15/08/2025 16h34 - Atualizado em 15/08/2025 19h52
Maracaju reforça compromisso no combate à violência contra a mulher em evento do Agosto Lilás
Hosana de Lourdes
O município de Maracaju realizou, nesta sexta-feira, dia 15, um evento dentro da programação do Agosto Lilás para reforçar o compromisso com a prevenção e o enfrentamento à violência contra a mulher. A programação contou com palestras, anúncios de novas ações e depoimentos emocionante de uma vítima que sobreviveu a tentativa de feminicídio.
Entre as novidades apresentadas, a secretária municipal de Educação, Silvana Perosa, anunciou a implantação de um programa baseado na Lei Maria da Penha nas escolas municipais. A iniciativa começará no próximo ano, atendendo alunos do 6º ao 9º ano, com o objetivo de trabalhar a prevenção à violência, combater hábitos racistas e violentos, e estimular mudanças positivas no comportamento dos adolescentes.
“O objetivo é trabalhar com nossos professores, examinadores e famílias, despertando o interesse dos estudantes para o respeito e a empatia. Queremos impactar positivamente um grande número de crianças e adolescentes, fortalecendo a ligação entre escola e família e plantando sementes para uma sociedade mais justa”, afirmou Silvana.
O evento também abriu espaço para relatos reais que mostram a gravidade do problema. Delaine, vítima de tentativa de feminicídio, emocionou o público ao contar como sobreviveu ao ataque do ex-companheiro.

“Eu tinha conquistado minhas coisas com muito esforço. Na véspera de um jogo do Brasil na Copa do Mundo, ele chegou em casa, começou a beber — algo que nunca fazia — e senti que havia algo errado. Minha amiga foi embora e fiquei sozinha. Ele se aproximou e disse: ‘Agora você vai conhecer o que é o teatro’. Me levantou pelo pescoço e começou a me agredir. Tentei me defender com um martelo e depois com uma faca, consegui fugir para a rua, mas ele me esperou atrás do muro armado. Pedi por minha vida e falei dos meus netos. Só lembro de ouvir um xingamento e depois desmaiei.”
O comandante da Polícia Militar de Maracaju, tenente Nelson Tolotti, destacou que a violência doméstica é um dos crimes que mais demandam a atuação policial e que precisa ser combatida desde a base.
“Sou ligado à causa da violência doméstica. Mesmo olhando pelo lado orçamentário, um terço do meu empenho operacional é destinado a crimes domésticos. Já dizia, na década de 1990, a Comissão Internacional das Nações Unidas, que essa seria a pandemia silenciosa do século — e assim se tornou. Sou filho de pai italiano e mãe argentina, criado apenas por minha mãe. Quando entrei para a polícia, há 20 anos, me assustei com a quantidade de crimes de violência doméstica. É preciso tratar esse problema na base, com educação e prevenção”, reforçou.
O promotor de Justiça da 2ª Promotoria de Maracaju, Luciano Bordignon Conte, ressaltou que o município tem levado o enfrentamento à violência contra a mulher a sério e parabenizou o esforço conjunto do poder executivo e legislativo. Ele afirmou ter se emocionado com o depoimento de Delaine e destacou que o ciclo da violência doméstica costuma começar de forma silenciosa.
“O agressor não começa com o feminicídio. Primeiro vem a sedução, depois o afastamento da vítima de familiares e amigos, o isolamento. Em seguida, ataques à autoestima: ‘você não é tão bonita’, ‘você depende de mim’, ‘se eu não te der dinheiro, você não vai sobreviver’. Isso mina a confiança da mulher até chegar às agressões físicas. Infelizmente, ainda temos um número alto de feminicídios porque muitas mulheres não procuram ajuda. Meu apelo é: denunciem. Procurem a rede de proteção antes que a violência aumente. Há uma rede de apoio pronta para atender e salvar vidas”, orientou.
A primeira-dama de Mato Grosso do Sul, Mônica Riedel, também deixou uma mensagem de mobilização e responsabilidade coletiva no combate à violência contra a mulher.

“Este é um momento de reflexão, de realmente darmos um basta nisso — e aí entram as políticas públicas. A secretária Viviane apresentou programas importantes do governo do Estado. A Silvana falou de educação, o comandante da segurança, o Dr Luciano da Justiça… Cada um trouxe uma política, e tudo isso mostra que a vida da mulher na sociedade envolve muitas áreas: educação, saúde, segurança, lazer, trabalho. As políticas públicas tentam oferecer isso, mas precisamos aproveitar as oportunidades e ajudar também. Se você vê algo errado, denuncie. Às vezes, sua vizinha está sofrendo e você não tem coragem de perguntar: ‘Está tudo bem? Precisa de ajuda?’. Pode ser que um simples gesto mude tudo. Professores também são um canal fundamental, porque às vezes a criança não consegue falar em casa, mas fala com a professora. Então, são vários canais abertos, além de toda a rede feminina que já existe. Para quem está ameaçada, aproveite essa rede, procure ajuda, não espere a situação piorar.”
A deputada estadual Lia Nogueira também participou do evento, parabenizando as primeiras-damas Meire Calderan e Mônica Riedel e ressaltando os esforços do Governo do Estado em parceria com a Assembleia Legislativa para reverter o preocupante cenário.
“Infelizmente, Mato Grosso do Sul ocupa a segunda posição no ranking nacional de casos de feminicídio, proporcionalmente à população. Já são 22 mulheres mortas somente neste ano — mães, avós, filhas, que perderam a vida e os sonhos. O depoimento da Delaine foi muito comovente, mas precisamos lembrar que muitas ‘Delaines’ não tiveram tempo de pedir ajuda ou de serem salvas. Essa violência começa de forma silenciosa, muitas vezes com um amor excessivo e controlador, que isola a mulher de amigos e familiares, minando sua autoestima. Vivemos em um estado marcado pelo machismo estrutural, e por isso precisamos trabalhar a conscientização desde cedo, nas escolas, para que as crianças levem essa mensagem para casa. Amor se faz com respeito”, reforçou Lia.

A secretária de Estado de Cidadania, Viviane Luiza, apresentou o Programa Protege, que atua em três grandes eixos: curto, médio e longo prazo, com integração de diferentes órgãos para oferecer proteção integral.
“É a proteção de todos os lados. O que significa isso? É a união de todas as Secretarias do Estado, Defensoria Pública, Ministério Público e Tribunal de Justiça. No curto prazo, agilizamos medidas protetivas — que antes levavam dias, agora são emitidas em horas — e fortalecemos o PROMUCI, que trabalha a segurança da mulher em todo o Estado, inclusive em comunidades indígenas. No médio prazo, formamos líderes comunitários e grêmios estudantis, para mudar a história e o comportamento de uma sociedade ainda marcada pelo machismo e patriarcado. Amanhã começa, em Campo Grande, a formação de presidentes de associações de bairros e, no dia 27, vamos replicar a campanha ‘Vizinho Também Protege’ em todo o Estado. Já no longo prazo, buscamos a mudança de comportamento. O governo, sensível a essa causa, está oferecendo duas mil vagas no mercado de trabalho para mulheres vítimas de violência e investindo no atendimento psicossocial. No dia 27, serão repassados R$ 210 mil para cada um dos 12 municípios que vão criar centros especializados para atender mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica, sem a necessidade de boletim de ocorrência. Não existe fórmula mágica para combater o feminicídio, mas com a união dos três poderes e programas inovadores, como o Protege, podemos avançar”, explicou Viviane.
A primeira-dama de Maracaju, Meire Calderan, agradeceu ao público e à equipe da Coordenadoria da Mulher, reforçando a importância do trabalho conjunto.
“Agradecer a todos os que nos acompanharam, lembrando que vocês vão descobrir depois, que vocês vão saber depois o que são. Obrigada pelo carinho que vocês tiveram, pela presença de vocês. Obrigada a todos, minha equipe maravilhosa, minha equipe do FAC, Coordenadoria da Mulher, minhas meninas maravilhosas, que eu só tenho a agradecer. Mulheres de Maracajú, vocês não estão sós. Podem ter certeza que aqui vocês têm uma coordenadoria que funciona, uma coordenadoria da mulher que apoia as mulheres e que apoia vocês. Já somos referência no Estado, e falo isso com muito orgulho. Então é isso, não vou me estender, obrigada a todos, volte conosco.”
O prefeito Marcos Calderan também se dirigiu ao público para reforçar a atuação do município na proteção das mulheres e o trabalho em conjunto com o Estado.
“Cumprimento a nossa primeira-dama do Estado, Mônica, e demais primeiras-damas que estão empenhadas nesse trabalho. Sobre os dados, realmente enfrentamos dificuldades, mas tenho certeza que assim como o Estado vem se destacando em economia, emprego e oportunidades, em breve também estaremos entre os melhores do Brasil no combate ao feminicídio. Dos 22 casos no Estado este ano, um foi em Maracajú — e infelizmente não houve denúncia antes da tragédia. A violência contra a mulher está se tornando mais visível porque as mulheres estão tendo coragem de denunciar. Isso vai melhorar, porque a denúncia é o primeiro passo para salvar vidas. Agradeço todas as autoridades e equipes envolvidas — não apenas estão falando, estão agindo. Estamos unidos para que a mulher de fato seja respeitada”, declarou o prefeito.

A história de Delaine, as ações anunciadas e as falas das autoridades reforçam a urgência de políticas públicas contínuas, educação preventiva e o incentivo à denúncia para romper o ciclo da violência contra a mulher.
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