19/12/2025 15h24
Manoel de Barros, 109 anos: um Natal permanente feito de generosidade, ética e infância
ASSESSORIA DE IMPRENSA CONTEXTO MÍDIA
Homenagens ao poeta ao longo de dezembro, encerrando com uma noite especial no Museu Casa Quintal, capturando o espírito "manoelino" de celebração marcaram os seus 109 anos.
As atividades contaram com uma palestra do jornalista e escritor Bosco Martins, autor do livro "Diálogos do Ócio", para cerca de 300 alunos do 5º ano do Colégio Oswaldo Tognini (Funlec). Os estudantes celebraram o poeta com desenhos e poesia inspirados em sua literatura. O livro de Martins é referência para estudiosos e tem testemunhado a imersão de jovens na obra de Barros, também observada em outras instituições, como a Escola Municipal Oliva Enciso. Lá, uma exposição reuniu versos, desenhos, objetos e móveis que reproduziam o ambiente do poeta, incluindo o sofá e a icônica máquina de escrever sobre sua escrivaninha.
"Um espírito permanentemente natalino"
Em sua fala, Bosco Martins descreveu o amigo: "Conheci em Manoel de Barros um espírito permanentemente natalino que brincava dizendo ser um ‘espírito manoelino’. Nele reinava a generosidade e uma alegria mansa que iluminava o seu entorno. Manoel carregava consigo essa atmosfera rara de amor, paz, união e esperança — como se o Natal não fosse um dia, mas um estado de ser."
O jornalista destacou traços marcantes do poeta: "O Nequinho que conheci por décadas — assim chamado com ternura pela família — era, além do poeta que amamos, um ser imenso em simpatia, empatia e generosidade. Tinha um vocabulário grandioso como o dia pantaneiro, um sorriso largo e inesquecível, e o dom raro de ser excelente companhia."
Roda de conversa virtual atrai centenas
Na quarta-feira (17), o Observatório do Livro de Ribeirão Preto (SP) promoveu uma roda de conversa virtual com centenas de integrantes de um clube do livro. Bosco Martins, participando do evento, destacou pilares essenciais da vida e da obra de Manoel de Barros:
· O Poeta e a Ética: Narrou um episódio em que Barros, ainda advogado, recusou-se a defender um cliente que confessara fraude. "‘Desisto do caso. Não vou defender essa mentira. A invenção de que gosto é outra’". Para Martins, "aí está uma chave essencial da sua obra: há uma invenção que aprisiona e outra que liberta."
· Os Dois Manoéis:
Comentou a dualidade entre o homem que partiu em 2014 e o "Manoel-letral", que se tornou "o corpo da palavra", onde os leitores se reencontram.
· Stella, Alma Gêmea:
Enfatizou o papel decisivo de Stella, companheira do poeta por quase 60 anos, como sua leitora mais severa e honesta, essencial no processo criativo.
· Infância e Velhez: Relembrou que Barros, já octogenário, afirmou só ter tido infâncias, nunca velhez. Para ele, infância era um "estado de linguagem, de espanto", enquanto a velhez representava a perda da capacidade de criar.
Obra resiste e cativa na era digital
Questionado sobre o impacto do mundo digital na literatura, Martins observou que "a tecnologia altera, sobretudo, nossa relação afetiva com a palavra". No entanto, destacou que a obra de Barros continua a catalisar admiradores, especialmente entre os jovens. "É impressionante a força de sua poesia... principalmente com os adolescentes", afirmou. "Por ser um poeta que sempre cultuou a infância, Manoel de Barros leva o leitor a se reencontrar."
Noite de encerramento no Museu Casa Quintal
As celebrações dos 109 anos do poeta culminam nessa sexta-feira (19), data de nascimento do poeta, com uma noite especial no Museu Casa Quintal, sua antiga residência em Campo Grande. O evento "Celebre conosco os 109 anos de Manoel de Barros" promete "uma noite de arte, música e poesia para honrar quem transformou o banal em beleza".
A programação conta com o show solo de Raphael Vital, o tradicional varal de poesias da atriz Ramona Rodrigues e uma mostra da artista visual Isabê, premiada e mestre em Estudos de Linguagem pela UFMS. O evento ocorre das 19h às 22h, na Rua Piratininga, 363, com ingressos disponíveis no site Sympla.
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