e a produção de conteúdo crítico pela imprensa independente10.
  • Referências: Edição especial do boletim periódico do SPW, o relatório traz um hub de informações e links e funciona como uma valiosa "biblioteca de referências". Ele não só contextualiza seus argumentos com eventos e políticas, mas também direciona o leitor para uma vasta gama de fontes externas, oferecendo um roteiro para o aprofundamento em temas específicos e para a consulta de análises complementares.


 





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