10/10/2025 15h35
ARTIGO: O potencial do carbono como nova receita para o produtor
A pauta da sustentabilidade e mudanças climáticas ganharam um lugar central na agenda do agronegócio, e o carbono emergiu como um elemento-chave nessa transformação, especialmente por seu potencial de gerar novas oportunidades de receita para os produtores rurais.
Um estudo recente da Embrapa Territorial (SP), baseado em pesquisas científicas de diversos países, estimou o preço das emissões de carbono na agropecuária brasileira em US$ 11,54 por tonelada de gás carbônico equivalente (tCO2e) para as emissões de 2021, já com atualização monetária. Mas você sabe como o carbono interfere nas emissões e por que ele é tão importante no contexto agrícola?
O carbono é um elemento presente na atmosfera na forma de dióxido de carbono (CO₂), principal gás de efeito estufa de origem antrópica. As emissões ocorrem quando atividades humanas, incluindo o uso de combustíveis fósseis, desmatamento e queima de biomassa, liberam esse gás na atmosfera.
A boa notícia é que a agricultura tem o potencial de atuar como um sumidouro de carbono, ou seja, de capturar e armazenar esse gás no solo e na vegetação, contribuindo para reduzir o efeito estufa. Ou seja, se por um lado a agricultura pode gerar emissões, do outro, tem um potencial ainda maior de promover remoções com o ajuste das práticas adotadas.
Os escopos de carbono
Para uma melhor compreensão dessa dinâmica, é fundamental conhecer os diferentes escopos de emissões de carbono. Essas emissões são classificadas de acordo com o GHG Protocol (Greenhouse Gas Protocol) em escopos 1, 2 e 3. O protocolo foi lançado em 1998 como uma iniciativa do World Resources Institute (WRI) e do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), e a primeira padronização oficial dessa classificação ocorreu em 2001. Com a colaboração entre ONGs e empresas foram desenvolvidos métodos padronizados de contabilização que atendessem à necessidade de uma metodologia global comum.
Para que as empresas avaliem o impacto climático de maneira completa, é fundamental que meçam não apenas as emissões provenientes de suas operações diretas, mas também aquelas geradas pelas matérias-primas que adquirem e pelo uso dos produtos que comercializam.
Calcular o impacto total de uma empresa exige a avaliação das emissões em três âmbitos distintos:
- Escopo 1 — Emissões diretas: são aquelas que ocorrem a partir de fontes que pertencem ou são controladas pela própria organização. De forma geral, incluem a combustão de combustíveis fósseis em caldeiras, fornos, veículos e geradores; processos industriais que liberam gases de efeito estufa; e emissões fugitivas, como vazamentos de gases em equipamentos de refrigeração.
No contexto agrícola, os exemplos mais comuns de Escopo 1 são: queima de combustíveis em tratores, colheitadeiras e secadores; as emissões do solo devido ao uso de fertilizantes nitrogenados (como ureia e adubos orgânicos); a aplicação de corretivos como o calcário; as emissões da pecuária (fermentação entérica e manejo de dejetos).
- Escopo 2 — Emissões indiretas de gases de efeito estufa (GEE) resultantes do consumo de energia adquirida por uma empresa, como eletricidade, vapor, calor e refrigeração, que é gerada por um fornecedor externo. Embora as emissões ocorram nas instalações do fornecedor, estas são atribuídas à empresa consumidora porque são parte do gasto energético da sua operação, e são contabilizadas no inventário de carbono da organização
- Escopo 3 — Emissões indiretas na cadeia de valor: inclui todas as demais emissões indiretas relacionadas à cadeia de valor, desde fornecedores de insumos e matérias-primas, até o transporte, beneficiamento e distribuição. É nesse escopo que se concentra uma grande oportunidade de impacto positivo no agro.
O Papel do produtor rural no escopo 3
Como vimos, as emissões do escopo 3 abrangem todas as emissões indiretas que ocorrem na cadeia de valor de uma empresa. No caso de empresas de alimentos e bebidas, a aquisição de matérias-primas agrícolas geralmente representa a maior parcela desse escopo. Na agricultura é preciso mensurar as diversas etapas, desde o cultivo até o transporte dos produtos, que contribuem significativamente para essas emissões. Produzir de forma sustentável, rastreável e com dados precisos sobre as práticas ambientais é essencial para que o produtor possa impactar positivamente esse cenário.
O produtor rural pode adotar práticas agrícolas sustentáveis, como o uso eficiente de fertilizantes e biológicos de alta performance, a rotação de culturas, uso de plantas de cobertura e o plantio direto, por exemplo. Todas as ações ajudam na redução da emissão dos Gases de Efeito Estufa. A Indigo, por exemplo, opera globalmente com dois modelos relacionados ao mercado de carbono e é, inclusive, a maior geradora de crédito de carbono globalmente, por conta do seu programa nos Estados Unidos. No Brasil, a empresa implementou um outro tipo de projeto, o Source, que está ligado à cadeia de fornecimento das empresas com compromissos climáticos. E que tem um funcionamento muito simples.
As companhias relacionadas ao setor do agro, empresas de alimentos e bebidas, por exemplo, fecham uma parceria com a Indigo para fomentar a adoção de práticas regenerativas nos produtores. Então, estabelecemos programas incentivados por essas empresas, onde são determinadas algumas práticas regenerativas como plantio direto, uso de plantas de cobertura, rotação de cultivos. Essas práticas têm um impacto positivo no campo e nosso trabalho é quantificar esse benefício, saber qual foi a redução no impacto ambiental que a adoção dessas práticas resultou. Depois, transferimos esses resultados para que as empresas possam também reportar nos seus compromissos.
Uma empresa que utiliza o milho como insumos de seus produtos, por exemplo, pode indicar seus fornecedores ou regiões prioritárias de atuação. A Indigo Ag suporta a identificação e recrutamento desses produtores, auxilia na adoção de práticas regenerativas em suas lavouras e quantifica o resultado ambiental de cada produtor. Com base no desempenho alcançado, a indústria parceira pode remunerar os produtores pelo seu impacto positivo.
Com esse modelo inovador de remuneração baseado em um processo estruturado de MRV (Medição, Reporte e Verificação) das boas práticas agrícolas, a Indigo consegue fazer com que o produtor seja reconhecido economicamente por adotar práticas regenerativas, contribuindo para as metas ESG de empresas que buscam mitigar seus impactos no escopo 3.
Ao contrário do modelo que já é sucesso nos EUA, por aqui, não há dependência da venda de créditos de carbono no mercado, mas sim a medição do impacto real das ações do produtor safra a safra, valorizando o seu esforço e promovendo uma cadeia mais sustentável e rentável.
Perspectivas futuras
As oportunidades de valorização da produção agrícola estão diretamente relacionadas à adoção de práticas regenerativas e sustentáveis. A agricultura regenerativa vem trazendo ganhos de produtividade e eficiência, tornando a produção mais lucrativa. Além disso, produtores que adotam práticas sustentáveis podem ter acesso a mercados que valorizam a produção com menor impacto ambiental, muitas vezes pagando prêmios pela produção.
Nesse contexto, o Brasil pode se tornar protagonista mundial na oferta de redução de emissões de alta qualidade de escopo 3, apoiando empresas globais em suas metas climáticas e criando uma nova fronteira de valor para o setor agrícola. E não estamos falando de um futuro distante, mas de uma realidade. Na Indigo, por exemplo, já temos em escala um programa de escopo 3, cuja remuneração ao produtor será realizada ainda na safra de 2025. Um primeiro passo de muitas outras iniciativas.
