O Março Amarelo destaca a importância de conscientizar a população sobre uma doença que afeta uma em cada dez mulheres no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. No mundo, a endometriose atinge aproximadamente 176 milhões de mulheres, sendo mais de 7 milhões no país, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A endometriose é uma condição benigna, inflamatória e crônica, caracterizada pela presença de tecido endometrial fora do útero. Entre os principais sintomas estão cólicas menstruais intensas, dor durante as relações sexuais, dor ao evacuar ou urinar, dor lombar e infertilidade. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações, como dor crônica e infertilidade, além de impactos negativos na qualidade de vida, incluindo desempenho escolar, profissional e relações pessoais.
Desafios no diagnóstico e tratamento
Um dos principais desafios no enfrentamento da endometriose é a dificuldade de diagnóstico. De acordo com a ginecologista Denise Lara, do Hospital Mater Dei Santa Clara, o diagnóstico precoce permite que as pacientes recebam tratamento adequado mais cedo, o que pode ajudar a aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e, em alguns casos, preservar a fertilidade.
“Os principais desafios para identificar a endometriose incluem a variabilidade dos sintomas, que podem ser confundidos com outras condições, como a síndrome do intestino irritável ou dor pélvica crônica. Muitas mulheres também podem não relatar seus sintomas, por considerá-los normais ou por medo de estigmas associados”, afirma a médica. Além disso, a falta de conhecimento sobre a doença entre profissionais de saúde pode resultar em diagnósticos tardios. “Portanto, aumentar a conscientização sobre a endometriose e melhorar a formação dos profissionais de saúde são passos importantes para superar esses desafios e promover um diagnóstico mais rápido e eficaz”, acredita Dra. Denise.
Avanços no tratamento
O tratamento da endometriose exige uma abordagem personalizada para cada paciente e pode incluir abordagens clínicas, como medicamentos para controle da dor e da inflamação, e cirúrgicas, como a videolaparoscopia e a cirurgia robótica. Segundo a Dra. Denise, a identificação da doença é realizada por meio de exames clínicos, ultrassonografias especializadas e, em casos mais complexos, ressonância magnética ou laparoscopia. "A avaliação cuidadosa dos sintomas e do histórico médico da paciente é essencial para definir o melhor caminho terapêutico", destaca a especialista.
Após o diagnóstico, as opções de tratamento variam de acordo com a gravidade da doença, o desejo de gestação da paciente e a intensidade dos sintomas. "O tratamento pode incluir desde medicamentos para controle da dor até terapias hormonais e, em casos mais severos, intervenções cirúrgicas", explica a ginecologista. Para mulheres que desejam engravidar, é possível oferecer alternativas como a fertilização in vitro (FIV), especialmente em casos avançados.
O acompanhamento contínuo é fundamental para monitorar a evolução da doença e ajustar o tratamento, conforme necessário. "Consultas periódicas nos permitem avaliar a resposta ao tratamento e adaptar as abordagens terapêuticas, garantindo o bem-estar da paciente", reforça Dra. Denise.
Abordagem multidisciplinar
Na visão da Dra. Denise, um cuidado multidisciplinar, envolvendo nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, pode trazer benefícios adicionais, abordando aspectos físicos, emocionais e sociais da endometriose.
A nutrição e a atividade física desempenham um papel fundamental no manejo da endometriose, ajudando a reduzir a inflamação e a aliviar os sintomas da doença. Segundo a ginecologista, uma alimentação rica em alimentos anti-inflamatórios, como frutas, cereais integrais e peixes, pode contribuir para a melhora do bem-estar. O consumo de ácidos graxos ômega-3, presentes no salmão e na sardinha, também auxilia na redução da dor e da inflamação. Por outro lado, evitar alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras trans, é essencial para evitar o agravamento dos sintomas.
Além da alimentação, a prática regular de exercícios físicos é uma aliada importante. “Atividades como caminhadas, yoga e outras modalidades de baixo impacto ajudam a melhorar a circulação sanguínea na região pélvica, reduzir a dor e aliviar o estresse, um fator que pode intensificar os sintomas da endometriose. A liberação de endorfinas durante a prática esportiva também contribui para o controle da dor e para o bem-estar emocional”, diz a médica. Dessa forma, uma abordagem integrada, combinando nutrição adequada e atividade física regular, pode proporcionar uma melhor qualidade de vida para mulheres com endometriose.
Conscientização e acesso
A campanha do Março Amarelo reforça a necessidade de ampliar o acesso a informações e tratamentos adequados para as mulheres com endometriose. A conscientização sobre os sintomas e a importância do diagnóstico precoce são passos fundamentais para reduzir o impacto da doença na vida das pacientes. Além disso, políticas públicas que facilitem o acesso a exames especializados e tratamentos de qualidade são essenciais para mudar o cenário atual.
Por fim, a Dra. Denise Lara destaca a importância da informação e do apoio às pacientes. “A educação sobre a endometriose permite que as mulheres compreendam melhor sua condição e tomem decisões fundamentadas sobre seu tratamento. Nosso objetivo é oferecer um cuidado integral, que promova qualidade de vida e bem-estar para cada mulher”.
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