PUBLICIDADE

Ninho artificial vira alerta a turistas sobre fogo no Pantanal, diz pesquisador


PUBLICIDADE

14/12/2025 11h43

Ninho artificial vira alerta a turistas sobre fogo no Pantanal, diz pesquisador

Inara Silva


 Quem passa pela BR-262, entre Miranda e Corumbá, dificilmente fica indiferente ao enorme ninho de tuiuiús erguido sobre um poste, à beira da rodovia. De longe, a cena parece comum no Pantanal, mas a estrutura metálica que sustenta o ninho guarda uma história marcada pelo fogo e pela resiliência.

 
Fotógrafo flagra família de tuiuiú em ninho artificial na BR-262
Fotógrafo registra crescimento de filhotes de tuiuiú em Miranda
O ninho original era tombado como Patrimônio Histórico Natural pela Prefeitura de Corumbá. O ponto existia há pelo menos 20 anos e foi destruído pelas queimadas de setembro de 2020. O fogo consumiu toda a estrutura que sustentava a morada das aves, que ficava em um ipê de galhos largos no local.
 
“Toda vez que as pessoas olharem para o ninho artificial, imediatamente, elas vão lembrar que o ninho original foi perdido no incêndio. O ninho fica ali com um papel educativo, para não deixar as pessoas esquecerem do quanto as queimadas geram riscos”, afirma o pesquisador Walfrido Tomás, da Embrapa Pantanal, ao reforçar que o monumento ressignifica a presença das aves no local.
 
 
Ninho artificial vira alerta a turistas sobre fogo no Pantanal, diz pesquisador
Filhote de tuiuiú cresce em ninho às margens da BR (Foto: Eduardo Melo)
Reprodução – Atualmente, o local está ocupado por um casal de tuiuiús e três filhotes, que, segundo Walfrido, estão prestes a levantar voo. Esta é a segunda vez em que ocorre a reprodução desde a implantação da estrutura, em 2020. Em 2023, nasceram quatro filhotes, dos quais três sobreviveram. Em 2025, após chuvas que favoreceram a formação de lagoas e maior disponibilidade de alimento, o ninho voltou a prosperar.
 
Segundo o pesquisador, não há como afirmar que seja um único casal de tuiuiús, pois podem ser fêmeas diferentes. Ele explica que a espécie apresenta o hábito de mais de uma fêmea colocar ovos no mesmo ninho, o que torna possível essa alternância.
 
Ponto turístico – A ideia que contribuiu para o retorno das aves partiu do pesquisador, que é Mestre em Ciência da Vida Selvagem e Doutor em Ecologia e Conservação. Ao participar do levantamento de animais mortos pelas queimadas, Walfrido decidiu tentar garantir algum tipo de continuidade para aquele ponto tradicional.
 
Ele se inspirou em estruturas usadas na Europa para cegonhas, parentes próximos do tuiuiú, e elaborou um projeto de ninho artificial. A proposta recebeu apoio da Fundação de Meio Ambiente de Corumbá e da Energisa, que construiu a estrutura com materiais de torres de energia.
 
Erguido em outubro de 2020, o ninho artificial replica a posição e a altura do anterior, com um poste de concreto de 12 metros e uma plataforma metálica hexagonal de dois metros de diâmetro no topo. Ali, galhos e fibras foram depositados como convite para que o casal retornasse. Demorou alguns meses, mas funcionou.
 
Em abril de 2021, os tuiuiús começaram a pousar na estrutura. A partir daí, o pesquisador passou a acompanhar a evolução com visitas quinzenais. Nem todos os anos tiveram reprodução, pois períodos de seca severa, como 2021, 2022 e 2024, inviabilizaram a postura. No entanto, o ninho tem sido reforçado, ano a ano, pelas próprias aves, fiéis ao local de nidificação.
 
 
Família de tuiuiús vive em ninho artificial às magens da BR-262. (Foto: Eduardo Melo)
Movimento – O pesquisador explica que o movimento intenso da BR-262 nunca foi problema para as aves. A preocupação maior é com o comportamento das pessoas. “Gritos, buzinas e especialmente drones podem espantar os pais. Quando isso acontece, urubus e carcarás predam os filhotes rapidamente”, alerta.
 
Foi provavelmente esse tipo de distúrbio que resultou na perda da primeira postura de 2025.
 
“Esses cuidados são especialmente necessários na fase de incubação dos ovos e quando os filhotes ainda são pequenos e vulneráveis”, acrescenta o pesquisador.
 
Para reduzir os riscos, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) instalou um radar em frente ao ninho. Walfrido elogia a iniciativa, mas defende que a velocidade seja reduzida de 80 para 60 km/h, já que muitos motoristas param para observar e fotografar as aves, aumentando o potencial de acidentes.
 
 




PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
  • academia374
  • Nelson Dias12
PUBLICIDADE