O agronegócio brasileiro, tradicional motor da economia nacional, vive um momento de alerta. Dados divulgados por institutos de análise empresarial e jurídica mostram que os pedidos de recuperação judicial feitos por produtores rurais dispararam em 2025. Apenas no primeiro semestre, 700 solicitações foram protocoladas em todo o país, um salto de 45% em relação ao mesmo período de 2024.

O panorama do primeiro trimestre de 2025 já apontava para esse agravamento: 389 pedidos foram registrados, representando uma alta de 44,6% em relação ao ano anterior e de 21,5% comparado ao último trimestre de 2024, de acordo com levantamento da Serasa Experian. No segundo trimestre, os números se mantiveram em patamar elevado, confirmando a tendência de crescimento.

Segundo Rodrigo Totino, advogado e sócio do escritório Tríade Administração Judicial, que atua diretamente como administrador judicial em processos de recuperação e falência no setor, a crise é reflexo de uma combinação de fatores que inclui alta dos insumos, juros elevados, eventos climáticos extremos e a desvalorização das commodities.

“O modelo de expansão agrícola baseado em crédito e alavancagem, sem o devido preparo técnico e jurídico, criou uma armadilha para muitos produtores. O que parecia um ciclo de prosperidade se converteu rapidamente em uma crise de liquidez”, afirma Totino.

O cenário também se reflete nos índices de inadimplência. Segundo o Banco do Brasil, no segundo trimestre de 2025, 3,49% da carteira agrícola da instituição estava inadimplente, o maior índice da série histórica. Em 2024, esse número era de 2,45% e, em 2023, de apenas 0,96%. A escalada mostra que o problema deixou de ser pontual para se tornar estrutural.

Totino destaca ainda que, apesar do aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial, essa não é a primeira opção buscada pelos produtores. “Antes de optar pela judicialização, muitos tentam renegociar dívidas e explorar alternativas como a mediação ou a recuperação extrajudicial. Mas, quando o fluxo de crédito seca e a pressão dos credores se intensifica, a recuperação judicial passa a ser o único caminho possível para manter a atividade em pé”, explica.

Movimentação regional

A região Norte e o norte do Mato Grosso, principais áreas de atuação da Tríade, têm se tornado polos de atenção no cenário nacional. “Em Rondônia, há poucos anos não existiam casos de produtores rurais em recuperação judicial. Hoje, o escritório já foi nomeado administrador judicial em dois grandes casos apenas no primeiro trimestre deste ano, o que mostra a velocidade dessa transformação”, diz Totino.

A transição de áreas tradicionalmente pecuaristas para o cultivo de grãos, especialmente soja e milho, exigiu investimentos intensivos, muitas vezes financiados com garantias frágeis. A queda nos preços das commodities, aliada à variação cambial e à falta de proteção contratual, expôs os produtores a uma vulnerabilidade inédita.

Segundo Totino, é fundamental desmistificar a recuperação judicial. “Ela não é sinônimo de falência, mas de reorganização. Ao entrar em RJ, o produtor é obrigado a se profissionalizar, estruturar seu modelo de negócio e renegociar com os credores. É um processo que, embora doloroso, pode representar um recomeço sólido e sustentável.”

Rodrigo Totino é administrador judicial na Tríade Administração Judicial.

Sobre a Tríade Administração Judicial: empresa especializada na função de administrador judicial, atuando com experiência de mais de 15 anos e conduzindo mais de R$ 1 bilhão em passivos em processos de recuperação judicial e falência no país. Atua com equipe técnica e multidisciplinar (advogados, contadores, administradores e engenheiros) e com envolvimento direto dos sócios na condução dos casos. É reconhecida por sua atuação transparente e comprometida na gestão de processos complexos.