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E-commerce Cross-border no Brasil: desafios e oportunidades no cenário de guerra comercial e taxação


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  • mell280

07/08/2025 11h45

E-commerce Cross-border no Brasil: desafios e oportunidades no cenário de guerra comercial e taxação

Julia Dal


Por Annia Melissa Lopez Gastelum*

O mercado de e-commerce cross-border no Brasil tem evoluído rapidamente, consolidando-se como uma alternativa atrativa para consumidores em busca de produtos exclusivos, preços competitivos e experiências de compra globais. No entanto, o cenário global de tensões comerciais – marcado pela guerra tarifária entre Estados Unidos e China e pelas políticas protecionistas americanas – está redesenhando as dinâmicas de competitividade e pagamentos no país, gerando tanto oportunidades quanto desafios para os diversos players do setor.

A imposição de tarifas elevadas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses, que chegam a até 104%, e as retaliações da China, com aumentos tarifários que alcançam 125% sobre produtos americanos, têm provocado mudanças no fluxo global de mercadorias. Forçadas a buscar novos mercados, empresas desses países enxergam o Brasil como destino estratégico, o que abre espaço para a entrada de uma ampla gama de produtos a preços potencialmente competitivos. Para o consumidor brasileiro, isso significa maior acesso a eletrônicos, têxteis e outros itens antes restritos ou mais caros. Por outro lado, a presença maciça de produtos internacionais pode ameaçar indústrias locais já pressionadas por altos custos de produção e pela complexa estrutura tributária, afetando setores como o de calçados e têxteis.

Paralelamente, o Brasil também se posiciona como fornecedor estratégico de commodities. A China, por exemplo, intensificou a importação de soja e carne brasileiras para substituir produtos agrícolas americanos, reforçando a posição do país como parceiro comercial relevante. No entanto, é essencial que essas oportunidades se traduzam em investimentos estruturais e em maior competitividade para empresas locais.

Apesar do forte crescimento – em 2019, o segmento movimentou R$ 12,9 bilhões –, o e-commerce cross-border no Brasil enfrenta barreiras importantes. A tributação é o principal entrave: o país aplica uma tarifa de 60% sobre compras internacionais acima de US$ 50, além de impostos estaduais como o ICMS. Essa carga, somada a custos logísticos e taxas adicionais, pode tornar os produtos menos acessíveis. Soma-se a isso a burocracia alfandegária e a fiscalização rigorosa da Receita Federal, que atrasam entregas e geram custos extras para consumidores e vendedores.

Outro ponto crucial para o sucesso do modelo é a adaptação às preferências do consumidor brasileiro, que valoriza praticidade, flexibilidade nos pagamentos e segurança nas transações. A integração de métodos de pagamento locais, como o PIX, tem sido decisiva, assim como soluções como o BNPL (Buy Now, Pay Later) e o parcelamento em cartões nacionais. Marketplaces como AliExpress, Shein e Shopee já compreenderam essas necessidades e vêm investindo em promoções agressivas, fretes competitivos e soluções logísticas. No entanto, para consolidar sua presença, também é necessário mitigar problemas relacionados a atrasos e custos alfandegários.

Enquanto isso, o comércio eletrônico local tem se fortalecido. Plataformas como Mercado Livre apostam em entregas rápidas, promoções e na incorporação de produtos importados aos seus catálogos, reduzindo a dependência do modelo cross-border. A digitalização crescente do consumidor e os avanços logísticos também impulsionam o e-commerce nacional, que vem se consolidando como alternativa competitiva e eficiente.

Diante desse cenário, o e-commerce cross-border no Brasil encontra-se em uma encruzilhada. O redirecionamento de mercadorias provocado pela guerra comercial e o aumento da digitalização oferecem grande potencial de crescimento. Ao mesmo tempo, os entraves tributários, a burocracia e a concorrência com o e-commerce local exigem estratégias claras. Para empresas internacionais, adaptar-se ao mercado brasileiro, investir em meios de pagamento locais, logística eficiente e oferecer produtos exclusivos será essencial. Já para o Brasil, o momento pede um fortalecimento de sua posição estratégica no comércio global, transformando oportunidades em investimentos e desenvolvimento econômico. Navegar por essas transformações com inteligência e agilidade será determinante para liderar o mercado na próxima década.

*Especialista em inteligência de mercado e pagamentos cross-border LATAM e gerente de Growth Marketing da WEpayments


 





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