- mell280
01/04/2025 13h07
Saiba qual é a importância do vazio sanitário da soja
A técnica, adotada para diferentes culturas no país, é utilizada para o controle de uma das doenças mais comuns nas lavouras de soja: a ferrugem asiática.
O que é o vazio sanitário da soja?
O vazio sanitário da soja é o período de ausência da cultura da soja e plantas voluntárias (a soja guaxa, que nasce em decorrência da perda de grãos, que germinam no solo sem planejamento prévio) na lavoura.
A técnica é adotada na entressafra, período entre o início de uma safra e outra, para o combate à doença ferrugem asiática. A duração mínima do vazio sanitário é de 90 dias.
No Brasil, vinte estados e o Distrito Federal adotam o vazio sanitário da soja. Cada unidade federativa possui seu próprio calendário, definido pelos órgãos de defesa sanitária vegetal de acordo com a realidade do local e as diretrizes do governo federal.
Para que serve o vazio sanitário da soja?
Durante o vazio sanitário da soja, os produtores devem manter o solo sem atividade agrícola da cultura. O objetivo é que esse período de “repouso” possibilite o controle da ferrugem asiática, doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi e que ataca lavouras de diversas culturas.
A ausência de plantas interrompe o ciclo de reprodução e desenvolvimento do Phakopsora pachyrhizi, que é um fungo biotrófico — ou seja, um organismo que obtém os nutrientes das células vivas de um hospedeiro.
No caso, os hospedeiros dos Phakopsora são as plantas da soja. Nelas, eles se desenvolvem e produzem os esporos, pequenas estruturas utilizadas na reprodução dos fungos, que ocorre de modo assexuado.
Por serem estruturas pequenas e leves, os esporos conseguem ser facilmente disseminados pelo vento, cobrindo uma longa distância. Dessa forma, eles chegam até outras plantas de soja e nelas, se instalam e iniciam novamente o ciclo de reprodução.
É aí que entra o vazio sanitário da soja. Sem as plantas, os esporos não encontram seus principais hospedeiros, o que prejudica o ciclo de reprodução e, consequentemente, a proliferação do fungo na lavoura.
Desse modo, com menos esporos no solo durante o período de semeadura, há menos possibilidade de ocorrência da ferrugem asiática nos estádios iniciais de desenvolvimento da soja.
Assim, com esse atraso da doença na lavoura, serão necessárias menos aplicações de fungicidas, o que beneficia o produtor — ele comprará menos agrotóxicos e consequentemente, terá menos gastos com a pulverização dos produtos.
O que é a ferrugem asiática?
Como vimos acima, a ferrugem asiática é a doença causada fungo Phakopsora pachyrhizi. Diagnosticada pela primeira vez no Brasil em 2001, ela provoca a desfolha — eliminação de folhas secas e amareladas — precoce da soja, o que prejudica a formação dos grãos e, consequentemente, reduz a produtividade da lavoura.
O desenvolvimento do Phakopsora pachyrhizi na soja é beneficiado por algumas condições. Segundo a unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária voltada para a cultura (Embrapa Soja), a infecção na planta depende da disponibilidade de água livre na superfície da folha.
Além disso, temperaturas entre 15ºC e 28ºC e chuvas bem distribuídas ao longo da safra são condições favoráveis para que o Phakopsora pachyrhizi infecte a planta. O máximo da infecção costuma ocorrer em 10 a 12 horas de molhamento foliar.
O fungo começa a se manifestar com pequenos pontos de coloração mais escura na parte inferior da folha (como na imagem acima). Chamados de urédias, são nestes locais que o fungo produz seus esporos.
Conforme o Phakopsora pachyrhizi se desenvolve na planta, a coloração das urédias, que começa castanho-claro, fica mais escura. Esses pontos também passam a ocupar mais espaço da folha de soja.
Qual é a importância do vazio sanitário da soja?
De acordo com o Consórcio Antiferrugem, parceria público-privada para o combate à doença no país, a ferrugem asiática possui um custo médio de USS$ 2,8 bilhões por safra de soja no Brasil. Este valor é decorrente da compra e aplicação de fungicidas, que são necessários para impedir o desenvolvimento do fungo na lavoura.
Dessa forma, para diminuir o uso de agrotóxicos, o governo federal definiu o vazio sanitário da soja como uma das principais estratégias para manejo da doença.
Além dele, outras técnicas podem ser utilizadas de forma conjunta. No comunicado com boas práticas para o enfrentamento da ferrugem asiática na soja, a Embrapa também recomenda estratégias como cultivares com gene de resistência e a semeadura em um período específico.
Outra medida é o monitoramento dos casos da doença no país, feito pelo Consórcio Antiferrugem.
No site da iniciativa, é possível acompanhar as incidências da ferrugem asiática em todo o país por meio de um mapa interativo. Nele, você consegue visualizar o número de ocorrências por ano da safra e/ou estado, separadas por soja graxa (plantas voluntárias, em amarelo) e safra comercial (em vermelho).
O que é e como funciona o calendário de semeadura da soja?
O calendário de semeadura da soja, assim como o vazio sanitário, é uma medida fitossanitária obrigatória para controle da ferrugem asiática.
A definição desse período é feita de forma anual e com base no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), estudo que identifica regiões e épocas de menor risco climático para o plantio e semeadura das culturas. Para tal, são considerados diversos fatores, como a região do país, a cultura em questão e os diferentes tipos de solos.
No caso do Zarc da soja, a definição das áreas e períodos de semeadura simulam a probabilidade de perdas de rendimento inferiores a 20%, 30% e 40% devido à ocorrência de eventos meteorológicos adversos.
Desse modo, com o Zarc, o objetivo é contribuir para a expansão das áreas agrícolas, reduzir perdas de produtividade, garantir estabilidade da produção e, também, refrear a aplicação de fungicidas, o que ajuda a reduzir os riscos do Phakopsora pachyrhizi desenvolver resistência a esses produtos.