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05/02/2025 09h01
Tarcísio de Freitas e a Estratégia do Jogo Parado
Governador de São Paulo aposta na discrição e na força dos bastidores para definir seu destino político rumo a 2026
Por Elias Tavares, Cientista Político
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, tem demonstrado um refinado senso estratégico que o coloca em posição de destaque para os próximos capítulos da política nacional. Em um cenário onde a pressa e a exposição prematura se revelaram armadilhas para muitos, o governador opta por uma postura de cautela e cálculo — uma estratégia que alguns chamam de “jogo parado”. Essa escolha não é sinônimo de inércia, mas de uma movimentação tática que prioriza a solidez dos bastidores e o fortalecimento de sua imagem, mantendo o foco no presente enquanto se prepara para os desafios de 2026.
A trajetória de João Doria serve de alerta para os riscos de se antecipar demais. Ao assumir o governo de São Paulo, Doria expôs suas ambições nacionais logo nos primeiros meses, o que gerou a percepção de que seu compromisso com o Estado estava em segundo plano. Essa postura contribuiu para um desgaste considerável de sua imagem, culminando em isolamento político e dificuldades para consolidar uma candidatura presidencial. Tarcísio, por sua vez, tem evitado essa armadilha ao concentrar seus esforços na gestão do Estado e em construir uma base sólida de apoio, sem revelar suas intenções nacionais de forma precoce.
O respaldo partidário é outro pilar fundamental dessa estratégia. O Republicanos, partido de Tarcísio, tem experimentado um crescimento significativo, dobrando o número de prefeituras conquistadas nas últimas eleições e reforçando sua presença na cena política. A eleição de Hugo Motta para a presidência da Câmara dos Deputados ilustra a força e a articulação do partido, que agora se posiciona como um ator relevante tanto no cenário estadual quanto no nacional. Essa evolução fortalece o posicionamento do governador, ampliando seu acesso a recursos e apoio político que podem ser decisivos, seja para uma candidatura presidencial ou para uma reeleição com larga vantagem em São Paulo.
Além do fortalecimento institucional, Tarcísio conta com o apoio de segmentos estratégicos, em especial o eleitorado evangélico. Com uma base fortemente ligada à Igreja Universal, esse segmento tem se mostrado decisivo nas últimas eleições, evidenciando seu potencial de mobilização e influência. Se, no melhor cenário, Tarcísio vier a se tornar a principal opção da direita para 2026, seu alinhamento com pautas conservadoras e seu histórico de eficiência administrativa podem convergir para criar uma candidatura robusta e competitiva.
Em suma, a estratégia de “jogar parado” adotada por Tarcísio de Freitas reflete um profundo entendimento do cenário político atual. Ao evitar os riscos de uma exposição prematura, ele protege sua imagem e seu mandato, garantindo ao mesmo tempo um caminho de baixo risco e alto retorno. Seja consolidando uma reeleição tranquila em São Paulo ou emergindo como o principal nome da direita rumo a 2026, Tarcísio demonstra que, na política, a paciência e o timing adequado são tão importantes quanto a ambição. Essa abordagem cuidadosa e calculada pode, de fato, definir o futuro político do governador e transformar sua trajetória em um exemplo para a gestão pública nacional.