Por essa época, uma das filhas precisou ficar internada. Foram quinze dias de hospital, e Bárbara não arredou o pé dali. Entre barulhos de corredor, movimento de médicos indo e vindo e checagem de soro, ela aproveitava os cochilos da menina para abrir o aplicativo e estudar. Não era fuga, era disciplina para manter a cabeça no lugar enquanto a base tremia.
No finzinho daquele ano, saiu o concurso da Câmara Legislativa do DF. Uma vaga. Brasília ficava longe, e ela tinha um bebê de dois meses em casa, além de outras três crianças para cuidar. Falava-se em dois mil candidatos por vaga! Teve medo? Teve. Cedeu a ele? Não.
Comprou passagem e veio duas vezes à capital, para a primeira e a segunda fase. Terminou aprovada e... esperou. Quem já enfrentou concurso sabe bem que a paciência faz parte da prova.
Bárbara seguiu roçando sua velha juquira: OAB no nono semestre, pós-graduação junto com a faculdade, o trabalho em Tucuruí, as tarefas domésticas... Enquanto aguardava, ainda cravou o primeiro lugar no TJ-PA, também na área de pedagogia. Era a confirmação de algo que ela já intuía: perseverança dá resultado.
E então, em 17 de julho de 2023, lá estava o tão esperado nome no Diário Oficial. O presidente da CLDF ligou pessoalmente para dar as boas-vindas. Incrível, mas apenas uma hora depois a usina anunciou o plano de desligamento voluntário... para o dia seguinte! As peças se encaixavam com a precisão de um relógio suíço, e não há nada de mágico nisso. O que há são anos de preparo, escolhas conscientes e disposição para fazer muito com pouco.
Hoje, o crachá estampa “Consultora Técnica Legislativa - Pedagogia”. Bárbara trabalha com projetos de educação para a cidadania, numa bonita ironia, já que foi pela educação que ela se tornou cidadã de um país maior, onde o futuro não depende do humor do mercado de uma terça- feira qualquer. O trabalho é organizado, exigente, relevante; exatamente como ela imaginava quando atravessou o Brasil com um bebê no colo e PDFs no celular.