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COP30: da governança à sustentabilidade, falta coerência entre discurso e prática


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  • mell280

27/08/2025 10h26

COP30: da governança à sustentabilidade, falta coerência entre discurso e prática

Caíque Rocha


Especialistas defendem a necessidade ações focadas no incentivo a participação de países mais pobres e um legado de infraestrutura acessível para a população da região-sede

Marcada para acontecer em novembro deste ano, em Belém (PA), a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, chamada de COP 30, vem chamando a atenção nos últimos meses devido a polêmicas relacionadas à organização do evento, especialmente sobre logística e capacidade da cidade-sede em receber os cerca de 60 mil participantes que são esperados. A COP30 é vista por muitos especialistas como uma chance histórica para o Brasil mostrar liderança climática e responsabilidade social. Roberto Gonzalez, consultor de governança corporativa e ESG, destaca que isso exige uma coerência entre discurso e prática que, segundo ele, ainda não existe. Um dos pontos cruciais apontados por Gonzalez é a contradição relacionada justamente à sustentabilidade, tema central da Cúpula do Clima. 

“Ao permitir que os preços de hospedagem em Belém atinjam valores exorbitantes, o Brasil compromete a participação de países mais pobres, justamente os mais vulneráveis às mudanças climáticas e outros desafios ambientais. Diárias que chegam a US$ 700 contrastam com o orçamento padrão da ONU, de US$ 143 por pessoa. O resultado? Ao menos 25 países já manifestaram preocupação e cogitam não participar do evento. Essa exclusão é um paradoxo, pois sem esses países, o evento perde representatividade”, afirma. 

A crise de hospedagem revela falhas graves de governança, de acordo com Gonzalez. O Governo Federal afirma não ter instrumentos para intervir nos preços, mas essa justificativa escancara a falta de planejamento e articulação com o setor privado que, lembra o consultor, também tem sua parcela de responsabilidade nesse cenário de preços exorbitantes. “A especulação imobiliária, longe de ser um problema isolado, é sintoma de uma cultura empresarial, pelo menos no âmbito local, que ainda vê eventos internacionais como oportunidades de lucro imediato, e não como compromissos de longo prazo com a sustentabilidade”, reforça, incluindo ainda os governos estadual e municipal de Belém/PA nessa articulação conjunta. 

Lilian Carvalho, PhD em Marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP, afirma que, mesmo do ponto de vista empresarial, o preço elevado das diárias em hotéis deturpam a “Lei da Oferta e da Demanda”. “Dentro da lógica dos “4 P’s do Marketing” – Preço, Praça, Produto e Promoção – o “Preço” não deve ser baixo a ponto de não produzir nenhum lucro, porém, jamais deve ser tão alto a ponto de não permitir qualquer demanda. E é isso que está acontecendo com o setor de hospedagens em Belém, pois se o índice de desistência entre os países participantes for muito alto, há um risco de demanda 0 para muitos leitos”, explica. 

Dentro princípios ESG (ambiental, social e governança), outro entrave é a ausência de discussão e ações para que o evento deixe um legado de acessibilidade e infraestrutura para a população da região-sede, como se espera em grandes eventos internacionais, como as Olimpíadas e a Copa do Mundo. “O que se observa é que, muitas vezes, os investimentos ficam restritos a áreas visíveis para turistas, enquanto a população local segue enfrentando dificuldades para acessar espaços básicos. O legado da COP30 precisa ser diferente: não pode ser apenas a construção de centros de convenções ou a ampliação da rede hoteleira. É fundamental que cada real investido também se traduza em rampas adequadas, transporte acessível, sinalização tátil, comunicação inclusiva e infraestrutura pensada para todas as pessoas”, aponta Valmir de Souza, COO da Biomob, startup especializada em consultoria para acessibilidade arquitetônica, digital e atitudinal para pessoas com deficiência e outras práticas de inclusão. 


 





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