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Quatro filhos, um edital: a aprovação de Bárbara no Legislativo


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  • mell280

16/09/2025 04h19

Quatro filhos, um edital: a aprovação de Bárbara no Legislativo

Por Gabriel Granjeiro


 

 

 
Ela aprendeu cedo um truque simples: não encarar o matagal inteiro. Quem lhe ensinou foi dona Graça, enquanto lidava com uma pilha de roupas para passar na casa dos pais de Bárbara, quando a menina tinha uns nove anos:

— Eu olho só a peça da vez. Meu pai roçava juquira assim: cabeça baixa, um golpe de cada vez.

Quando levantava, o campo tinha aparecido. Décadas mais tarde, o mato a ser roçado era outro: quatro filhos (2 meses, 2, 4 e 16 anos), casa para manter, expediente integral e um edital aberto. Bárbara não pediu trégua à realidade — enfiou os fones no ouvido e começou a abrir clareira com as videoaulas do Gran.

Bárbara estudando com sua filha mais nova.

Mineira de nascimento e paraense de coração, ela cresceu observando a vida organizada de quem trabalhava na Usina de Tucuruí. Em 2003, quando saiu um concurso, mal sabia o que
significava. Pegou na biblioteca um livro de título improvável — “Aprenda Matemática em duas semanas” — e estudou como pôde. Virou “empregada pública”, e foi assim que descobriu o valor da segurança. Com a filha ainda pequena, já pensava em como garantir o futuro sem viver no fio da navalha.
O tempo passou, vieram mais filhos e também o curso de Direito. O universo dos concursos públicos se abriu de vez: magistratura, Ministério Público, polícia, defensoria... As opções eram muitas, mas Bárbara tomou uma decisão que pareceu um contrassenso para quem via de fora: prestaria provas como pedagoga. O diploma estava guardado havia anos; por que não usá-lo como porta de entrada?
Em 2018, a Abin abriu vagas. Bárbara, grávida de oito meses, barriga que chegava antes dela própria, entrou na sala de prova em Belém. Passou para a segunda fase, única mulher entre doze candidatos. Foi avançando, uma etapa por vez. Não se tratava de heroísmo, mas de método. Enquanto amamentava, assistia a videoaulas; no parque com as crianças, alternava os olhos entre elas e a tela do celular; na fila do mercado, ouvia Direito Constitucional a 2x. Não havia “tempo
livre”; havia tempo útil.

Perceba a videoaula do Gran ao fundo. O estudo era como dava.

Por essa época, uma das filhas precisou ficar internada. Foram quinze dias de hospital, e Bárbara não arredou o pé dali. Entre barulhos de corredor, movimento de médicos indo e vindo e checagem de soro, ela aproveitava os cochilos da menina para abrir o aplicativo e estudar. Não era fuga, era disciplina para manter a cabeça no lugar enquanto a base tremia.


No finzinho daquele ano, saiu o concurso da Câmara Legislativa do DF. Uma vaga. Brasília ficava longe, e ela tinha um bebê de dois meses em casa, além de outras três crianças para cuidar. Falava-se em dois mil candidatos por vaga! Teve medo? Teve. Cedeu a ele? Não.


Comprou passagem e veio duas vezes à capital, para a primeira e a segunda fase. Terminou aprovada e... esperou. Quem já enfrentou concurso sabe bem que a paciência faz parte da prova.

Bárbara seguiu roçando sua velha juquira: OAB no nono semestre, pós-graduação junto com a faculdade, o trabalho em Tucuruí, as tarefas domésticas... Enquanto aguardava, ainda cravou o primeiro lugar no TJ-PA, também na área de pedagogia. Era a confirmação de algo que ela já intuía: perseverança dá resultado.


E então, em 17 de julho de 2023, lá estava o tão esperado nome no Diário Oficial. O presidente da CLDF ligou pessoalmente para dar as boas-vindas. Incrível, mas apenas uma hora depois a usina anunciou o plano de desligamento voluntário... para o dia seguinte! As peças se encaixavam com a precisão de um relógio suíço, e não há nada de mágico nisso. O que há são anos de preparo, escolhas conscientes e disposição para fazer muito com pouco.

Hoje, o crachá estampa “Consultora Técnica Legislativa - Pedagogia”. Bárbara trabalha com projetos de educação para a cidadania, numa bonita ironia, já que foi pela educação que ela se tornou cidadã de um país maior, onde o futuro não depende do humor do mercado de uma terça- feira qualquer. O trabalho é organizado, exigente, relevante; exatamente como ela imaginava quando atravessou o Brasil com um bebê no colo e PDFs no celular.

Bárbara e sua linda família.

E veja que legal: Bárbara é colega de ninguém menos que a minha mãe, Ivonete, na CLDF. As duas se cruzaram recentemente em um evento chamado “Câmara vai à Universidade”, um dos projetos que Bárbara coordena. O mundo é pequeno, não é mesmo?

Então, se você se sente perdido entre contas para pagar, filhos para criar e falta de tempo e de silêncio para estudar, inspire-se no método de Bárbara:
  • Não espere as condições ideais. O melhor método é o que você consegue manter. Pode ser videoaula com fone de ouvido no mercado, lei seca na tela do aplicativo no elevador, uma ou duas questões durante o almoço.
  • Pare de lutar contra o relógio. Estude sempre e o quanto conseguir. Dez minutinhos por dia podem fazer toda a diferença no cômputo final.
  • Não troque o que funciona para você só porque alguém sugeriu uma técnica “melhor”. Some; não substitua.
  • Problemas não são desculpa para desistir; no máximo pedem ajuste de marcha. Se for preciso, reduza o ritmo, mas continue.
Bárbara não romantiza nada. Ela não chama de milagre o que é fruto de escolhas diárias. Não pinta de épico o que foi rotina. Ainda assim, é impossível não se impactar com a imagem da mãe que estudava no hospital, da única mulher numa sala de doze, da trabalhadora que aproveitava cada minuto em busca de um futuro mais digno; da servidora que hoje devolve em políticas públicas o que aprendeu na marra.
Sua história é um lembrete poderoso de que ninguém deve enfrentar o matagal inteiro de uma vez. Sempre haverá juquira para desbastar, mas quem aprende a baixar a cabeça e a golpear uma touceira por vez termina em campo aberto. E, quando ergue os olhos, enxerga longe.
Bárbara no evento de posse dos novos servidores da CLDF.

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