- mell280
18/11/2025 08h31
Uma crítica social sobre o apagamento das mulheres
Romance de Amélia Greier revela a invisibilidade feminina diante da precarização do trabalho e das relações que reduzem o valor humano à utilidade meramente econômica
O trabalho doméstico e de cuidados não remunerado, realizado na maioria por mulheres, movimenta o equivalente a US$ 10,8 trilhões por ano, segundo a Oxfam International – e, ainda assim, permanece invisível. No interior dessa economia oculta, feita de tempo, corpo e silêncio, nasce O peso da inexistência, da escritora Amélia Greier: um retrato social do apagamento das figuras femininas que sustentam a vida cotidiana, mas seguem fora das estatísticas, dos cargos e do reconhecimento.
É nesse lugar não reconhecido pela sociedade que a autora posiciona a protagonista do romance: uma mulher sem nome, reduzida a papéis transitórios em meio à crise econômica e ao avanço da automação – a mãe, a esposa, a doceira, a operadora de caixa, a passeadora de cães. Entre jornadas exaustivas, a personagem alterna trabalhos precários para manter a casa e os três filhos pequenos, enquanto o marido, engenheiro desempregado, tenta se adaptar a um mercado dominado por algoritmos.
É uma história construída a partir de gestos ordinários, como preencher um formulário, preparar o café, vender doces, mas que revelam o colapso silencioso de quem movimenta o mundo sem ser vista. Nesse cenário de ficção, o cotidiano doméstico e a ausência de tempo para si revelam uma crítica direta à realidade da desvalorização do cuidado como forma legítima de trabalho.
A obra ainda aborda temas sensíveis como desigualdade de gênero, exploração laboral, esgotamento emocional e o impacto da tecnologia sobre as oportunidades de emprego e a dignidade humana. Ao retratar uma mulher submetida a múltiplas funções, a autora expõe o custo humano da produtividade desenfreada e questiona as narrativas sociais que determinam quem “existe” e quem permanece ignorado.
O ponto de virada do enredo acontece quando a protagonista recebe uma proposta financeira duvidosa que coloca à prova seus valores. A recusa, marcada pela frase “não sou qualquer pessoa”, sintetiza a resistência ética de se negar a aceitar a própria desumanização. Assim, o desfecho desloca o sentido de identidade: a mulher finalmente compreende que seu valor não depende de títulos ou cargos, mas da própria existência em um mundo que tenta lhe apagar.
Com estrutura realista, linguagem direta e uma experiência de leitura imersiva, Amélia Greier utiliza uma prosa fluida e poética, marcada por diálogos internos que traduzem o peso da rotina e da sobrevivência de tantas mulheres brasileiras.
Ficha técnica:
Título: O peso da inexistência
Editora: PodLetras
Autora: Amélia Greier
ISBN: 978-65-01-14674-4
Formato: 20 x 13 cm
Páginas: 169
Preço: R$ 35,00 (físico), R$5,90 (ebook Amazon), gratuito no Kindle Unlimited
Onde encontrar: Amazon
Sobre a autora: Amélia Greier é o pseudônimo literário de Carolina Frutuozo, escritora paulistana radicada em São Carlos (SP). Recebeu, em 2019, a medalha Adélia Prado da Academia Feminina Mineira de Letras pelo conto Retirantes. Em 2024, foi finalista do VII Concurso Internacional de Microrrelatos, promovido pelo Museo de La Palabra, em Madrid, com o texto The Lamplighter. No mesmo ano, venceu o 2º Concurso de Contos PodLetras com Pano de Fundo, que lhe garantiu a publicação de seu primeiro romance, O peso da inexistência.
Instagram: @ameliagreier
![]() Divulgação | Amélia Greier |
![]() Por Andrea Drittlhuber |




