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Pesquisa revela avanço na conscientização dos caminhoneiros e maior capacidade de identificar casos de exploração sexual nas estradas


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  • mell280

25/11/2025 13h41

Pesquisa revela avanço na conscientização dos caminhoneiros e maior capacidade de identificar casos de exploração sexual nas estradas

Stefany Ianca


Com 20 anos de monitoramento, a 5ª edição da pesquisa "O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro" será lançada em 25 de novembro, durante o Encontro Anual do Programa Na Mão Certa, na FIESP (SP)

São Paulo, novembro de 2025 — A Childhood Brasil lança, no dia 25 de novembro, a 5ª edição da pesquisa “O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro”, uma série histórica de 20 anos realizada em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS) desde 2010. O estudo traz um retrato aprofundado das condições de vida, trabalho e percepção dos caminhoneiros sobre as estradas brasileiras, além de apontar indicadores relacionados à exploração sexual de crianças e adolescentes (ESCA).


A decisão de estudar o perfil do caminhoneiro surgiu em 2005, quando a Childhood Brasil identificou a necessidade de compreender a realidade desses profissionais para ir além do combate direto à violação. A primeira edição da pesquisa deu origem ao Programa Na Mão Certa, movimento que reúne empresas, governos e sociedade civil com o objetivo de proteger crianças e adolescentes e reconhece o caminhoneiro como aliado fundamental no enfrentamento da ESCA.


De acordo com Eva Dengler, Superintendente de Programas da Childhood Brasil, a pesquisa ajuda a compreender a realidade da categoria e direcionar políticas públicas e privadas de forma mais assertiva. “O conceito do trabalho é simples: um caminhoneiro que está sendo cuidado e valorizado pode ser convidado a proteger os direitos humanos de crianças e adolescentes”, afirma.


O perfil e os desafios do trabalho precário

O estudo indica que o perfil continua sendo de profissionais homens, com cerca de 45 anos e tempo médio de profissão de 17 anos. 


A pesquisa mostra manutenção da precarização das condições de vida e trabalho, mesmo com a recuperação da renda nominal para R$ 6.000 em 2025 — após a queda para R$ 3.200 em 2021. O poder de compra atual, no entanto, (aproximadamente 4,0 salários mínimos) segue inferior ao registrado em 2010 (5,77 salários mínimos).


A qualidade de vida é fortemente impactada pela insegurança e violência nas rodovias, relatada por 73,8% dos entrevistados, pela má qualidade da infraestrutura viária (66,9%) e pelo longo tempo de afastamento da família (57%). Um dos principais fatores de risco é o longo tempo de espera para carga e descarga do veículo, que gera ociosidade forçada em locais sem infraestrutura. A maioria das paradas acontece em postos de combustível (76,6%).


As condições dos pontos de parada continuam sendo um problema crônico. As queixas se concentram na falta de banheiros limpos (80,0%) , falta de comida boa (70,0%) , falta de comida barata (63,5%), e falta de atendimento médico/odontológico (50,7%). Em paralelo, a demanda por acesso a internet é mencionada por 44,3% dos motoristas, e a necessidade de espaço para atividade física por 37,9%. 

Entre as mulheres caminhoneiras a condição dos banheiros (insalubridade e insegurança) é apontada como “o pior aspecto da profissão”, representando uma barreira para permanência na carreira.

O estigma social e a imagem da profissão

Um dado crítico, e consistente ao longo da série histórica da pesquisa, é que 86% dos caminhoneiros afirmam que a profissão é mal vista pela sociedade. Esse aspecto vai além da percepção dos profissionais e do impacto na qualidade de vida desses trabalhadores: ele influencia na desvalorização do setor e, consequentemente, na falta de atratividade da carreira. 


Maior conscientização e redução de envolvimento

A pesquisa demonstra que o trabalho de conscientização de duas décadas tem resultados positivos, mostrando uma redução contínua e significativa na autodeclaração de envolvimento dos caminhoneiros com a ESCA. Segundo os dados, 96% dos caminhoneiros entrevistados afirmaram não ter tido relações sexuais com crianças ou adolescentes nos últimos cinco anos, um aumento expressivo em relação aos 63% registrados na primeira edição, em 2005. Na amostra geral, a autodeclaração de envolvimento caiu para apenas 4% nesta edição, dado que chegou a 36,8% em 2005.


Este é um avanço considerável em relação aos dados das edições anteriores indica uma maior conscientização da categoria e reconhecimento do tema como uma violação grave.


A percepção da ESCA nas estradas

O avanço na conscientização e a significativa redução na autodeclaração de envolvimento direto têm uma contrapartida importante: os caminhoneiros demonstram maior sensibilidade para identificar o problema nas estradas e seguem atentos à realidade das rodovias: 78% percebem a ESCA como um problema ainda presente nas estradas brasileiras. 


O dado não indica aumento de prática entre caminhoneiros, mas sim maior capacidade de identificar e denunciar situações de risco, sinal de conscientização crescente”, ressalta Eva Dengler. 


Quase metade (54%) dos deles afirmam que é comum ver meninas exploradas sexualmente, e 43% relatam presenciar a exploração de meninos, um aumento considerável em relação aos 32% registrados em 2021. As regiões Nordeste e Norte continuam sendo apontadas como as áreas com maior relato do testemunho de situações de ESCA, reconhecidas como suspeitas ou de risco pelos caminhoneiros.


Contato direto com situações de risco

O contato direto com situações de ESCA também se mantém presente. O levantamento indica que 13,5% dos motoristas receberam oferta de programa sexual com crianças e adolescentes, enquanto 9% presenciaram exploração sexual de crianças e 11,5% de adolescentes. Em um sinal positivo de mudança de comportamento, a frequência de motoristas que viram colegas dando carona a crianças ou adolescentes caiu para 3,8% nos últimos cinco anos.


Crenças e desafios

Entre os participantes, 77,3% apoiam a redução da maioridade penal, 59,4% a pena de morte e 58,9% o direito ao porte de arma. Em relação à ESCA, cerca de 10% dos caminhoneiros ainda alegam que crianças e adolescentes “gostam de sexo”, e 21% afirmaram não ver isso como crime, tratando a questão sob uma ótica de julgamento moral ou culpabilizando a própria vítima. 


A principal causa atribuída ao envolvimento de crianças e adolescentes na ESCA é a necessidade financeira, citada por 77,2% dos participantes. O uso da internet para assistir a conteúdos pornográficos também é alto, com 17,4% dos participantes afirmando utilizar a ferramenta para este fim. Para fins profissionais, as principais plataformas usadas são YouTube (58,8%), WhatsApp (45,8%) e TikTok (25%), com 51,1% dos motoristas buscando informações de forma autônoma.


Além do cenário presencial das rodovias, a pesquisa aponta um alerta para os ambientes digitais como nova via de exposição a riscos e a necessidade de ampliar estratégias de prevenção  . De acordo com os participantes, 9,5% já receberam ofertas sexuais envolvendo crianças e adolescentes por canais digitais, e 7,7% afirmaram ter tido contato com material de conteúdo sexual com esse público online, muitas vezes de forma não ativa, especialmente em grupos e comunidades de aplicativos sem filtragem adequada, como Telegram e X (antigo Twitter).


O Impacto do Programa Na Mão Certa
O estudo demonstrou que o contato com o Programa Na Mão Certa está associado a maior sensibilidade a questões de gênero e exploração. A concordância com a afirmação de que “as mulheres devem obedecer aos homens” é significativamente menor entre aqueles que conhecem o Programa (11%) do que entre os que não conhecem (25%). No que diz respeito ao comportamento sexual, a busca por “Mulheres das comunidades por onde anda” foi citada por 9,2% dos que não conhecem o Programa, contra apenas 0,9% entre os que conhecem.


O levantamento contou com um recorde de 620 motoristas participantes e os resultados de 2025 incluíram novos recortes em rotas do agronegócio e áreas portuárias. 


Para a Superintendente de Programas da Childhood Brasil, esse aprofundamento permitirá ao Programa Na Mão Certa traçar estratégias customizadas e mais assertivas. “A união de esforços para erradicar a ESCA só é possível quando baseada em evidências, e nossa pesquisa tem contribuído de forma contínua para demonstrar os impactos positivos já alcançados, ao mesmo tempo em que lança luz sobre desafios, tanto novos quanto persistentes, que ainda precisamos superar”, reforça Eva Dengler.


Serviço: Lançamento da 5ª edição da pesquisa “O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro”

Data: 25 de novembro de 2025 (terça-feira)

Horário: 14h - 19h

Local: FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Av. Paulista, 1313 – Bela Vista, São Paulo/SP)

Evento: Encontro Anual do Programa Na Mão Certa

Realização: Childhood Brasil

Parceria: Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Sobre a Childhood Brasil
A Childhood Brasil faz parte da World Childhood Foundation, organização sem fins lucrativos criada em 1999, por Sua Majestade Rainha Silvia da Suécia. É pioneira em estimular, promover e desenvolver soluções para prevenir e enfrentar o abuso e a exploração sexual contra crianças e adolescentes no país. Foi reconhecida em 2021, 2022, 2023, 2024  e 2025 como uma das 100 Melhores ONGs do país. Para mais informações, acesse o site www.childhood.org.br.  

 





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