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Para se tornar um "mapinguari", startups da Amazônia desafiam o modelo tradicional de negócios


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  • mell280

07/11/2025 17h33

Para se tornar um "mapinguari", startups da Amazônia desafiam o modelo tradicional de negócios

Emanuelle Araujo Melo de Campos


Quando uma startup ultrapassa o capital privado em mais de R$ 1 bilhão, sem que suas ações sejam negociadas em bolsa de valores, ela é considerada um “unicórnio”. Atualmente, o Brasil possui 22 startups com esse status, segundo o “Relatório Corrida dos Unicórnios”, divulgado pela plataforma de inovação Distrito com base em dados de 2024, mas nenhuma delas está na Amazônia. O termo “unicórnio” foi criado por Aileen Lee, investidora e cofundadora da Cowboy Ventures, e faz referência à raridade de uma startup se tornar bilionária no Vale do Silício (EUA) — algo quase mítico, como a criatura lendária.

 

 

Alcançar R$ 1 bilhão em valor de mercado, ou mesmo se aproximar dessa marca, ainda é um desafio para as startups brasileiras, especialmente para as que nascem na Amazônia. Por isso, os membros do ecossistema de impacto da região adaptaram o termo “unicórnio” para “mapinguari” — uma criatura lendária da floresta, símbolo da força e resistência amazônica. Mais do que alcançar cifras bilionárias, os empreendedores amazônicos buscam investimentos que sejam resilientes e modelos de negócio que valorizem saberes tradicionais e fortaleçam as comunidades que protegem as florestas e rios.

 

 

“É notória a expansão de negócios conectados à inovação em bioeconomia. As iniciativas empreendedoras na Amazônia têm se estruturado para a promoção de novas formas de agregação de valor com os insumos da biodiversidade amazônica. Esta estruturação se baseia no conhecimento acumulado nas pesquisas sobre a biodiversidade e em novos arranjos de promoção da bioeconomia", é o que pondera Carlos Koury, diretor do Idesam.

De acordo com o estudo da plataforma Distrito, desde 2021, o número de novos unicórnios caiu mais de 90%. Na América Latina, apenas uma empresa entrou para o grupo em 2023, enquanto outras perderam esse status. O levantamento mapeou 78 startups latino-americanas próximas de se tornarem unicórnios, das quais 12 foram destacadas como promissoras — nenhuma delas está localizada na Região Norte do Brasil. O relatório aponta que o aumento das taxas de juros, a inflação persistente e a instabilidade econômica global contribuíram para esse cenário de retração.

Startups com soluções inovadoras, grande potencial de mercado e planos sólidos de crescimento têm chances de se tornarem unicórnios — ou, na Amazônia, “mapinguaris”. Um exemplo é a Navegam, fundada em 2019, que revolucionou o setor logístico fluvial no Amazonas. O que antes era um processo burocrático, inseguro e restrito aos guichês dos portos, agora acontece de forma automatizada por meio de um aplicativo. Em parceria com empresas tradicionais da região, a startup fortalece o setor logístico, gera empregos e transforma o transporte de passageiros e cargas.

O resultado desse esforço é expressivo: uma receita líquida de R$ 5,7 milhões em 2024, que garantiu o 11º lugar no ranking EXAME Negócios em Expansão de 2025. Em um ano a empresa subiu onze posições na mesma disputa, visto que em 2023, a Navegam estava na 22º posição. Para este ano, a expectativa é alcançar R$ 20 milhões, tornando a Navegam um dos negócios de impacto mais promissores da Amazônia, com potencial de se tornar um “mapinguari”.

Mas o caminho até aqui não foi fácil. Embora a região hoje tenha programas de incubação, aceleração, hubs e rodadas de investimento, o acesso à capital — especialmente aquele disposto a compreender a realidade amazônica — ainda é um desafio. “Nós começamos em um cenário em que falar de investimento em logística fluvial era quase exótico. O investidor de fora da Amazônia ainda vê a região como distante, complexa e difícil de escalar. Tivemos que educar o mercado mostrando que isso não é custo, é oportunidade de inclusão e eficiência nacional. Conseguimos provar que o capital que vem com propósito é o que realmente transforma. Esses mecanismos funcionam quando têm um olhar local, quando entendem o ritmo e a realidade da região. A Amazônia não precisa só de mais capital, precisa de capital inteligente, que entenda o território e caminhe junto com o empreendedor”, afirma Michelle Guimarães, CEO da Navegam.

Um dos responsáveis pela consolidação de startups foi a aceleradora de impacto AMAZ, que opera um fundo de financiamento híbrido (blended finance) de R$ 25 milhões para investimento em negócios de impacto. Em mais de cinco anos de aceleração e investimento, o trabalho da AMAZ resultou em mais de 50 negócios acelerados e 16 negócios investidos, entre eles a Navegam. As empresas do portfólio da Amaz geraram R$ 4 milhões em pagamentos aos parceiros locais e beneficiaram 1959 famílias e 45 organizações na Amazônia, em 2024.

O futuro desse debate sobre o crescimento das startups amazônicas e sua capacidade de se tornarem “mapinguaris” será tema do Festival de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis da Amazônia (FIINSA), que terá uma edição especial durante a COP30, no dia 10 de novembro, no Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA), em Belém (PA). O evento reunirá empreendedores, investidores, pesquisadores e lideranças de povos tradicionais para discutir oportunidades e caminhos para fortalecer a bioeconomia regional. A programação terá painéis, rodas de conversa, o Mercado Amazônia com produtos da sociobiodiversidade, espaços de networking, experiências culturais e gastronômicas.koreoficial.com.br/

Ao final, será lançada a “Carta do FIINSA COP30”, documento que reunirá propostas e soluções para impulsionar os negócios sustentáveis das florestas e rios amazônicos. Mais informações em: https://fiinsa.org.br/.

Mais sobre o FIINSA

O Festival de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis da Amazônia (FIINSA) é uma realização do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia) e do Impact Hub Manaus, com co-realização do CESUPA. Conta com o patrocínio do Fundo Vale, Soros Economic Development Fund, Bemol, CNP Seguradora, Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), Idesam, Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MCIC) e do Governo Federal. O apoio é feito pelo Instituto Sabin, Bezos Earth Fund, Carbon Disclosure Project (CDP) e Amazon Investor Coalition. São parceiros o Projeto Saúde e Alegria, Associação dos Negócios de Sociobioeconomia da Amazônia (Assobio), Rede Amazônidas pelo Clima (RAC), Centro de Empreendedorismo da Amazônia, Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) e Casa Amazônia.

Sobre o Idesam

O Idesam é uma organização amazonense com atuação na Amazônia Legal desde 2004 e tem por missão promover a valorização e o uso sustentável de recursos naturais na Amazônia e buscar alternativas para a conservação ambiental, o desenvolvimento social e a mitigação das mudanças climáticas. Credenciado como Instituto de Ciência e Tecnologia, possui qualificação de Organização Social de Interesse Público (OSCIP). Dos reconhecimentos já conquistados, foi eleito a melhor organização ambiental da Região Norte pelo prêmio Melhores ONGs 2020 e 2023. Recebeu o Prêmio Empreendedor Social 2022, promovido pela Folha de São Paulo e Fundação Schwab, na categoria ‘Inovação e Meio Ambiente’ é credenciada como ator da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas (2021-2030). Para saber mais, acesse: www.idesam.org.

Sobre o Impact Hub Manaus

O Impact Hub Manaus carrega uma identidade profundamente amazônica. Com 10 anos de atuação, a organização busca fortalecer o ecossistema de empreendedorismo e inovação de impacto na região, promovendo programas de aceleração, investimentos, articulação comunitária, formações e eventos voltados à bioeconomia e inovação social. Desde 2015, conecta empreendedores, investidores, lideranças sociais e parceiros. Em sua primeira década, construiu uma comunidade com mais de 500 membros, apoiou mais de 3 mil empreendedores, investiu em mais de 40 negócios sociais, mobilizou mais de R$ 2 milhões em recursos e levou impacto a mais de 10 cidades da Amazônia Legal. Mais do que resultados, o Hub representa um movimento coletivo em prol de uma Amazônia inovadora, sustentável e protagonista, onde o desenvolvimento econômico caminha junto com a conservação ambiental e o fortalecimento de quem vive na região.

 

  


 


 





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